Os incêndios que, segundo as autoridades, poderão ser classificados como a catástrofe natural mais devastadora da história dos Estados Unidos continuam a lavrar ao fim de vários dias, com ventos desérticos e uma paisagem ressequida que apresentam condições extremamente perigosas.
O governador Gavin Newsom já tomou medidas para garantir que os locais estarão prontos para receber os Jogos, um empreendimento gigantesco mesmo nas melhores circunstâncias, e disse no Meet the Press de domingo que os Jogos serão uma oportunidade para a "comunidade brilhar". A presidente do órgão responsável pela organização (LA28), Casey Wasserman, destacou a "resiliência e determinação" de Los Angeles.
"A força das nossas comunidades e a nossa união em tempos difíceis tornam esta cidade extraordinária e, quando Los Angeles receber o mundo em 2028, o nosso espírito brilhará mais do que nunca", afirmou Wasserman num comunicado.
Mas Eric Sheehan, uma figura-chave da NOlympics LA, uma coligação de grupos comunitários que há muito se opõem aos Jogos de 2028, disse que o incêndio e a resposta local mostram uma cidade que está mal equipada para acolher o espetáculo desportivo quadrienal.
"Estes incêndios cimentam a mensagem que temos vindo a espalhar desde antes da candidatura em 2017, que é a de que Los Angeles não deve acolher estes Jogos porque não pode cuidar dos seus residentes e acolher o maior - como LA28 lhe chama - o maior evento desportivo da história americana ao mesmo tempo", disse Sheehan à Reuters.
Até ao momento, os incêndios têm poupado os principais locais dos Jogos Olímpicos, com o Rose Bowl, em Pasadena, que deverá acolher o futebol masculino e feminino, a ser utilizado como ponto de paragem para os bombeiros que combatem as chamas.
O Estádio SoFi, em Inglewood, que acolherá a natação, e a Crypto.com Arena, no centro de Los Angeles, que acolherá a ginástica, também não foram afetados até agora.
Os organizadores afirmaram que o orçamento de cerca de 7 mil milhões de dólares para os Jogos é financiado pelo setor privado, uma vez que o objetivo é estar entre as raras cidades anfitriãs que conseguem obter lucros com os Jogos Olímpicos. Mas espera-se que os contribuintes cubram quaisquer custos para além desse valor.
No ano passado, o governo dos EUA prometeu 900 milhões de dólares em fundos federais para melhorar os transportes públicos da cidade antes dos Jogos. Os organizadores disseram à Reuters que esperam que o novo presidente, Donald Trump, cumpra essa promessa.
A NOlympics diz que esses projetos de transportes públicos serviriam, em grande parte, os turistas que participarão nos Jogos Olímpicos e não os cidadãos comuns de Los Angeles.
"Merecemos uma LA resiliente que possa proteger os seus residentes do fogo. Merecemos isso, independentemente de recebermos ou não os Jogos Olímpicos", disse Sheehan.
Cancelamento dos Jogos improvável
O cancelamento ou a deslocalização dos Jogos Olímpicos de 2028 - ou dos oito jogos do Campeonato do Mundo que o Estádio SoFi vai acolher em Inglewood no próximo ano - é extraordinariamente improvável, dizem os especialistas, com poucas edições dos Jogos interrompidas no passado.
A Primeira Guerra Mundial forçou o cancelamento dos Jogos de verão de 1916, enquanto os Jogos de verão e de inverno de 1940 e 1944 foram cancelados devido à Segunda Guerra Mundial. Em 2020, os organizadores tomaram a decisão sem precedentes de adiar os Jogos de Tóquio por um ano devido à pandemia de COVID-19.
Jonathan Aronson, especialista em comunicação e governação global e professor de comunicação na Universidade do Sul da Califórnia, em Los Angeles, disse que os incêndios são apenas "um ponto no radar" quando se trata de Los Angeles acolher os Jogos.
"Encontrar outra cidade para os acolher nesta fase seria quase impossível. É um período de tempo tão curto e há tantas peças em movimento que já estão em movimento. O processo vai simplesmente continuar", afirmou.
Ele observou que a cidade tem a vantagem de ser o lar de muitos locais desportivos existentes.
Nathan Line, professor do Dedman College of Hospitality da Florida State University, cuja investigação se centra na hotelaria, no marketing turístico e no comportamento dos consumidores, diz "não ver um mundo" em que Los Angeles não acolha os Jogos.
"Los Angeles tem estado a preparar-se para estes Jogos há mais de uma década. A devastação no condado de Los Angeles está a decorrer e não sabemos qual é a sua gravidade. Mas, independentemente da gravidade, vai reconstruir-se", apontou.