Nascido em Paris, filho de pais argelinos e a competir com uma licença francesa, o piloto da Racing Bulls destaca-se ao mais alto nível do desporto pela herança norte-africana, bem como pelos seus resultados.
"Sinto que estou a representar dois países. Sou o primeiro piloto árabe do planeta a chegar à Fórmula 1. É muito importante, mas passou despercebido, ninguém se importa, mas é muito importante", disse o piloto de dupla nacionalidade à Reuters na Arábia Saudita no passado fim de semana.
Os livros de recordes mostram um outro piloto norte-africano desde que o campeonato mundial começou em 1950, o francês Robert La Caze, que competiu como marroquino em 1958, quando o país organizou uma corrida.
Desde então, o brasileiro Felipe Nasr - que correu na F1 em 2015/16 - e cujo avô emigrou do Líbano para a América do Sul na década de 1960, foi o piloto mais próximo que a Fórmula 1 teve de um piloto do mundo árabe.
Agora há quatro corridas no Médio Oriente e nenhuma com um piloto da casa. África nem sequer faz parte do calendário. A estreia de Hadjar em Melbourne deixou-o a chorar de frustração depois de se despistar na volta de formação, mas o jovem de 20 anos redimiu-se com cinco pontos em duas corridas.
"Hadjar é a surpresa da época. Ele é calmo e está sempre presente... é um grande rapaz que está a surgir para o futuro", proclamou o consultor de desporto automóvel da Red Bull, Helmut Marko, depois do Japão.
"Pequeno Prost"
Há muito tempo que Marko se referia a Hadjar como "Petit Prost" ("pequeno Prost") - em referência ao tetracampeão francês Alain, uma homenagem impressionante. Hadjar, grande fã do falecido companheiro de equipa e rival de Prost, Ayrton Senna, fez uma careta e disse que a razão era mais mundana.
"Estava só a roer as unhas e ele disse 'Sim, como o Prost'. Ele disse-me isto. Como o Prost. Só isso. É tão simples quanto isso. Não me importo. Prost é uma lenda. Em miúdo era o Ayrton, mas à medida que cresço, aprecio mais o Alain. Quando se é miúdo, só se pensa em velocidade e cores vivas. Vemos o Ayrton Senna e pensamos: 'Oh, fantástico'. E depois, mais tarde, o Lewis (Hamilton)", confessou.
Hadjar considera que Prost, o "Professor" taticamente astuto que se retirou em 1993 depois de ganhar títulos com a McLaren e a Williams, merecia mais reconhecimento.
"Acho que a carreira dele é realmente subestimada. Não me vou autoproclamar um tipo inteligente, mas tenho a abordagem que o meu pai sempre quis, que é usar primeiro a cabeça... pensar quando se conduz e fazer a diferença fora do carro", contou.
Enquanto crescia, o interesse de Hadjar foi despertado pelo filme Cars e por ver F1 com o pai Yassine, um investigador sénior em mecânica quântica. Começou a fazer karting aos sete anos e foi segundo classificado na Fórmula 2 na época passada, uma campanha frustrante em que parecia um jovem zangado a desabafar pelo rádio.
"Joga-se com os limites do que é permitido. Na Fórmula 2, somos um cliente da equipa e estamos a jogar a nossa vida. Queres ir para a Fórmula 1, a equipa faz asneira, estás zangado com eles na rádio e dizes o que pensas. Aqui, é completamente diferente. Pagam-nos para conduzir. É o trabalho mais fixe do mundo, não se grita com as pessoas. Não é possível. Se eu quiser gritar, grito no meu capacete. É isso que eu faço. Não carrego no botão do rádio para dizer disparates", disse.