O incidente, que ocorreu na cerimónia de entrega de medalhas após a vitória da equipa feminina de Espanha no Campeonato do Mundo de Futebol em Sidney, Austrália, a 20 de agosto, desencadeou toda uma nova discussão sobre o sexismo no desporto e na sociedade espanhola e suscitou protestos semelhantes ao movimento "Me Too".
Rubiale insiste que o beijo foi consensual, enquanto Hermoso diz que foi forçado.
Se for concedida, a ordem impedirá Rubiales de tentar contactá-la ou de se aproximar a menos de 500 metros dela.
Vestido com um fato preto e uma camisa branca, Rubiales deixou o Supremo Tribunal de Madrid com a sua advogada Olga Tubau, após uma audiência de investigação à porta fechada que durou cerca de uma hora. Não falou com os meios de comunicação social que o aguardavam no exterior.
Durante o depoimento, Rubiales negou as acusações, de acordo com um comunicado do Ministério Público.
Depois de semanas a resistir aos apelos de jogadores, políticos e grupos de mulheres para se demitir do cargo de presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), Rubiales acabou por se demitir a 10 de setembro.
Mas continua a não se arrepender, afirmando que agiu com consentimento num momento de festa e alegria.
No momento em que foi a tribunal, os meios de comunicação social locais noticiaram que as jogadoras, incluindo a equipa vencedora do Campeonato do Mundo, planeavam continuar a boicotar a seleção nacional até que houvesse novas mudanças na estrutura da federação.
Depois de Hermoso dizer aos promotores que Rubiales a beijou na boca sem seu consentimento enquanto segurava a sua cabeça com as duas mãos - um momento visto por milhões de pessoas na televisão -, a promotora estadual Marta Durantez Gil apresentou uma queixa judicial.
A procuradora Marta Durantez Gil acrescentou um possível crime de coação, depois de Hermoso ter dito que ela e os seus familiares tinham sido pressionados por Rubiales e pela sua comitiva para dizerem que ela tinha aprovado o que aconteceu.
Consentimento crucial
O juiz Francisco de Jorge lidera a investigação, que deve preceder qualquer acusação formal ao abrigo da lei espanhola e decidirá se o caso vai a julgamento.
"Num processo penal, a prova do consentimento torna-se crucial", disse o jurista Gonzalo Jimenez, sócio da firma de advogados Martinez Echevarria.
Segundo ele, é importante provar a malícia ou a intencionalidade para que uma ação sexual seja punível como agressão.
De Jorge ordenou aos meios de comunicação social, incluindo a emissora estatal TVE, que lhe enviassem as imagens do incidente e os vídeos subsequentes, como um em que as jogadoras festejam no autocarro com Rubiales e se referem ao beijo de uma forma que parece ser leve. A investigação poderá durar vários meses.
O processo judicial será também um teste público à lei "Solo sí es sí" (Só sim é sim) do governo de coligação de esquerda, que coloca o consentimento no centro das relações sexuais.
Muitas jogadoras, entidades desportivas e políticos apoiaram Hermoso, numa campanha que se articula em torno da hashtag #SeAcabó (Acabou) nas redes sociais.
Mais de 80 das melhores jogadoras espanholas, incluindo as 23 campeãs do mundo, recusaram-se a jogar pela seleção nacional até que haja mudanças na gestão e no estilo da RFEF.
Esta sexta-feira, as jogadoras disseram à RFEF que iriam continuar com o seu boicote, apesar da demissão de Rubiales e da substituição do treinador da equipa, Jorge Vilda, pelo seu adjunto, Montse Tome.
O futebol espanhol, dominado pelos homens, sofreu um novo golpe na quinta-feira, quando a polícia deteve três jogadores juvenis do Real Madrid por suspeita de distribuição de um vídeo sexual com uma menor.
Segundo a polícia, a mãe de uma rapariga de 16 anos das Ilhas Canárias apresentou queixa por causa do vídeo que, segundo ela, tinha sido gravado sem o seu consentimento.
