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Entrevista Flashscore a Alexandre Müller: "O mais importante é dar o máximo e sair sem arrependimentos"

Alexandre Müller sempre pronto a dar o seu melhor
Alexandre Müller sempre pronto a dar o seu melhorEyepix / NurPhoto / NurPhoto via AFP / Flashscore
Antes de defrontar Stefanos Tsitsipas na primeira ronda do US Open, Alexandre Müller falou ao Flashscore sobre a evolução da sua carreira, a sua época com duas caras e a sua lenta ascensão ao topo, com uma vontade constante de dar o seu melhor.

- Olá Alexandre. Como está a correr a época, fisicamente? 

- Fisicamente, estou bem. É que a digressão é um pouco longa, obviamente. Acho que já estou fora há quase seis semanas. Por isso, é óbvio que é um pouco longa. Há um pouco de saudade da família, etc... que começa a fazer-se sentir. Mas é o último torneio da digressão norte-americana e, para dizer o mínimo, o mais importante, o Grand Slam. Por isso, vamos dar tudo por tudo e ver o que acontece.

- Tem algum arrependimento em relação à sua digressão? Afinal, não estava longe de ser selecionado para o Open dos Estados Unidos...

- Alguns arrependimentos, nem por isso. Porque, bem, eu dei tudo o que tinha a dar em todos os jogos. Depois, houve algumas derrotas que foram muito duras. Por isso, não tive nenhuma ocasião em que me possa arrepender de não ter ganho o jogo. Portanto, não, não me arrependo de nada.

- O sorteio já teve lugar e o seu adversário é Stefanos Tsitsipas. É um jogador com quem já perdeu duas vezes, mas mesmo assim ameaçou-o. Isso ainda lhe dá esperança de se sair bem neste jogo?

- Sim, dá. Ele não está em grande forma neste momento. Por isso, temos de tentar fazer com que ele duvide o mais possível de nós. E o mais cedo possível no jogo, porque sabemos que quando estes jogadores ganham confiança, são muito difíceis de quebrar. Por conseguinte, temos de ser muito bons desde o início do jogo, fazer com que duvidem de nós e, acima de tudo, dar tudo o que temos. Depois, claro, fazer um bom jogo e logo se vê.

- Todos sabemos a situação em que ele se encontra, a sua dinâmica. Há algum receio de o reativar? Sabemos que ele é perigoso, mas está em má forma. Por isso, agora é a altura certa para o enfrentar. Mas tem medo do aspeto mental? 

- Não, não tenho. Só temos de ter isso em mente, dizer a nós próprios que, mesmo que estejamos a ser mal derrotados, talvez ele sirva para o set ou, na pior das hipóteses, sirva para o jogo, mas ele não tem confiança absoluta neste momento. Por isso, temos de continuar a dizer a nós próprios que tudo é possível, que ele pode perder um jogo ou um ponto importante, porque este é um período um pouco mais complicado. Por isso, não se esqueçam disso, mas não digam a vocês próprios "tenho de ganhar porque o Tsitsipas não se sente confiante neste momento". Ele continua a ser um jogador muito bom, que joga um excelente ténis. Por isso, em todo o caso, vai ser um jogo complicado e cabe-me a mim dar o meu melhor.

- O que pensa da sua época até agora? Porque, por um lado, há o seu primeiro título ATP (em Hong Kong, em janeiro), há a final no Rio, há a vitória sobre Alexander Zverev em Hamburgo, a entrada no Top 40. Mas, por outro lado, ainda não ganhou um jogo do Grand Slam...

- Não vou esconder que isso não me vai comover... Como se diz no ténis, não me vai comover. Perdi com o Djokovic. Perdi com o Jakub Menšík em 4 sets. No Open da Austrália, perdi com o Nuno Borges, que estava a jogar muito bem desde o início da época e tinha acabado de chegar à final em Auckland. Nessa altura, também me tinha lesionado em Hong Kong, com uma rotura na perna. Por isso, não foi fácil. E agora, se perder, será contra o Tsitsipas. Para mim, o mais importante é dar tudo por tudo, sair sem arrependimentos. E prefiro ter épocas em que o meu ranking continue a subir, para ir ganhar títulos, grandes corridas, como em Hong Kong e no Rio, e boas vitórias, como disse, contra o Zverev. Mas se for para ganhar a um qualifier ou a um lucky loser e dizer a mim próprio "sim, passei à segunda ronda do Open dos Estados Unidos", tudo bem. Não estou interessado nisso, estou interessado em chegar longe nos torneios. Por isso, obviamente, ainda estamos à espera dos Grand Slams, onde há muitos pontos e muito dinheiro. Esperamos jogar bem nesses torneios, mas isso não é um fim em si mesmo.

- Vai fazer o circuito asiático a seguir? 

- Sim, é esse o plano, a digressão asiática.

- E é mesmo com o objetivo de ser cabeça de série no Open da Austrália? É esse o seu objetivo para o final da época?

- Não propriamente. É mais uma questão de tentar jogar bem e obter os melhores resultados possíveis. Foi um pouco mais difícil conseguir vitórias em sequência. Por isso, em primeiro lugar, temos de tentar ganhar de novo, digamos, várias vezes no mesmo torneio. Porque ali, era uma vitória aqui e outra ali. E depois há torneios em que, por exemplo, há um 250 antes do Shanghai 500 e do 1000. Por isso, estou a tentar ganhar um segundo título, especialmente porque vou ser o primeiro cabeça de série. Portanto, é isso, semana a semana. Mas não estou a pensar em ser cabeça de série na Austrália.

- Planeia o seu calendário em função da possibilidade de ganhar o título? Está bem, temos de jogar o Masters 1000 porque estamos a enfrentar os melhores. Mas esses 250, ou mesmo os 500, não se esquece disso e diz para si próprio: "Tenho hipóteses de ganhar o título e ainda quero construir um pouco de recorde"?

- Sim, é exatamente isso. Depois do Masters 1000, nunca se sabe o que pode acontecer. Veja-se o caso de Terence Atmane, que passou as rondas de qualificação e chegou às meias-finais em Cincinnati, o que é ótimo. Mas no Masters 1000, vai ter de vencer Sinner e Alcaraz no mesmo torneio. Não há dúvida de que as hipóteses de ganhar o título são muito mais reduzidas do que num 250 ou 500.

- Tem 28 anos. Fiz um paralelo com Tsitsipas, um jogador que pertence a uma geração que foi um pouco sacrificada entre os antigos jogadores que partiram e os novos que já estão a dominar. Tenho a impressão de que, em França, é mais ou menos a mesma coisa. Arthur Fils já é o número 1 em França, mas todos os "Mousquetaires" foram embora. E a sua geração, Muller e o Ugo Humbert em particular, que têm 27-28 anos, não sofrem de falta de reconhecimento?

- Entrei no Top 100 aos 26 anos, o que é bastante tarde. Pessoalmente, não me sinto particularmente assim. Estou a fazer a minha própria carreira. Tento ter a melhor carreira possível e, sobretudo, parar depois, a dada altura, sem arrependimentos. Mas no que diz respeito ao reconhecimento, até agora não fiz nada de extraordinário na minha carreira. Tenho um título em Hong Kong, uma final nos 500, mas isso é pouco comparado com o que fizeram Ugo Humbert, Arthur Fils, ou mesmo Giovanni Mpetshi Perricard, que já ganhou um 500 com a sua idade. São jogadores que já têm um registo maior do que o meu. Não sei, acho que é melhor perguntar-lhes a eles do que a mim.

- Não foi selecionado para a Taça Davis em setembro. Lamenta? 

- Perguntaram-me sobre a Taça Davis e eu disse que preferia não falar sobre isso. Penso que cada um pode decidir e tem o direito de decidir sobre os jogadores selecionados. Não estou a dizer nada e cada um pode decidir por si.

- Durante quanto tempo mais se vê no circuito? Como disse, entrou no Top 100 com 26 anos, já joga há muito tempo, mas ainda se vê a lutar durante muito tempo com os problemas físicos que tem?

- Espero durar o máximo de tempo possível. É verdade que, nos últimos tempos, pelo menos fisicamente, tenho tido cada vez mais pequenos problemas aqui e ali. Estou a tentar ter cuidado com isso, mas o objetivo é tentar jogar o máximo de tempo possível. E se, a dada altura, deixar de gostar de entrar em campo e de fazer o esforço necessário para estar ao meu melhor nível, deixo de o fazer. Mas, de qualquer forma, para já, penso que ainda tenho alguns bons anos pela frente. Em todo o caso, espero que sim.

- Como é que as coisas estão a correr fisicamente? Como disse, ganhou Hong Kong, mas lesionou-se na perna. É claro que é lógico que se deve recorrer às reservas para ganhar um torneio. Mas, depois disso, pode ter-lhe custado uma boa prestação no Open da Austrália, que lhe poderia ter valido mais pontos e assim por diante. Como é que se faz malabarismo com tudo isso? 

- Na altura, não se sabe o que se tem. Isso dói. Mas, em todo o caso, como atleta de alta competição, penso que todos os dias há dores que vão e vêm. Por isso, há que jogar com a dor. Rasguei a perna. Acho que foi contra o Arthur Fils nos quartos de final em Hong Kong. Depois disso, ganhei o torneio. Pessoalmente, prefiro ganhar Hong Kong, ganhar o meu primeiro título e tirar 10 dias de férias para curar a perna do que desistir nos quartos de final e não ganhar um título. Depois disso, temos de fazer as nossas próprias escolhas. Mas as pequenas lesões aparecem aqui e ali. Há que fazer malabarismos com elas. É preciso saber lidar com elas. À medida que se envelhece, aprende-se a fazer isso cada vez mais, a lidar com pequenos problemas físicos.

- Tendo em conta a sua época na terra batida, com a final no Rio e a vitória sobre Zverev em Hamburgo, não jogou durante o verão europeu. Foi uma decisão para se preparar para o Open dos Estados Unidos? 

- Foi, porque havia torneios Masters 1000. O objetivo era tentar chegar depois de ter jogado em campos duros para poder jogar bem nestes grandes torneios. Há sempre a questão de saber se vou jogar lesionado ou não. Vou jogar em terra batida para talvez ganhar um 250? Mas não se pode preparar tão bem para os grandes torneios como o Masters 1000. Há sempre muitas escolhas a fazer e temos de fazer uma delas. O mais importante é fazer a escolha, fazê-la cuidadosamente e não ter quaisquer arrependimentos porque, caso contrário, nunca se decide. Decidi jogar em hard court para me preparar para o Masters 1000. Cheguei ao ponto de ser cabeça de série para Toronto. O objetivo é também jogar bem nos grandes torneios, por isso tomei essa opção para tentar maximizar as minhas hipóteses de me sair bem em Toronto. Passei à terceira ronda, o que também não é ridículo, mesmo que se queira sempre mais.

- Tem alguma recordação do jogo contra o Djokovic em Wimbledon? Porque a sua reação na Internet foi engraçada após o sorteio. Mas mesmo assim foi para casa ganhar esse jogo?

- Sim, claro. Depois, mesmo quando estamos empatados a um set contra o Djokovic, sabemos muito bem que não estamos sequer a um quarto do caminho, porque sabemos que ele vai voltar, vai subir o seu jogo e por aí fora. Portanto, é isso, vou voltar para ganhar, mas no fundo também estou a tentar fazer o melhor jogo possível e divertir-me. Foi isso que consegui fazer nesse jogo.

- Por isso, foi uma boa experiência. Essa é uma das suas melhores recordações de um Grand Slam? Bem, não é um tenista com um grande recorde de Grand Slams, mas mesmo assim perdeu muitas vezes contra nomes muito, muito grandes. Então, onde é que coloca esse momento em relação aos outros? 

- Sim, está no meu Top 5. Depois disso, é verdade que os títulos e as finais no Rio são momentos em que se sai por cima. Por isso, continuam a ser momentos de alegria um pouco maior, mesmo que seja contra o Djokokovic no court central de Wimbledon. Ganhar continua a ser mais satisfatório.

- Para já, terminou o Challenger Tour. Mesmo assim, o Challenger Tour é muitas vezes criticado por muitos dos jogadores que por lá passam, que ganham muitos torneios, mas esses jogadores só jogam nos Grand Slams e não jogam nos torneios regulares do ATP Tour. A experiência que teve - esteve 2 anos no Challenger Tour e ganhou 3 títulos - foi fundamental para a sua carreira? 

- Não sei se foi fundamental, mas fiquei muito contente por sair dos Challengers para o ATP Tour. É disso que mais me lembro. Mas o que é certo é que o nível de jogo nos Challengers é muito elevado, e que é difícil subir na classificação. É preciso ganhar muitos jogos para chegar ao circuito ATP. O que é certo é que é tão complicado como o ATP.