Porque este século já leva 25 anos, é tempo de o afirmar sem reservas: Oleksandr Usyk é o melhor peso pesado desde o virar do milénio. Trata-se de um caso raro no que toca a estabelecer rankings: a sua superioridade é indiscutível.
A explicação é simples. Após a sua impressionante vitória sobre Daniel Dubois, no passado sábado, em Wembley, Usyk conquistou os quatro principais cinturões mundiais e, pela segunda vez, o prestigiado cinturão honorário da Ring Magazine.
O seu currículo impressiona desde os tempos de amador: foi campeão europeu de pesos pesados (2008), campeão mundial (2011) e, mais tarde, campeão olímpico.
Como profissional, mantém-se invencível (24-0-0).
E porque, antes de se afirmar como rei dos pesos pesados, já tinha feito história ao conquistar os quatro cinturões da categoria de pesos-cruzados, após derrotar Tony Bellew por KO no 8.º assalto, em Manchester, na sua estreia em pay-per-view.
É também porque derrotou todos os grandes nomes britânicos dos pesos pesados: Derek Chisora, Anthony Joshua (por duas vezes), Daniel Dubois (também por duas vezes) e Tyson Fury (duas vezes). Um combate contra Deontay Wilder poderá ser o que falta para se afirmar, sem margem para dúvidas, como alguém que enfrentou todos os melhores da sua geração, ainda que o "Bronze Bomber" nunca tenha conseguido afirmar-se contra adversários do calibre de um Gypsy King.
E porque, apesar da sua falta de tamanho e peso face aos pesos pesados naturais, Usyk encontrou sempre a solução através da sua precisão, da sua condição física e do seu domínio da "nobre arte". No sábado, Dubois foi anunciado como uma potencial ameaça para o ucraniano, e o seu golpe baixo no primeiro confronto foi inteligentemente aproveitado para adensar a polémica.
Mas Usyk voltou a ser excecional, permitindo-se o luxo de resolver o combate no 5.º assalto... curiosamente, com aquele célebre golpe abaixo da cintura que tanta tinta fez correr no passado.
Em pé de igualdade com os melhores de todos os tempos
A escola ucraniana continua a produzir pugilistas completos a nível físico, mental e tático, bem como lutadores carismáticos como Vasyl Lomachenko ou os irmãos Wladimir e Vitali Klitschko. Ainda assim, Usyk supera todos eles e isso não é pouca coisa, tendo em conta a hierarquia do boxe ucraniano.
No dia seguinte à sua exibição em Wembley, a supremacia de Usyk evoca as grandes eras da nobre arte e os pesos pesados mais lendários da história. Não nos iludamos: mesmo que o 4K HD seja talvez menos romântico do que as imagens a preto e branco ou os primórdios da televisão a cores, Usyk senta-se hoje à mesma mesa que Jack Dempsey, Joe Louis, Rocky Marciano, Muhammad Ali, Joe Frazier, George Foreman, Mike Tyson, Evander Holyfield e Lennox Lewis. E por que ordem? Isso cabe a cada um decidir.
Há sempre alguma relutância em valorizar as proezas que acontecem diante dos nossos olhos, mas o que Usyk conseguiu não deve ser subestimado. Durante anos, os pesos pesados foram vistos como uma divisão sem grande competição. Usyk contrariou essa ideia, reinando numa era altamente competitiva há mais de uma década.
E agora, o que lhe resta? Um combate com o alemão Agit Kabayel, 2.º classificado no BoxRec, ou contra Joseph Parker, 4.º classificado, teria pouco interesse, mesmo em pay-per-view. Todos os fãs sabem qual é a resposta: um terceiro combate com Tyson Fury, para fechar uma carreira superlativa em grande estilo.