O mandado de citação, revelado pela AFP, pede ao Tribunal de Grande Instância de Paris que "ordene a suspensão da eleição do presidente da FIA (prevista para 12 de dezembro no Uzbequistão) até que seja tomada uma decisão sobre o mérito deste litígio". Uma primeira audiência foi marcada para 10 de novembro, no Supremo Tribunal.
Alteradas em junho pela atual direção, as regras que regem a eleição exigem que os candidatos apresentem uma lista de sete vice-presidentes das seis regiões do mundo (dois da Europa, um da América do Norte, um da América do Sul, um do Médio Oriente e Norte de África, um de África e um da Ásia-Oceânia), escolhidos a partir de uma lista aprovada pela FIA.
No entanto, apenas uma representante da América do Sul figura nesta lista, Fabiana Ecclestone, a esposa de Bernie Ecclestone, o antigo presidente da F1. Fabiana aceitou fazer parte da lista do presidente cessante, que está a concorrer à reeleição.
"Nestas condições, nenhuma lista concorrente poderia incluir, entre os seus sete vice-presidentes, um vice-presidente para a região da América do Sul, uma vez que este último já se encontrava na lista do presidente cessante", observou Laura Villars no seu mandado de citação, que denunciava uma "violação do princípio da democracia associativa e do pluralismo previstos (nos) estatutos da FIA".
"Uma corrida de um cavalo só"
O prazo para apresentação de candidaturas terminou a 24 de outubro.
"Fiz duas tentativas para encetar um diálogo construtivo com a FIA sobre questões fundamentais, como a democracia interna e a transparência das regras eleitorais. As respostas recebidas não estiveram à altura das questões em causa", explicou Laura Villars, em declarações à AFP.
"Não estou a agir contra a FIA, estou a agir para a preservar. A democracia não é uma ameaça para a FIA, é a sua força", continuou a piloto e empresária de 28 anos que, ao anunciar a sua candidatura em setembro, disse à AFP que queria revigorar o organismo centenário "dando destaque aos jovens e às mulheres".
Com sede em Paris, a FIA é responsável pela organização dos Campeonatos do Mundo de Fórmula 1 e de Ralis, bem como pela promoção da segurança rodoviária. Tem mais de 240 clubes em 146 países, com cerca de 80 milhões de membros.
O advogado de Laura Villars, Robin Binsard, acrescentou: "Obtivemos autorização para proceder à citação por hora certa, no âmbito de um processo de urgência, o que demonstra que os tribunais estão a analisar de perto as graves falhas democráticas da FIA, bem como as diversas violações dos estatutos e dos regulamentos que denunciamos."
A questão da impossibilidade de se candidatar às eleições já tinha sido levantada em meados de outubro, à margem do Grande Prémio dos Estados Unidos de Fórmula 1, em Austin, pelo americano Tim Mayer, antigo comissário desportivo da FIA, que também se candidatava à presidência.
"O processo eleitoral da FIA favorece muito a atual equipa e os outros candidatos nem sequer têm hipótese de chegar à linha de partida. É uma corrida de um cavalo só", afirmou, denunciando uma "ilusão de democracia".
Antigo piloto de ralis, Mohamed Ben Sulayem sucedeu ao francês Jean Todt, no final de 2021. O seu primeiro mandato foi turbulento. Em particular, alienou os pilotos de F1 e de ralis ao impor pesadas multas pelo uso de linguagem imprópria durante as transmissões televisivas. Perante os protestos contra esta medida, acabou por decidir reduzir as coimas para metade.
Em abril, Robert Reid, vice-presidente da FIA responsável pelo desporto, e colaborador próximo de Ben Sulayem, demitiu-se após ter criticado fortemente a governação do presidente e denunciado a falta de transparência.
