Quando soube que a sua ilha do Pacífico iria acolher as provas de surf dos Jogos de Paris, as ambições de Kauli Vaast reacenderam-se. "Sabia que tinha uma oportunidade, uma oportunidade única na vida", disse à AFP durante uma breve visita a Paris.
Sabia que nessa altura teria 22 anos e que estaria no auge da minha carreira", acrescenta Kauli, cuja pele fortemente bronzeada disfarça o cansaço das doze horas de diferença horária em relação à Polinésia.
No início de junho, o surfista de 21 anos garantiu a qualificação para os Jogos Olímpicos, ao terminar em 5.º lugar no Mundial de El Salvador como o melhor europeu, após uma exaustiva série de repescagens.
Juntou-se a Johanne Defay, de Reunião, e a Vahine Fierro, do Taiti, entre os franceses qualificados para os Jogos Olímpicos, que aguardam um quarto elemento.
"Não é uma onda qualquer"
Ainda longe do topo do ranking mundial, dominado por brasileiros, americanos e australianos, Vaast não parece importar-se de enfrentar as estrelas do momento "em casa". Pelo contrário: "Não tenho medo de ninguém", afirma, com o objetivo de chegar aos 32 melhores surfistas do mundo até lá.
"É uma sorte poder surfar no nosso local preferido do mundo, aquele onde aprendemos tudo e onde crescemos", diz. "Eles (os campeões) são todos muito fortes, mas acho que nós, taitianos, temos essa vantagem. É a experiência que vai entrar em jogo".
Ele provou isso em agosto passado, quando brilhou no Outerknown Tahiti Pro (como convidado), eliminando a lenda americana Kelly Slater nas meias-finais graças a duas ondas que marcaram mais de oito pontos. Vahine Fierro não conseguiu chegar à final.
Teahupo'o, a "parede das caveiras". A sua onda, conhecida pelos polinésios como "Jaws of Hava'e", fascina os surfistas de todo o mundo tanto quanto os assusta. Tendo como pano de fundo um cenário de cartão postal, os seus poderosos rolos azul-turquesa podem por vezes atingir uma altura de dez metros, exigindo que se seja rebocado por um jet-ski.
"Esta onda não é uma onda qualquer. Acima de tudo, é preciso respeitá-la porque ela não brinca connosco. É também difícil de ler e muito rápida, por isso é preciso ser muito forte tecnicamente dentro do tubo", avisa o desportista.
"Aquele Mana que te dá um grande impulso"
Os Jogos Olímpicos em casa, diz, são "apenas um bónus". "A minha família vive a três minutos do local! Será uma mais-valia para a motivação e a confiança. E quando toda a Polinésia nos apoia, sentimos realmente essa energia, esse bom Mana que nos dá um verdadeiro impulso", o nome dessa força superior, na cultura polinésia, que vem dos antepassados e dos elementos.
Embora prometa estar "100% pronto" para o verão de 2024, Vaast mantém os pés no chão. "Pode-se ser um assassino, mas o surf continua a ser muito aleatório. Medimo-nos contra os elementos e, por vezes, eles não nos favorecem", admite, afirmando que quer evitar "a todo o custo" ficar com a cabeça grande como muitas das estrelas do desporto.
"Por vezes, sou um pouco espertalhão, mas tenho a sorte de ter pais que me mantêm na linha!". Hoje, apesar de não ver muito a família e os amigos porque está constantemente a viajar pelo mundo, considera que é "um sacrifício que vale a pena fazer".
Está rodeado por três mentores de renome que conhecem os locais de surf do Taiti como a palma da mão: os surfistas Jérémy Flores e Michel Bourez, bem como Raimana van Bastolae, uma verdadeira lenda da ilha que o tem sob a sua alçada desde a infância.
"Tenho a sorte de os ter do meu lado, sei que me vão ajudar", diz, ansioso por partir para a África do Sul no dia seguinte e continuar a sua digressão de competições mundiais até ao grande evento olímpico.
