Elegante no seu boubou verde-azeitona, com medalhas e condecorações ao peito, Oumar Diémé pensa naqueles que vestiram o uniforme francês durante as duas guerras mundiais ou, como ele, na Indochina e na Argélia, e que nunca regressaram.
"Muitos dos meus colegas ficaram para trás. Outros voltaram mutilados (ou) já não existem", reflete, com a sua figura esguia encimada por um boné azul onde está presa a sua patente de sargento.
Cerca de vinte homens de Badiana, a sua aldeia em Casamance, serviram com diferentes graus de sucesso no Corpo de Tirailleurs senegalês, até este ser dissolvido nos anos 60, diz em francês, sentado numa cadeira de plástico rodeado pela família, à sombra das árvores de queijo e de manga cujos ramos se entrelaçam por cima das casas de tijolo de barro em ruínas. Teve "sorte". "Sou o único sobrevivente. Foi um milagre ter sido escolhido", diz.
Oumar Diémé será um dos portadores da tocha quando a chama passar por Seine-Saint-Denis no final de julho, pouco antes da cerimónia de abertura dos Jogos, marcada para o dia 26. Diémé viveu no departamento a nordeste de Paris, num albergue em Bondy, antes de regressar ao Senegal em 2023. E os organizadores da estafeta da tocha aceitaram a proposta de o incluir no departamento.
O presidente do departamento de Seine-Saint-Denis, Stéphane Troussel, falou à AFP de um "trabalho essencial de recordação" porque, segundo ele, "os soldados de infantaria senegaleses foram esquecidos durante demasiado tempo na nossa memória coletiva".
Oumar Diémé nunca tinha ouvido falar da chama. De qualquer forma, disse que sim, mas "dada a minha idade, gostaria de ser acompanhado pelo meu filho".
Apanhados pela independência
Oumar Diémé é um dos milhares de africanos que combateram no corpo de senegaleses, criado em 1857. Na verdade, eram oriundos de todas as colónias francesas da África subsariana e não apenas do Senegal. Alistou-se a 6 de março de 1953, depois de ter fugido da vizinha Gâmbia, onde o seu pai o tinha mandado estudar o Corão. Como não tinha estatuto civil, os recrutadores deram-lhe a idade de 20 anos. Pensa que é pelo menos um ano mais velho.
Nesse mesmo ano, alistou-se como voluntário na Indochina, onde a França colonial, apoiada pelos Estados Unidos, lutava contra o movimento independentista Viet Minh, apoiado pelos chineses. Tinha visto "pessoas regressarem com medalhas e condecorações, isso agradava-me".
Ali, viu 22 homens da sua companhia caírem numa emboscada, recorda. Lembra-se também de como o cerco de Diên Biên Phu o impediu de lá chegar com os seus camaradas antes da derrota decisiva das tropas da União Francesa em 1954.
Regressou ao Senegal e partiu novamente em 1959 para a guerra de independência da Argélia (1954-1962). Foi aí que tomou conhecimento da independência do Senegal em 1960. Repatriado, voltou a alistar-se no exército senegalês e reformou-se aos 36 anos. Trabalhou como guarda na Universidade de Dakar e depois como estafeta num banco da capital até 1988. Em seguida, mudou-se para França.
Símbolo
Ele e outros antigos fuzileiros que viviam em Bondy tiveram de lutar novamente, desta vez contra o Estado francês. No final, foi-lhe concedida a nacionalidade francesa. Em 2023, o Governo francês concedeu aos últimos tirailleurs o direito de continuarem a receber a pensão mínima de velhice de 950 euros por mês, sem terem de passar metade do ano em França.
Oumar Diémé e outros regressaram. Desde então, tem alternado entre a sua aldeia natal, onde está a terminar a construção de uma grande casa permanente, e a capital, onde vive uma das suas duas mulheres e mãe de muitos filhos. "Estou muito feliz por estar com a minha família", diz. "Em França, estava fechado num quarto de 17 metros quadrados. Não via ninguém. Nesta aldeia, toda a gente gosta de mim", acrescenta, com o rosto radiante.
A escolha de Diémé para transportar a chama é uma homenagem aos esforços de Aïssata Seck, deputado eleito por Bondy e presidente de uma associação para a memória dos Tirailleurs: "É um belo símbolo, ainda mais hoje em dia, com a situação atual extremamente difícil e a banalização do racismo nas redes sociais, que mostra a riqueza e a diversidade da França", afirma.