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O circuito ATP tem seguido uma certa lógica nos últimos tempos. Ver Jannik Sinner e Carlos Alcaraz repartirem entre si os títulos do Grand Slam nas duas últimas épocas é, afinal, uma consequência natural dessa tendência. E o mesmo poderá acontecer na final do único Masters 1000 disputado em recinto coberto - o de Paris -, que colocará frente a frente dois dos melhores jogadores do mundo em indoor: o italiano e Félix Auger-Aliassime.
Falamos de dois tenistas com mais de 80 vitórias em piso coberto ao longo da carreira. O canadiano conquistou sete dos seus oito títulos nessas condições, incluindo uma impressionante série de 13 triunfos consecutivos e três títulos no final da época de 2022, além de ter levantado recentemente o troféu em Bruxelas. Já o italiano atravessa uma sequência notável de 25 vitórias seguidas indoor, somando oito títulos ATP e o último jogador a derrotá-lo em recinto coberto foi nada menos do que Novak Djokovic.
Duas carreiras contrastantes
Por isso, é curioso, para não dizer surpreendente, que estes dois jogadores se tenham qualificado para aquela que será a sua primeira final em Paris. Em estilos diferentes, é certo, mas o italiano reencontrou claramente a aura que o transformou num dos líderes do circuito mundial. A forma como impediu Alexander Zverev de entrar no jogo, sem nunca perder o controlo ou a confiança, foi uma demonstração notável de maturidade competitiva, um verdadeiro modelo de vitória.
Para Félix Auger-Aliassime, o cenário foi bem distinto. No tiebreak do primeiro set, fez de tudo para garantir a vantagem e acabou por pagar caro o esforço, perdendo o serviço por duas vezes no segundo parcial. Ainda assim, mostrou grande consistência, ao contrário de Alexander Bublik, conhecido pela sua irregularidade, e, nos pontos decisivos, revelou-se o mais forte.
As trajetórias de ambos, contudo, foram bem diferentes. Sinner beneficiou de um bye na primeira ronda, não perdeu qualquer set nem chegou a disputar um tiebreak, exibindo novamente o domínio implacável que o caracteriza. Já Auger-Aliassime cedeu um set nos três primeiros encontros e esteve a dois pontos da eliminação frente a Alexandre Müller, mas reagiu de forma impressionante nas duas rondas seguintes, assinando exibições de grande qualidade.
Olhando para o histórico entre ambos, o favoritismo do italiano é cada vez mais evidente. É verdade que o canadiano lidera o confronto direto por 3-2, mas a última vitória foi… por desistência, no Masters 1000 de Madrid-2024. Em duelos completos, o canadiano não vence Sinner desde 2022 e muito mudou desde então.
Nos tempos mais recentes, defrontaram-se duas vezes. Nos quartos de final do Masters 1000 de Cincinnati, em agosto, Félix Auger-Aliassime foi dominado do princípio ao fim, vencendo apenas dois jogos. Poucas semanas depois, voltaram a cruzar-se nas meias-finais do US Open. Apesar de ter conseguido arrancar um set e resistido durante mais de três horas, a sensação geral foi a de que o transalpino nunca esteve verdadeiramente em perigo ao longo do encontro.
Mais do que o resultado em si, há uma constante: Sinner é um mestre na arte de frustrar os seus adversários e o canadiano não foi exceção nos dois encontros anteriores. Em Cincinnati, cometeu 28 erros não forçados; em Nova Iorque, 41. Do outro lado, o italiano limitou-se a 12 e 22, respetivamente, controlando o jogo do princípio ao fim. Quando domina, Félix reduz as falhas ao mínimo, como demonstrou nos dois últimos encontros (nunca mais de 15). Mas quando é colocado sob pressão e vai sê-lo, tudo se torna mais complicado.
A única solução passa por um serviço implacável, capaz de desarmar o adversário, e por uma pressão constante que lhe permita esperar pela abertura certa, seja num break point ou num tiebreak. Ainda assim, os prémios em jogo são bem distintos: uma vitória garantiria a Auger-Aliassime o último lugar disponível nas ATP Finals, enquanto para Sinner significaria o regresso ao topo do ranking mundial.
É difícil imaginar o italiano a perder esta final, sobretudo porque, nas duas últimas épocas, só um nome conseguiu superá-lo nesta fase: Carlos Alcaraz. É provável que o canadiano tenha não mais do que 10% de hipóteses, mas o ténis em recinto coberto é, por natureza, o palco ideal para as surpresas. Um jogador inspirado no serviço, um favorito que vacila nos tiebreaks... tudo é possível.
Para Félix Auger-Aliassime, este encontro pode ser um ponto de viragem. Uma vitória colocá-lo-ia, enfim, na elite, com o primeiro título de Masters 1000 — algo que persegue desde a meia-final do US Open de 2021. Estará à altura do desafio?
