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Linha de Fundo: Alcaraz vence a lendária final de Roland Garros e Gauff reinou no feminino

Alcaraz posa com o seu troféu
Alcaraz posa com o seu troféuIPA, Independent Photo Agency / Alamy / Profimedia
A nossa rubrica regular sobre ténis, Linha de Fundo, regressa esta semana para o manter atualizado sobre a natureza implacável e rápida dos torneios ATP e WTA. Quem se sagrou campeão, quem teve dificuldades em causar impacto e quais os momentos que mais se destacaram nos últimos dias?

Os vencedores do torneio

Numa final que ficará para a história, Carlos Alcaraz infligiu a Jannik Sinner a sua primeira derrota em finais de Grand Slam, após uma vitória verdadeiramente épica e quase inacreditável sobre o italiano. O jovem espanhol conquistou assim o seu segundo título no Open de França e o quinto Grand Slam da carreira.

Alcaraz chegou a parecer esgotado e derrotado, sem nunca ter recuperado de uma desvantagem de dois sets no passado, enquanto Sinner exibia um nível de jogo impressionante. No entanto, o espanhol encontrou forças onde poucos conseguem, salvando três pontos de campeonato e acabando por vencer num duelo de cinco horas e 29 minutos - a final mais longa da história de Roland-Garros e a segunda mais longa de sempre em torneios do Grand Slam.

Sinner estará, certamente, devastado por ter deixado escapar oportunidades de ouro no quarto set. Mas Alcaraz possui esta capacidade quase sobre-humana de acelerar e atingir níveis de jogo extraordinários nos momentos decisivos — algo que tem demonstrado repetidamente ao longo da sua jovem carreira, sustentado por uma força mental notável. A sua atuação no tie-break do último set foi simplesmente magistral: um irrepreensível 7-0 e um ténis de excelência.

Este será, sem dúvida, um dos grandes jogos de ténis de todos os tempos, e a rivalidade moderna entre Alcaraz e Sinner está claramente a florescer. Uma rivalidade que, espera-se, transcenda o próprio desporto e conquiste o coração e a imaginação de novos fãs um pouco por todo o mundo.

Com cinco vitórias consecutivas sobre Sinner, Alcaraz volta a afirmar o seu domínio. Mas o atual número um mundial sabe que esteve perigosamente perto de ser derrotado — e logo numa superfície onde Sinner tradicionalmente encontra maiores dificuldades. Tudo isto promete um novo capítulo emocionante. Quem não gostaria de assistir já a uma desforra em Wimbledon no próximo mês?

Entretanto, no quadro feminino de Roland-Garros, a norte-americana Coco Gauff fechou com chave de ouro uma excelente temporada em terra batida, ao conquistar o seu segundo título de Grand Slam - e o primeiro em Paris -, com uma vitória dramática por 6-7(5), 6-2 e 6-4 frente à número um mundial, Aryna Sabalenka, na final.

Foi um encontro de grande intensidade, nem sempre fácil de ver, e, como já se tornou habitual, Gauff não apresentou o seu melhor ténis ao longo de todo o torneio, mas voltou a demonstrar uma impressionante capacidade para encontrar caminhos para a vitória. A sua capacidade atlética, inteligência tática e força mental continuam a ser notáveis.

Perante uma Sabalenka que terminou com 70 erros não forçados e que acabou por se deixar dominar emocionalmente, Gauff conseguiu frustrar e superar a líder do ranking, confirmando assim a sua ascensão no circuito feminino.

Aos 21 anos, Aryna Sabalenka continua a construir uma carreira de excelência dentro de campo e mantém um comportamento exemplar fora dele.

A derrota na final de Roland-Garros foi um duro golpe para a bielorrussa, que era apontada como a grande favorita ao longo de todo o torneio, sobretudo após ter eliminado a tricampeã Iga Swiatek.

Contudo, Sabalenka revelou-se incapaz de lidar com as condições de vento e com a capacidade de recuperação de Coco Gauff, acabando visivelmente emocionada após o encontro.

Na conferência de imprensa pós-jogo, foi bastante crítica em relação à sua própria exibição e desvalorizou, em parte, a prestação da norte-americana: "Sinceramente, foi o pior ténis que joguei nos últimos... não sei, nos últimos não sei quantos meses. As condições eram terríveis e ela simplesmente foi melhor do que eu nessas condições. Acho que foi a pior final que já joguei", confessou. 

"Honestamente, às vezes parecia que ela (Gauff) estava a bater na bola a partir da bancada. E, de alguma forma, magicamente, a bola caía dentro do court e nós ficávamos um passo atrás. Parecia uma piada, sinceramente, como se alguém lá de cima estivesse a rir-se, a dizer: 'Vamos ver se consegues aguentar isto'", disse.

Sabalenka admitiu ainda que a derrota foi dolorosa, não só pelo contexto da final, mas também pela forma como vinha a jogar no torneio:

"Não sei... acho que se a Iga (Swiatek) tivesse ganho contra mim no outro dia, ela teria vindo hoje (ontem) e teria conseguido vencer. Sim, dói-me. Sinceramente, dói. Estava a jogar muito bem e depois, no último jogo, entrar em campo e ter o desempenho que tive... isso dói", rematou.

Os derrotados do torneio

A má fase de Stefanos Tsitsipas continua sem dar sinais de travar. Antigo finalista do Open de França e outrora um dos grandes especialistas em terra batida, o grego protagonizou uma eliminação surpreendente logo na segunda ronda, ao perder para Matteo Gigante, número 167 do mundo. A derrota custou-lhe uma descida para o 26.º lugar do ranking ATP — a sua classificação mais baixa em quase sete anos.

Após o desaire, Tsitsipas anunciou a contratação de Goran Ivanisevic como novo treinador — o ex-jogador croata que ajudou Novak Djokovic a conquistar nove títulos do Grand Slam. O grego espera que esta mudança possa marcar o início de um novo ciclo e inverter a tendência negativa.

Outro nome de peso que caiu inesperadamente na segunda ronda foi Casper Ruud, finalista deste torneio em duas ocasiões. O norueguês foi surpreendido por Nuno Borges, num encontro em que aparentou estar a lidar com uma lesão. Ainda assim, o resultado foi particularmente dececionante para Ruud, que com esta derrota desce para o 16.º lugar do ranking mundial.

No quadro feminino, também não faltaram surpresas. A número nove do mundo, Emma Navarro, foi eliminada logo na primeira ronda, após uma pesada derrota por 6-0 e 6-1 frente à espanhola Jessica Bouzas Maneiro. Ver uma competidora tão combativa como Navarro sucumbir de forma tão expressiva foi um dos choques da jornada — embora o mérito pertença inteiramente à jovem espanhola, que apresentou um ténis de grande qualidade.

Momento do torneio

Após a despedida de Rafael Nadal na final da Taça Davis, no final da temporada de 2024, o Open de França já havia anunciado, antes do início do torneio, que preparava uma cerimónia especial para homenagear aquele que é considerado o maior jogador da história do torneio. Com impressionantes 14 títulos conquistados em Roland-Garros, Nadal merecia, naturalmente, uma celebração à altura.

E assim foi. Com o público vestido com camisolas cor de laranja - evocando a cor mítica do saibro parisiense -, Nadal surgiu emocionado enquanto discursava e assistia a um vídeo com os grandes momentos da sua carreira no torneio.

O ponto alto da cerimónia chegou quando as lendas Roger Federer, Novak Djokovic e Andy Murray - rivais e companheiros de uma era dourada do ténis - entraram no court Philippe-Chatrier para partilhar o momento com o espanhol, proporcionando imagens memoráveis.

Por último, mas não menos importante, o Open de França inaugurou uma placa com a pegada de Nadal, colocada junto ao court Philippe-Chatrier, eternizando a sua presença no palco onde construiu grande parte da sua lenda. O espanhol não conseguiu esconder a emoção no momento da revelação, encerrando assim uma cerimónia tão simbólica quanto memorável.

As jogadas do torneio

Durante estas duas semanas em Paris, as pistas de terra batida proporcionaram alguns dos ralis mais espetaculares da temporada, obrigando os jogadores a lutar intensamente e a ir ao limite para conquistar cada ponto.

Holger Rune assinou um golpe de antologia com uma incrível pancada em torno da rede, Novak Djokovic fez recuar o tempo ao vencer um hipnotizante rali de 41 pancadas frente a Alexander Zverev, e Coco Gauff voltou a demonstrar a sua garra inesgotável, complementada por um brilhante backhand que lhe permitiu roubar um ponto decisivo a Aryna Sabalenka na final.

O próximo torneio

Com o final da temporada de terra batida, os circuitos ATP e WTA preparam-se agora para a transição para a relva, com Wimbledon já ao virar da esquina.

Em Londres, o histórico Queen's Club volta a receber um torneio feminino pela primeira vez em 50 anos — uma ocasião que promete ser memorável. Qinwen Zheng, Madison Keys, Emma Navarro e Elena Rybakina encabeçam a lista de favoritas.

Em ‘s-Hertogenbosch, Liudmila Samsonova e Ekaterina Alexandrova partem como principais cabeças-de-série no quadro feminino, enquanto Daniil Medvedev e Ugo Humbert lideram o torneio masculino.

Por fim, em Estugarda, o quadro masculino promete forte competição, com nomes como Alexander Zverev, Taylor Fritz, Ben Shelton e Felix Auger-Aliassime a destacarem-se entre os favoritos.

Confira os sorteios do WTA Queen's, WTA Hertogenbosch, ATP Hertogenbosch e ATP Estugarda.