"Vim pela primeira vez com a (empresa) Wilson em 2020 para ver o torneio. Lembro-me como se fosse hoje, olhei para o court Philippe Chatrier e disse: 'espero um dia ver o padel aqui', e dois anos depois estava a jogar aqui", recorda o antigo jogador de 45 anos, uma memória que reflete perfeitamente a explosão da disciplina.
Considerado o GOAT - o melhor de todos os tempos no padel - Bela reformou-se em dezembro, após 30 anos na elite.
Roland Garros acolhe um evento do Premier Circuit desde 2022 e fá-lo-á até, pelo menos, 2029.
Conquistar os Estados Unidos e a China
O fim da pandemia coincidiu com o apogeu do padel, um desporto que se consolidou durante décadas entre os mais populares, principalmente na América Latina e em Espanha.
"Em França, está a crescer graças à Federação Francesa de Ténis, uma das mais fortes do mundo, é espetacular. Explodiu na Florida, mas no resto dos Estados ainda há anos de trabalho a fazer... Os Estados Unidos e a China são os dois focos em que o padel tem de se concentrar para se consolidar", analisa Bela.
O argentino viveu este boom aos 40 anos, como uma lenda com uma raquete de padel na mão, o jogador que ganhou 230 títulos em 286 finais - um recorde de torneios ganhos. Nos últimos cinco anos, foi cedendo progressivamente o lugar às jovens estrelas, até se retirar quando ocupava o 22.º lugar no ranking mundial.
"Dois meses sem dores"
"Levo dois meses sem que me doa o corpo, nos últimos cinco ou seis anos, acordava e jogava com muitas dores, mas valia a pena porque adorava competir. Estou calmo, feliz e motivado para ajudar a tornar o padel conhecido no mundo", diz, sentado numa sala da sede de Roland Garros, rodeado de recordações das lendárias raquetes do torneio.
Bela, que vive em Barcelona, fez o caminho inverso ao de muitos novos adeptos do padel: passou para o ténis, obviamente em pares.
"O desporto profissional permitiu-me manter a criança dentro de mim até aos 45 anos. Agora estou a encontrar a mesma motivação ao divulgar o padel", explica.
Na sua nova vida, o argentino continua a trabalhar com a Wilson, finaliza o seu centro de excelência em Barcelona - será inaugurado este ano - e dirige o Torneio de Miami, uma das etapas do prestigiado Premier Padel.
Conflitos no circuito
Este circuito mundial, promovido pela Qatar Sports Investments (QSI) - proprietária do Paris Saint-Germain - reúne os melhores nas categorias masculina e feminina. Em 2025, celebra a sua quinta edição, tentando ultrapassar uma crise entre os próprios profissionais e a organização.
"Conheço a versão dos dois lados e eles têm a sua justificação. Se nos tivessem dito há quatro anos que os jogadores estariam a ganhar quatro milhões de dólares por ano, não teríamos imaginado", diz Bela.
"Pouco a pouco estão a chegar a um acordo, a ideia quando nasceu o Premier Padel era que todas as partes estivessem envolvidas no desenvolvimento do circuito", diz.
Objetivo 2036
Bela sublinha o longo caminho que o seu desporto tem pela frente: "Estamos apenas a aprender a andar e não podemos acreditar que podemos correr os 100 metros em 10 segundos".
"Temos de continuar a construir um desporto sólido para que nos próximos 10 anos o padel seja o desporto do futuro", acrescenta, reconhecendo que no horizonte está o trabalho para entrar no programa olímpico.
A lenda acredita que a sua inclusão em 2036 seria "o final perfeito" e que este evento olímpico poderia ser realizado "no Catar", como tem lido nos media, insiste.
"Ver onde começámos e onde parei...", recorda Bela antes de mudar de roupa e participar numa exibição. O melhor embaixador do padel não tem tempo a perder.