Agora ou nunca para Norris
Lando Norris passou os últimos dois anos a tentar recuperar terreno, primeiro para Max Verstappen e depois para Oscar Piastri, na ambição de se tornar campeão do mundo. Mas agora, finalmente, o destino está totalmente nas suas mãos.
O britânico protagonizou um dos melhores fins de semana da sua carreira na Cidade do México, dominando por completo do início ao fim, e como recompensa alcançou o topo da classificação pela primeira vez desde abril. Desta vez, só precisa de manter a liderança durante mais quatro corridas.
Tem mais pontos, o melhor carro e um colega de equipa em má forma. Deveria conquistar o título a partir daqui, mas será que vai conseguir? Como sempre aconteceu, a questão é mais mental do que de capacidade.
Não creio que seja coincidência que a sua melhor sequência da época tenha surgido após um abandono que levou muitos, eu incluído, a descartarem as suas hipóteses. Livre do peso das expectativas, conseguiu brilhar. A preocupação é que, quando carregou esse peso no passado, acabou por vacilar, e agora a pressão é maior do que nunca.
No fundo, estas últimas quatro rondas podem definir a sua carreira. Se conquistar o primeiro título, nunca mais vai voltar a sentir tanta pressão e poderá somar mais troféus. Se falhar, a pressão só aumentará, e não há garantias de que voltará a estar numa posição tão favorável.
Daqui a alguns anos, será o seu nome mencionado ao lado de Felipe Massa e Mark Webber, pilotos que desperdiçaram uma grande oportunidade de serem campeões do mundo e nunca mais tiveram outra? Ou irá inscrever o seu nome nos livros de história ao lado de Lewis Hamilton, Ayrton Senna e outros campeões da McLaren?
É uma questão que vai definir o seu legado, e que pode responder já.
A capitulação de Piastri
Há menos de dois meses, escrevi que o fim da luta pelo título estava à vista, praticamente certo de que Piastri iria vencer. Agora, cinco corridas depois, já nem lidera.
Talvez tenha sido demasiado precipitado na altura, mas parecia mesmo impossível que ele deixasse escapar a vantagem de 34 pontos que tinha após o Grande Prémio dos Países Baixos. O facto de eu pensar assim e de ele ter perdido essa vantagem com quatro jornadas ainda por disputar mostra o quanto caiu.
O australiano voltou a estar longe do nível de Norris e Verstappen na Cidade do México. Foi quase seis décimos – uma eternidade na Fórmula 1 – mais lento do que o colega de equipa na qualificação, e ficou logo em desvantagem. Teve alguns bons momentos na corrida, mas o arranque em sétimo impediu-o de desafiar os rivais, especialmente porque demorou mais tempo a ultrapassar carros mais lentos do que seria de esperar.
Piastri ser mais lento do que Norris não é novidade, mas até ao mês passado estava sempre pronto para aproveitar os deslizes do colega e somar pontos. Agora que esses deslizes deixaram de acontecer, está a ter dificuldades em aproximar-se do britânico e nem sequer se coloca em posição de capitalizar. Em vez disso, também está a ser batido por Verstappen, que conduz um Red Bull que mostrou no México não estar ao nível do McLaren.
Estar a um ponto do líder do campeonato com quatro jornadas por disputar seria certamente uma situação que aceitaria no início da época, mas tal é a falta de ímpeto que parece mais provável Verstappen ultrapassar Piastri do que Piastri ultrapassar Norris.
Bearman brilha no México
Tanto Verstappen como Piastri passaram grande parte da corrida a lutar contra o mesmo adversário, mas não era o britânico que esperavam enfrentar. Em vez disso, disputaram posição roda a roda com o Haas de Ollie Bearman.
O estreante lutou pela frente do pelotão pela primeira vez, com o carro da Haas a destacar-se, mas ao enfrentar os maiores nomes da F1, parecia já ter anos destas batalhas. Mostrou talento de nível mundial ao aproveitar a disputa entre Verstappen e Lewis Hamilton para ultrapassar o neerlandês e George Russell, e não cometeu qualquer erro até garantir o P4, apesar da enorme pressão dos pilotos da Mercedes e de Piastri.
Ter falhado o primeiro pódio por pouco pode ter sido algo desapontante, mas se esta exibição servir de referência, vai conquistar muitos ao longo dos próximos anos.
O caminho para um carro competitivo está à sua frente. Sendo produto da academia da Ferrari, o jovem de 20 anos pode posicionar-se como principal candidato a substituir o compatriota Hamilton quando o veterano decidir retirar-se.
Não foi um ano de estreia perfeito para Bearman, com alguns erros pelo caminho, mas no México deixou claro o enorme talento que possui.

