À entrada, troca-se a credencial por uma braçadeira, recebe-se um mapa com os principais pontos de interesse e parte-se à aventura, a solo, na maioria dos casos, com guia no caso da Missão portuguesa.
Numa Aldeia Olímpica que será depois transformada em habitação social, há pontes para atravessar o rio e não só, um salão de beleza, um posto de correio, um banco, uma creche, um centro de pesagem e até um ponto turístico, além dos imprescindíveis ginásios para treino dos atletas.
Logo à entrada, há bandeiras visíveis por todo o lado, numa viagem global que vai da Coreia do Sul ao Montenegro, com pulinhos à Polónia, Tunísia ou Azerbaijão, com a imponente China a preferir a outra margem do rio.
A Aldeia Olímpica é um mundo e contém o mundo, envolto nas músicas do momento, onde também está Portugal. O percurso até à residência nacional faz-se com paragens num supermercado, numa gigante loja de merchandising, situada mesmo ao lado da representação de um fabricante de telemóveis, que ofereceu um a cada atleta.
Ao lado do refeitório dos voluntários, está a gigante Alemanha, bem identificada com as suas cores, a fazer pandã com os tons da esplanada, onde os atletas podem beber uma cerveja - obviamente sem álcool -, em momentos de lazer extensíveis à Disconnection Bubble, um lounge para desfrutar de um café ou simplesmente relaxar, mas também à sala de jogos de arcada, patrocinada por uma conhecida marca de bebidas.
Pelo caminho, veem-se atletas de todos os países, maioritariamente a pé, mas também de bicicleta – há gratuitas disponíveis por toda a Aldeia, mas houve delegações que preferiram trazer a sua frota – e até há encontros improváveis, no caso com a maior referência olímpica desta edição dos Jogos, a ginasta norte-americana Simone Biles, acompanhada por uma verdadeira entourage que incluía uma operadora de câmara.
Foi junto ao restaurante que são seis em um e que funciona 24 horas por dia, tendo mesmo semáforos para indicar o nível de afluência, além de um menu consultável numa aplicação, que a Lusa se cruzou com Biles, vinda do maior edifício de todos, o dos Estados Unidos.
Para lá chegar, atravessa-se a sala da Comissão de Atletas Olímpicos do Comité Olímpico Internacional (COI), em pleno processo eleitoral, desembocando-se no verdadeiro bloco de apartamentos norte-americano, munido, por exemplo, de ginásio exclusivo, situado pertíssimo não só do restaurante mas também do centro de transportes, e decorado com fotos de grandes olímpicos nacionais, como o inevitável Michael Phelps.
Atrás do complexo dos Estados Unidos, está a avenida principal, alegrada pelas cores da Austrália, que deu guarida às Fiji no último andar e ladeou-se dos vizinhos da Oceânia, identificados pelo slogan Oceania Warriors (Guerreiros da Oceânia, na tradução para português).
É numa transversal ao albergue dos descontraídos australianos – até montaram mesas de esplanadas – que está Portugal, que tem como vizinhos os Países Baixos, o Japão, a Eslováquia e a Hungria, partilhando edifício com Colômbia e Kuwait.
A Missão lusa, que ocupa os cinco primeiros andares, recebe os atletas que chegam a cada dia com uma mensagem de boas-vindas personalizadas, uma simpatia prolongada até ao lounge, onde há um “miminho para todos”, como definiu a nutricionista Claudia Minderico.
“Para o caso de não quererem ir tomar um pequeno-almoço ou chegarem cansados de um treino e precisarem de fazer um pequenininho snack ou antes de ir dormir fazer um pequeno snack, nós temos tudo à disposição. Temos desde proteína de altíssima qualidade, que podem misturar em água ou misturarem no leite, para aumentarem a quantidade quer de vitaminas, quer de minerais, quer de proteína propriamente dita. Podem adicionar ainda alguns cereais com glúten, sem glúten, só de milho”, começou por explicar à Lusa.
Dispostos na mesa do lounge, há ainda ovos, frutos secos, hidratos de carbono em barras, polpas de fruta, “que podem ajudar numa recuperação ou servir para durante o treino, em vez dos géis”, também eles presentes, e ainda gomas, pastilhas de cafeína, multivitamínicas para combater a poluição, antistresse para “manter a frequência cardíaca tranquila” ou Gaba, para nos dias “de maior ansiedade os atletas conseguirem adormecer um bocadinho mais rápido”, enumerou a nutricionista da Missão portuguesa a Paris-2024.
Estes snacks podem, obviamente, ser acompanhados pelo famoso café português, de grão, “para ter o aroma”, por uma bebida de cereja amarga – “a nossa ginja” -, um "anti-inflamatório muitíssimo bom”, além de uma água aromatizada com menta, que “arrefece o sistema nervoso central”, notou.
Mais escondido, mas ao lado do lounge, está o consultório médico do diretor de medicina desportiva da Missão, José Gomes Pereira, concebido como uma verdadeira clínica onde, inclusive, se podem fazer pequenas cirurgias, e ligado por umas escadas à zona de fisioterapia.
Nos corredores estreitos – como estreitos são os quartos – há desenhos das crianças envolvidas no programa de Educação Olímpica do COP, com os mais personalizados a serem colocados nos quartos dos atletas, apresentados à Lusa pelo chefe de Missão, Marco Alves.
Além das já famosas camas, o principal ex-líbris nas redes sociais dos desportistas portugueses que já chegaram à Aldeia Olímpica – a Missão substituiu as de cartão instaladas pelo Comité Organizador, estando estas equipadas também com um colchão articulado -, há duas surpresas para todos os 73 apurados portugueses para Paris-2024, providenciadas pela Comissão de Atletas Olímpicos: um postal com uma mensagem individualizada, ilustrado com uma foto do destinatário em criança, e um colchão de ioga com a inscrição do nome e da frase preferida de cada um.
Ponto final na visita, é tempo de devolver a braçadeira e guardar o mapa, que será percorrido por mais de 10.000 atletas até 11 de agosto, último dia dos Jogos Olímpicos.