O Tribunal da Relação do Porto decidiu reabrir o julgamento do processo de corrupção desportiva relacionado com um jogo entre Rio Ave e Benfica, em 2015/16, que condenou o empresário de futebol César Boaventura por três crimes.
De acordo com o acórdão, datado de quarta-feira e ao qual a agência Lusa teve acesso, os juízes desembargadores sustentam que o tribunal de primeira instância falhou ao recusar a audição de testemunhas arroladas pela defesa e ao indeferir a junção de um documento considerado relevante para a investigação.
António Silva Campos, presidente do Rio Ave entre 2008 e 2023, é uma das testemunhas citadas no documento, a par de Miguel Ribeiro, então diretor-geral do clube vila-condense e atual líder da SAD do Famalicão.
Em fevereiro de 2024, César Boaventura tinha sido condenado, em cúmulo jurídico, à pena de três anos e quatro meses de prisão, com execução suspensa, por três crimes de corrupção ativa no futebol.
O empresário foi ainda ordenado a pagar acessoriamente 30.000 euros a uma instituição de solidariedade social ou de promoção do desporto, sendo impedido de ter atividade profissional como agente de jogadores, de forma direta ou indireta, durante dois anos.
O tribunal de Matosinhos deu como provado o aliciamento aos ex-jogadores do Rio Ave Cássio, Marcelo e Lionn para que, a troco de contrapartidas financeiras e contratuais, facilitassem na receção ao Benfica, da 31.ª jornada da edição 2015/16 da Liga, vencida pelas águias (1-0).
César Boaventura estava ainda acusado de corrupção de forma tentada a Romain Salin, mas foi ilibado, com o tribunal a provar que foi comunicada ao então guarda-redes do Marítimo uma proposta de transferência para um clube estrangeiro, mas não houve tentativa de aliciamento, sendo que o jogador recusou continuar a conversa.
O empresário recorreu dessa decisão e a Relação determinou agora que o processo seja reapreciado em julgamento na primeira instância, suspendendo a condenação inicial.
“Fui julgado no Porto, transformaram-me em bode expiatório para atacar o Benfica, mas ontem (quarta-feira) a justiça deu o primeiro grito ao futebol português e ordenou a reabertura do julgamento. Em primeira instância, calaram-me, calaram as minhas testemunhas, negaram-me o direito à defesa e tentaram enterrar-me vivo em crimes que nunca cometi. A Relação corrigiu essa injustiça, ordenou que as testemunhas sejam ouvidas e que a minha prova seja valorada”, afirmou César Boaventura, nas redes sociais.
Falando de uma “vitória clara”, que não implica “o fim da batalha”, o empresário advertiu que a modalidade “não pode continuar a ser manchada por acusações sem fundamento”.
“Tudo nasceu no Rio Ave-Benfica, um jogo transformado em arma de arremesso contra o Benfica. Usaram-me para servir esse ataque, arrastaram-me para a lama, mas nunca me verguei. Permaneço de pé, com valores, com honra e com dignidade. Podem tentar adiar, mas a verdade não se cala. E que fique claro, sou a prova viva de que a justiça só pode ser feita no lugar certo, no tribunal, e nunca nas televisões ou nas redes sociais. Não sou ninguém, mas tenho muito orgulho na pessoa que sou”, acrescentou.
Além do processo de corrupção desportiva, César Boaventura foi visado na Operação Malapata, relacionada com a transferência de jogadores e contas bancárias através das quais circulavam milhares de euros, sendo condenado em fevereiro a uma pena de três anos de prisão, suspensa na sua execução, mas condicionada ao pagamento de 36.000 euros.
No Tribunal de São João Novo, no Porto, o empresário foi punido por três dos 10 crimes de que estava acusado, um de fraude fiscal e dois de falsificação de documentos, tendo sido absolvido dos de burla qualificada e de branqueamento de capitais.