- Se tivesse de recordar apenas uma coisa da sua carreira, o que seria?
"Muito simplesmente, a oportunidade de ter jogado. Quando era jovem, estava com o Jo (Wilfried Tsonga) e costumávamos ver o Open de França na televisão. Pensar que um dia também eu poderia jogar estes torneios, ir longe em Grand Slams, jogar a Taça Davis... é uma verdadeira oportunidade. Foi uma altura muito emotiva".
- Arrepende-se de alguma coisa?
"Ao longo de uma carreira, é normal haver jogos em que dizemos a nós próprios que podíamos ter feito melhor, mas, de um modo geral, dei tudo o que tinha para tentar melhorar. Por outro lado, havia alguns adversários muito fortes, pelo que nem sempre foi fácil. Havia estes quatro tipos (Roger Federer, Rafael Nadal, Novak Djokovic, Andy Murray, nota do editor) e sabíamos que no Masters 1000, nos Grand Slams, mesmo na Taça Davis, tínhamos sempre de os enfrentar. Para ganhar os grandes torneios, raramente havia falhas. Mas, mesmo assim, foi uma grande época".
- Apesar do domínio do Big Three, Stan Wawrinka e Andy Murray conseguiram ganhar Grand Slams. Qual foi a diferença entre eles e você?
"Eles eram simplesmente melhores. O ténis é fácil. Há uma classificação, um vencedor, não há batota. Penso que o Murray era melhor do que o Wawrinka. Mas Wawrinka progrediu e conseguiu vencê-los (Federer, Nadal e Djokovic, nota do editor) no seu apogeu. E isso é lindo".
- Jo-Wilfried Tsonga, Gilles Simon, Gaël Monfils... gostou de partilhar o palco com os seus contemporâneos?
"Foi bom, porque puxamos uns pelos outros. Quando era jovem, pressionei o Jo porque era mais forte e ele tinha-me na mira. Se ele fez carreira, foi também porque eu estava à frente dele. Monfils e Simon, a mesma coisa, eles evoluíram juntos".
- Quando vê o que Gaël Monfils ainda consegue fazer aos 38 anos, não se arrepende de pendurar a raquete?
"O que ele está a fazer é fantástico. Acima de tudo, é feliz em campo. Espero que continue assim. Eu não o consigo fazer, é muito mais difícil. Tenho (quase) 39 anos, preferia ter 25. Mas é assim que as coisas são. Sabe-se que, a certa altura, quando se é atleta, o corpo e a velocidade tornam-se mais difíceis. Mas, no geral, estou feliz com o que consegui alcançar."
- Apareceu na primeira página de uma revista especializada aos 9 anos, ganhou o seu primeiro jogo no circuito ATP aos 15... a precocidade foi uma vantagem ou um fardo?
"Acho que não estávamos preparados. Eu era muito forte, muito jovem, e nunca tínhamos vivido isso em França. Todos à minha volta aprenderam. Houve alturas em que não tinha pessoas suficientes à minha volta. Não é uma desculpa, é uma pequena coisa que eu gostaria de ter tido. Quando se tem 15, 16, 17 anos, quer-se progredir, mas não com todos aqueles holofotes. Houve alturas em que foi mais difícil de gerir do que outras. Mas bom, essa é a minha história".
- Como é que o ténis mudou desde o início da sua carreira?
"Há menos variedade do que antigamente. Atualmente, há uma tipologia de jogadores que jogam praticamente da mesma forma, batendo muito forte com um grande serviço. Sempre houve jogadores que jogam com ritmo: Tomas Berdych, Robin Söderling... Mas atualmente, em cada 100 jogadores, há 95 que jogam assim!"
- Então o ténis tornou-se mais aborrecido de ver?
"O problema é que o Federer se foi embora. Tenho saudades dele e do seu jogo incrível. Depois disso, gosto muito do (Carlos) Alcaraz, que é uma grande montra para o ténis. Tem um grande jogo. Não devemos desesperar com o futuro".