Nascido em Bruxelas, Lukebakio tem nacionalidade congolesa, mas foi na Europa que iniciou e fez todo o seu trajeto futebolístico. Formado no Anderlecht, não teve muitas oportunidades do conjunto belga, de onde saiu para a sua primeira experiência fora de portas.
A passagem pelo Toulouse, da Ligue 1, não foi propriamente o sonho que Lukebakio esperaria na sua primeira aventura. Depois de seis meses sem jogar devido a problemas com o passaporte, regressou à Bélgica para ser cedido ao Charleroi.
"Imagina o que é treinar todos os dias, com 19 anos, mas não jogar por algo que nem entendes", lembrou, em entrevista ao diário AS.
No entanto, o sonho estava apenas a começar. Na Liga belga, destacou-se pela primeira vez, bisando logo à segunda jornada. O bom nível apresentado naqueles primeiros meses valeu-lhe o salto para a Premier League.

O Watford investiu cinco milhões de euros na contratação do extremo, poucos dias após o despedimento do português Marco Silva, mas a concorrência de peso, com nomes como Richarlison e Pereyra, bem como as dificuldades de adaptação (não falava inglês) contribuiram de forma negativa para que acabasse a época com apenas uma partida realizada.
Visto como uma aposta de futuro, foi emprestado pela terceira vez na carreira, mas dessa vez conseguiu virar o destino ao contrário e mostrou que podia ser importante num campeonato como a Bundesliga, marcando 14 golos em 34 partidas pelo Fortuna Dusseldorf.
Depois dessa afirmação, numa época em que demonstrou a sua versatilidade, atuando tanto a extremo como a avançado, deu o passo em frente para atingir o nível que o próprio esperava, saindo para o Hertha de Berlim por 20 milhões de euros para se tornar a grande referência ofensiva da equipa alemã, onde terá sido mais feliz - 100 jogos, 28 golos e 15 assistências.
Apesar dos 12 golos apontados na última época na capital da Alemanha, Lukebakio não evitou o último lugar do Hertha e consequente descida, pelo que a saída para o Sevilha foi encarada com naturalidade. O investimento de 10 milhões de euros foi, confirmou-se agora, justificado.
Menos Akturkoglu, mais Di María
O internacional belga deixa o Ramón Sánchez Pizjuán muito por causa das dificuldades financeiras do clube espanhol, embora tenha recebido uma proposta para rumar ao Al Nassr no inverno passado. Lukebakio, que foi criado numa família religiosa e admitiu ter-se convertido a Deus durante a sua passagem pelo Toulouse, sentiu que esse não era o passo certo na carreira e prometeu ficar "até ao verão" em Sevilha. Dito e feito.
Decisivo para a permanência do histórico espanhol, com 11 golos em 39 partidas - embora o próprio reconheça que devia ter feito mais do que as duas assistências - sai como "um dos melhores", depois de até já se ter estreado a marcar est a temporada. Chegado ao Estádio da Luz, o belga vem para substituir Di María ou Akturkoglu? A resposta não é assim tão simples.

Ponto prévio: Lukebakio tem condições para jogar em todas as posições do ataque. Já foi extremo esquerdo, já apresentou rendimento como avançado-centro, mas é na direita que se sente mais confortável, como o próprio admite: "É a minha melhor posição".
Nesse sentido, já se percebe que o belga não chega para roubar o lugar a Schjelderup, embora o possa fazer com relativa capacidade, perdendo, no entanto, algumas das suas melhores características. No comparativo com Akturkoglu (ver acima), percebe-se desde logo que o Benfica vai perder taticamente e nos momentos de pressão. Apesar de não ser um extremo apenas ofensivo, Lukebakio é menos capaz nesse momento do jogo, bem como na finalização - apesar dos bons números, nem sempre é regular na hora de rematar à baliza.

No entanto, o belga tem outras valências que fazem dele um jogador que pode ser útil ao plantel do Benfica e apresentar outras armas diferentes das de Akturkoglu. E é aqui que se aproxima mais de Di María.
Lukebakio é um jogador de risco no um para um, que parte para cima do adversário e que pode certamente ser uma arma em jogos mais fechados como os da Liga Portugal, onde uma finta pode desbloquear uma jogada, à imagem do que Di María podia fazer, mas que também é capaz nas diagonais da direita para o centro, dando assim espaço de progressão a Dedic.

Porém, há outros aspetos que o afastam de Di María. Além do inigualável perfume técnico do argentino, Lukebakio não é um jogador que faça a diferença nos momentos de criação e na gestão do jogo em posse.
Mais explosivo do que o experiente argentino, como é natural, é um jogador de rasgos, mas que peca pela consistência e sem a visão de jogo do agora jogador do Rosario Central. Esse papel caberá, no entanto, a Sudakov, reforço de verão que chega para dar a criatividade que se perdeu com a saída do campeão do Mundo.

Potenciar os pontos fortes, esconder os fracos
Em resumo, Lukebakio não chegou à Luz para ser um substituto direto de nenhum dos extremos que deixaram o plantel esta época, mas para ser um complemento ao ataque do Benfica, especialmente nos jogos mais fechados, em que pode certamente ser um abre-latas, fruto da sua capacidade individual e verticalidade - é um jogador forte a atacar o espaço, como demonstrou nos golos que marcou em Berlim e Dusseldorf.

Dentro da irregularidade típica em jogadores do género, Lukebakio tem potencial para viver momentos diferentes perante o exigente público da Luz. O internacional belga pode ser idolatrado pelos momentos de um para um nos quais é inegavelmente especial, mas também criticado pelos erros nos momentos de decisão e algumas perdas de bola que podem comprometer.
Cabe ao coletivo comandado por Bruno Lage potenciar os pontos fortes do extremo de 27 anos e, ao mesmo tempo, proteger-se dos seus aspetos mais negativos. Se tal acontecer, Lukebakio pode ser um verdadeiro reforço.