Com um Z se escreve Zarco!
O nariz, a premonição, um sexto sentido, a aura... ou simplesmente um conhecimento apurado de meteorologia: Johann Zarco começou com pneus de chuva e esta intuição permitiu-lhe ganhar um lendário Grande Prémio de França: o primeiro francês a vencer em casa ao fim de 71 anos. Pierre Monneret tem finalmente um sucessor e estava longe de estar garantido já que, para evitar o acidente que envolveu os dois antigos campeões do mundo Francesco Bagnaia e Joan Mir, foi parar à gravilha e arrancou do 17.º lugar.
Entre os pilotos que foram obrigados a fazer voltas longas duplas porque mudaram de mota logo de seguida e aqueles que fizeram a mudança durante a corrida, Zarco rapidamente ficou com o caminho livre. Na oitava volta, estava na liderança. Ainda faltavam 18 voltas para o final... uma eternidade. E à medida que aumentava a vantagem de Zarco sobre Marc Márquez, que já estava feliz por estar no circuito Bugatti, a tensão intensificava-se.
Mas com a experiência de um veterano de 34 anos e 150 corridas de MotoGP no seu currículo, Zarco não cedeu à pressão. Com a Honda-LCR, que foi um instrumento de tortura na época passada, antes de se tornar mais dócil em 2025, o decano do paddock conseguiu um verdadeiro feito que ficará no panteão do desporto motorizado francês e mesmo mundial. E tudo perante os seus pais, que foram vê-lo correr pela primeira vez! Chapeau e merci!
Bagnaia, um fim de semana para esquecer
Sexto na Q1, abandono na primeira volta do sprint (um guilty pleasure que lhe custou o terceiro título no ano passado) e um acidente logo na primeira curva do Grande Prémio: Pecco Bagnaia não saiu de Le Mans com estrelas nos olhos, mas sim com um galo na cabeça. Obviamente, o seu duelo interno com Marc Márquez sofreu um golpe e, psicologicamente, o italiano afogou-se na chuva torrencial de Le Mans.
Enquanto o catalão venceu no sábado e garantiu o segundo lugar no domingo, Bagnaia viu tudo do paddock ou de muito longe, já que terminou em 16.º (por outras palavras, em último) e primeiro fora dos pontos. Está agora a 51 pontos do seu companheiro de equipa.
Álex Márquez e Fermín Aldeguer estão a fazer um grande esforço com as suas motos Gresini-Ducati, e os chefes da Ducati Corse podem muito bem considerar uma dupla totalmente espanhola para 2026.
Aldeguer, um estreante maduro
Na sexta volta deste louco Grande Prémio, Fermín Aldeguer assumiu a liderança do pelotão pela primeira vez na sua carreira na categoria rainha. Nas últimas voltas, o espanhol ultrapassou o seu compatriota Pedro Acosta para conquistar o primeiro pódio da sua jovem carreira no MotoGP, depois do terceiro lugar no dia anterior no sprint.
Poderá ter havido passagem de testemunho entre o estreante de 2025 e o piloto de 2024 que impressionou na estreia com a Tech3-KTM antes de descer na hierarquia? Seria uma atitude um pouco precipitada, mas a Gresini-Ducati é muito mais rápida do que a KTM oficial e o número 54 fez concessões, mesmo que Acosta tenha demonstrado muita agressividade para subir na classificação, ao partir do 12-º lugar.
Ao contrário do Tiburón, Aldeguer parece estar a ir na direção oposta. A cada nova prova, afirma o seu carácter e torna-se cada vez mais convincente, graças ao seu temperamento e à sua capacidade de evitar os perigos. O terceiro lugar no domingo é um testemunho da sua maturidade e a presença de Álex Márquez na garagem da Gresini é um verdadeiro impulso.
Dos 48 pontos que conseguiu desde o início da época, 23 foram obtidos em Le Mans. Aos 20 anos de idade, Aldeguer já é um dos principais candidatos a uma vitória em GP este ano.
Miguel Oliveira, um regresso (quase) apoteótico
Dois meses e três provas depois de uma lesão ligamentar no ombro esquerdo, o piloto português Miguel Oliveira regressou à sua Yamaha para subir ao traçado de Le Mans. Partiu do 20.º lugar, chegou a estar em segundo e caiu quando rodava em sétimo. Até mesmo para um Falcão habituado a voos impossíveis, esta foi uma "corrida louca".
Oliveira foi um dos que apostou em manter os pneus de chuva quando metade do pelotão arriscou em ir às boxes montar pneus de piso seco e essa decisão revelou-se acertada, valendo-lhe a subida ao segundo lugar. Mas a falta de ritmo ditada pela paragem de quase dois meses, devido a uma lesão ligamentar no ombro esquerdo, não permitiu ao piloto luso lutar com as mesmas armas dos adversários.
O piloto natural de Almada foi descaindo na classificação até ao sétimo lugar, que ocupava a seis voltas do final, quando perdeu o controlo da traseira numa pista molhada.
“Foi uma pena não ter conseguido terminar a corrida, pois teria sido fantástico somar alguns pontos numa corrida tão louca”, começou por dizer Miguel Oliveira. Sobre a decisão de se manter em pista com os pneus de chuva, o piloto luso admitiu: “Foi uma lotaria mas sabíamos que vinha mais chuva, era uma questão de tempo e de saber quanta chuva iria cair. E deu resultado”.
Miguel Oliveira explicou que “à chuva, as coisas tornam-se mais fáceis fisicamente, não é tão duro e exigente”, mas acrescentou: "Assim que começou a chover com mais intensidade, deixei de ter tração na roda de trás, foi muito difícil manter-me em cima da mota. De repente, a mota deu um abanão, tornando as coisas muito difíceis”. O piloto da Yamaha disse quando caiu "rodava devagar", mas mesmo assim não conseguiu evitar a queda.
Não foi o regresso desejado, mas ainda assim o piloto luso pode e deve ficar contente com uma boa prestação em condições tão difíceis. Segue-se agora uma semana de folga para preparar o GP do Reino Unido, de 23 a 25 de maio.