Esta semana tive o prazer de ser convidado do Open de Estocolmo. Como é habitual, o torneio de ténis é disputado no Kungliga Tennis-Hallen, que não tem nem de perto, nem de longe, a mesma capacidade que o Globe.
Mas se olharmos para os cartazes dos vencedores do passado, como Stefan Edberg, Tomas Berdych, Roger Federer e Thomas Engqvist, podemos sentir o peso da história que também faz parte das velhas bancadas de madeira e da atmosfera íntima que caracteriza o recinto.
Do ponto de vista dinamarquês, o Open de Estocolmo também é especial, porque foi aqui que Holger Rune deu o seu primeiro passo em direção às estrelas, quando conquistou a sua segunda vitória num torneio da ATP Tour, por esta altura, no ano passado, e subiu posteriormente ao 25.º lugar do ranking mundial.
Não tive a oportunidade de ver Holger Rune em ação na capital sueca, mas sim de ver Leo Borg em ação contra o sérvio Laslo Djere, com o próprio pai Björn Borg nas bancadas.

"Aquele maldito outono"
Leo Borg, de 20 anos, desceu para 359 no ranking mundial e o jovem sueco está longe do nível que o pai mostrou no auge da carreira, tal como Holger Rune estava a milhas de distância do seu nível anterior quando perdeu na segunda ronda do torneio para Miomir Kezmanovic por 6-7, 2-6.
Contra Kezmanovic, Rune deu a impressão de ser um jovem confuso e duvidoso, sem auto-confiança, que procurou em vão o seu jogo durante todo o encontro, mas nunca o encontrou.
Não é de admirar que as dúvidas se acumulem para um Rune em crise, visto que, desde o dia 20 de junho, só ganhou um jogo e perdeu, nade mais nada menos, do que 10 dos últimos 11 jogos, num violento declínio outonal. Não foi há muito tempo que a comitiva de Rune, em reação ao "maldito outono", anunciou que precisava de controlar a situação.
Os problemas físicas que o atormentavam há muito tempo tinham de ser tratados e, ao mesmo tempo, foi anunciado que Lars Christensen voltaria a assumir o papel de treinador único, enquanto se despediu e agredeceu à lenda francesa Patrick Moratoglou, que se tinha juntado à equipa no Open de Estocolmo do ano passado.
Isto deverá pôr fim ao caos técnico que provavelmente contribuiu para a atual crise de Rune. O próprio Holger Rune optou por fazer uma atualização da situação da equipa técnica ao falar com o canal SVT antes do início do Open de Estocolmo.

"A quem devo dar ouvidos"?
"Quando se sobe na classificação, há muitas pessoas que têm uma opinião... Pode ser difícil saber a quem dar ouvidos e isso cria uma dúvida na nossa mente. Aconteceu muita coisa com a situação do treinador e tem sido muito cansativo. No fim das contas, sou eu quem tem de atuar em campo, e é difícil quando tudo ao redor é um caos, como tem sido nos últimos meses", confesosu.
Neste contexto, Anneke Rune anunciou na quinta-feira que Boris Becker foi contratado como treinador para o resto do ano, para apoiar Holger Rune nos próximos torneios em Basileia e Paris. Não há dúvida de que Becker pode trazer muita experiência para a situação em que Rune se encontra agora e o alemão é, sem dúvida, um génio tático, como atestam os seus excelentes resultados como antigo treinador de Novak Djokovic.
Mas, acima de tudo, a comitiva de Rune precisa de calma em torno da situação do treinador e, com a contratação de Becker, praticamente detonou uma bomba onde a equipa parece estar mais vulnerável.

Ciúmes no campo de Rune?
Apesar de todas as suas qualidades, há sempre muito "ruído" em torno de Becker, não só devido à sua gloriosa carreira no ténis, mas também devido às transações financeiras questionáveis, à vida pessoal caótica e, não menos importante, à sua dramática passagem pela prisão.
Ao mesmo tempo, não deve ser agradável ser Lars Christensen nesta equação. Ele é, sem comparação, o "ADN de Holger Rune" e é a pessoa que criou Holger Rune e o fez subir das camadas jovens.
O facto de estar a ser afastado pela segunda vez, para que outro treinador com um currículo mais vasto se possa candidatar a esse lugar, só pode ser uma nova fonte de ciúmes no campo de Rune, numa altura em que o dinamarquês de 20 anos só precisa de "uma voz clara" em vez de várias que parecem estar a disputar a sua validação.
Demasiados cozinheiros estragam o caldo e os fantasmas do passado parecem estar ao virar da esquina, num cenário em que Christensen e Becker podem muito facilmente acabar por tropeçar um no outro nas tentativas de tirar Rune da crise.
