O vimaranense de 34 anos perdeu o estatuto de número um português para Nuno Borges, atual 79.º classificado do ranking ATP, no início de fevereiro, mas mostra-se despreocupado com esse facto, preferindo não encarar o maiato de 26 anos como o seu sucessor no ténis português.
“Eu não gosto de falar de sucessões. Acho que o Nuno tem vindo a fazer a campanha dele, pessoal, muito boa, e eu desejo-lhe o melhor. O Nuno é um grandíssimo jogador, e ele só tem que se focar nele, não tem que fazer comparações para comigo ou para outros jogadores que estiveram no passado. Acho que cada um tem o seu caminho, os seus timings, e eu fico contente por ele, está a jogar bem, está agora a 79 do mundo, e acho que isso denota o bom trabalho que ele tem vindo a fazer”, elogiou.
Para o experiente Sousa, “é ótimo ver que há outros atletas portugueses a estar no top 100, a alcançarem grandes feitos”.
“Eu tenho a minha carreira, o meu caminho, e, independentemente se estou um, dois, três (nacional), é indiferente. Eu penso em mim, desejo o melhor aos outros, mas não me abala minimamente. Simplesmente, tento focar-me em mim e (em) tentar voltar onde quero estar”, pontuou.
O melhor tenista português de sempre considera que, hoje em dia, o ténis nacional tem “jovens com bastante talento” e que poderá ter “mais jogadores no top 100”.
“A Federação (Portuguesa de Ténis) está a trabalhar nesse sentido, e acho que está a fazer um bom trabalho. Temos jovens com muito talento, ainda agora o Jaime (Faria) passou o qualifying (do Oeiras Open 3), o Henrique (Rocha) demonstrou no Estoril Open que também pode fazer grandes jogos, e, portanto, acho que temos um futuro promissor”, avaliou.
Em entrevista à agência Lusa, durante o challenger que decorre até domingo no Complexo de Ténis do Jamor, em Oeiras, João Sousa concedeu que “realmente” desbravou “um bocadinho de caminho desconhecido” para as novas gerações – ou não fosse ele o único tenista nacional a ter (quatro) títulos ATP de singulares no currículo e o melhor de sempre no ranking mundial (28.º).
“Os miúdos perceberam que se pode estar lá em cima, que é possível. Acho que fiz o meu papel nesse sentido, como outros anteriormente fizeram, como o Nuno Marques na altura, como o Frederico (Gil), como o Rui (Machado). (…) Obviamente, fico contente de perceber que os miúdos também querem seguir os meus passos, e isso é bom. É bom perceber que há miúdos a quererem ser profissionais de ténis, coisa que na minha época não existia”, notou.
A viver um momento menos bom na carreira, o 157.º classificado da hierarquia mundial mostra-se grato pelo seu percurso, que conta com títulos em Kuala Lumpur (2013), Valência (2015), Estoril Open (2018) e Pune (2022), mas também pelo tratamento que sempre recebeu em Portugal.
“Sempre tive uma relação muito boa com o público, com a imprensa. Acho que Portugal, em termos de imprensa, sempre me cuidou bastante, que é algo que eu tenho vindo a construir, mas também eles têm esse carinho especial por mim. E o público, sem dúvida. O público, mesmo nos momentos maus, está sempre por trás. Vi isso agora no Estoril (Open), casa cheia nos dois jogos em que eu joguei”, recordou.
Independentemente dos seus resultados, Sousa defende que as pessoas “sabem o sacrifício, o duro que é estar ao mais alto nível”.
“Também é muito por isso que eu ainda jogo ténis. Se não, se calhar, quando tive a lesão de 2019, já não jogaria. Ganhar um torneio em Pune e receber milhares de mensagens, isso incentiva-te a continuar a jogar. E acho que... lá está! São esses momentos que te marcam e que te dão força para continuar. E a verdade é que o público português é incrível e tem-me dado muita força”, destacou.
O vimaranense acredita que tal como já deu alegrias aos portugueses, nomeadamente quando ganhou o Estoril Open em 2018, num momento eternizado na memória de quem o viveu, também o público nacional soube retribuir com carinho.
“Acho que é mútuo. Obviamente, os que gostam de ténis e gostam de ver um português a conseguir grandes feitos, acho que contribuí para essa felicidade de muitas pessoas e fico contente. Porque a minha felicidade ser felicidade dos outros, acho que é também um reconhecimento ao meu trabalho. E isso é bonito de se ver, não é? Eu fico feliz por ver isso”, resumiu.