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Segurança e prémios continuam a ser as principais preocupações dos ciclistas

Ciclistas em ação na Volta ao Algarve
Ciclistas em ação na Volta ao AlgarveFILIPE FARINHA / BELGA MAG / Belga via AFP
A Associação Portuguesa de Ciclistas Profissionais (APCP) celebra três décadas na quarta-feira, com a segurança em prova, o pagamento de prémios e as condições de trabalho dos corredores ainda como principais preocupações, segundo o seu presidente.

“As preocupações são idênticas às que motivaram a criação da nossa associação, que são sempre as questões das condições de trabalho dos corredores, do pagamento de prémios e das questões de segurança em prova. É isso que se mantém ao longo destes 30 anos, sempre com melhorias. Mas continuam a ser esses os temas fundamentais da existência e da continuação da APCP”, enumerou Paulo Couto, em declarações à Lusa.

Numa modalidade em permanente mutação, “está cada vez mais difícil fazer corridas de ciclismo na estrada, principalmente com ligações de 200 quilómetros”, notou, assumindo que, neste momento, a segurança nas provas é a maior preocupação da sua associação, numa altura em que “as cidades estão mais saturadas e têm mais mobiliário urbano que prejudica a boa circulação do pelotão”.

Para o presidente da APCP, a falta de sinalização é outro dos problemas que os ciclistas enfrentam, embora reconheça que têm sido registadas melhorias.

“Quando assistimos a uma Volta a França, a um Giro, nós vemos alguns melhoramentos com painéis digitais, de viragem à direita, viragem à esquerda. Aqui também temos observado em algumas corridas, felizmente, o aumento da sinalização, da colocação de almofadas nas viragens, nos postos, sinalização mesmo nos passeios, com fitas refletoras”, detalhou.

Ainda assim, os ciclistas estão preocupados porque em “algumas provas nacionais mais pequenas” continuam a existir organizadores “um bocadinho negligentes na questão da segurança”.

“E até espero que este exemplo do que se passou no Algarve reforce esse sentimento dos organizadores, que a segurança dos corredores está em primeiro lugar. Vemos que um erro como aquele que se passou no Algarve custa caro a uma organização, custa caro aos sponsors que apoiam as organizações”, realçou.

Paulo Couto referia-se ao erro de sinalização que levou à anulação da primeira etapa da 51.ª Volta ao Algarve, depois de o pelotão se ter partido em dois e mais de 90 ciclistas terem falhado a meta, ao seguirem pela saída dos carros.

O responsável notou, no entanto, que estes erros também acontecem lá fora, como se viu este fim de semana na Faun-Ardèche, e que, por isso, cabe à APCP escutar os corredores e “todos os dias” alertar os organizadores.

“A associação está no ciclismo para ser um parceiro, para que haja mais corridas, melhores corridas, que haja uma projeção, melhores atletas”, enumerou.

O outro grande problema enfrentado pelos corredores é, atualmente, o pagamento dos prémios conquistados em competição, uma situação agravada pela pandemia de covid-19, que fez com que as organizações tivessem dificuldades em liquidar essas verbas.

“Estamos a trabalhar com a federação para que recebam e pressionem essas organizações, até de corridas de anos anteriores - temos corridas em falta do ano 2021, é inadmissível. Os corredores precisam do dinheiro, isto não é como jogar à bola, não rolam os milhões como no futebol. Os ciclistas portugueses, aqueles que nós defendemos, precisam do valor dos prémios como um complemento importante do seu salário”, denunciou.

Com “muita coisa por regularizar de 2024”, Couto acredita que os organizadores têm a consciência de que “têm que pagar, que têm que regularizar essa situação”, de modo a evitar protestos como o que aconteceu na passada Volta ao Alentejo – os ciclistas atrasaram a partida como forma de reivindicação dos prémios em atraso.

“Não é isso que os corredores querem, isso é em último recurso, fazer um protesto, fazer uma paragem. Não queremos nada disso, eles querem é correr e competir”, notou à Lusa, mostrando-se esperançado que, pela sua anterior ligação à APCP, o atual presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo, Cândido Barbosa, possa “ajudar a regularizar esse pagamento de prémios”.

Numa nota mais positiva, Paulo Couto destacou a melhoria alcançada na situação laboral dos ciclistas, após “uma luta de muitos anos”.

“Finalmente, agora temos os corredores com um contrato de trabalho, com descontos para a Segurança Social. Isso foi uma grande vitória também da associação (…) para que todos possam, acima de tudo, sentir segurança, que estão a abraçar uma profissão, que poderão estar dois, cinco, 10, 15 anos (no ciclismo), mas que depois vão ter um futuro e têm alguma coisa que lhes vai valer a pena andar estes anos todos aqui a sofrer em cima da bicicleta”, concluiu.