O fisiologista português, Emiliano Ventura, que coordena a preparação do novo campeão do mundo de MotoGP desde a temporada passada, considera que este é "o melhor Marc Márquez de sempre", ao nível de "Ronaldo, Messi ou Jordan".
Em declarações à agência Lusa a partir de Motegi, no Japão, onde acompanhou a corrida que deu o sétimo título ao piloto espanhol, este domingo.
"É um dos melhores Marcs de sempre. Não estive nos últimos campeonatos do mundo, apesar de eu ter feito parte da estrutura da Honda. Mas este é um dos melhores de sempre se não o melhor Marc de sempre", sublinhou, fundamentando a opinião no facto de o piloto espanhol já o recorde de pontos num campeonato, quando ainda faltam disputar cinco corridas.
Aos 46 anos, Emiliano Ventura apresenta um currículo já com 20 anos, tendo acompanhado pilotos em quase todas as categorias de desportos motorizados, da Fórmula 1 aos GTs, passando pelas diversas Fórmulas.
Nas duas rodas, acompanha, desde o ano passado, Marc Márquez e o irmão Alex, coordenando toda a equipa de preparação dos dois pilotos da Ducati, através da sua clínica de alta performance, em Madrid (Espanha).
O fisiologista português compara mesmo o piloto espanhol aos melhores atletas da história.
"Tive a sorte de trabalhar com atletas muito, muito bons. Marc está ao nível dos melhores de sempre. Quando estamos a falar deste nível, de um Ronaldo, de um Messi, de um Marc ou de um Michael Jordan, o primeiro que se destaca é a capacidade mental, perseverança. São muito cognitivos. Neste desporto, os atletas têm de ter uma atividade cerebral muito alta, ter capacidade de ler o que se passa à volta deles. E a resposta que atletas destes dão é muito acima dos restantes", explica Emiliano Ventura.
O facto de Marc Márquez ter tido uma lesão em 2020 que quase lhe custou a carreira (fratura no antebraço direito), e ter conseguido recuperar ao ponto de voltar a ser campeão seis anos depois, é outro facto de destaque apontado pelo fisiologista português.
"Toda a gente conhecia o Marc pelas suas curvas para a esquerda. Este ano ganhou em circuitos em que a maior parte das curvas eram para a direita. É uma situação que foi ultrapassada. A lesão tem influência nessas coisas e faz parte do nosso trabalho procurar os pontos fracos e trabalhar especificamente para melhorar isso. Conseguimos fazer isso de forma consistente ao longo de todo o ano passado. Há que dar os parabéns às pessoas que o acompanham", precisou.
Emiliano Ventura lembra que, "o que Marc Márquez fez, nunca foi feito".
"Nunca aconteceu em nenhum desporto. Já houve muitos regressos mas após estar três anos afastado por lesão nunca aconteceu. O que o Marc está a fazer nunca foi feito", garante.
Na conversa com a Lusa recorda-se o regresso do alemão Michael Schumacher à Fórmula 1 em 2009 após a retirada em 2006, sem o sucesso anterior.
"Fez um pódio no Canadá (em 2012) e a pole position no Mónaco. Eu estava lá e perguntei-lhe porque já não era o Michael de antes. Ele disse-me que se o circuito for técnico e não for físico, era melhor do que os outros todos", recordou.
Já Marc Márquez "baixou o nível" devido às lesões "mas deu a volta à situação e voltou a ganhar".
"Por exemplo, o Michael Jordan regressou mas não teve uma lesão gravíssima. Em circunstâncias parecidas talvez só o Mick Doohan, que venceu cinco campeonatos após uma grave lesão", apontou.
Agora é momento de festejar, apesar de haver nova corrida no próximo fim de semana. "É importante celebrar quando se ganha. Vamos celebrar com certeza", garantiu.
Com 32 anos, Marc Márquez tem sete títulos mundiais na categoria rainha, a MotoGP, os mesmos que Valentino Rossi e apenas menos um do que Giacomo Agostini.
Em termos absolutos, Márquez soma nove, tantos quantos tem Rossi. Apenas Angel Nieto (13 entre as categorias de 50cc e 125cc) e Giacomo Agostini (15, oito em 500cc e sete em 350cc). Haverá tempo para o espanhol superar estas marcas?
Emiliano Ventura lembra que há "cada vez mais longevidade em atletas, o que não era normal há uns anos". "Temos a capacidade de prolongar a carreira em todas as áreas científicas. Marc está na melhor forma da sua carreira. Mas este é um desporto de alto risco. Principalmente no MotoGP, com o número de quedas e gravidade dessas quedas. O Rossi retirou-se muito mais tarde. É possível manter o corpo até lá. Vamos trabalhar para isso. Enquanto o corpo se permitir, vamos continuar, porque a mente vai estar lá para querer ganhar", garante Emiliano Ventura.