De facto, Sinner não é o único italiano no top 10 mundial: na segunda-feira, o seu compatriota Lorenzo Musetti subiu ao nono lugar do ranking, depois de ter chegado à final em Monte Carlo e às meias-finais em Madrid.
Sinner, vencedor do Open da Austrália pelo segundo ano consecutivo antes da sua pausa forçada, não é o único jogador do seu país a conquistar títulos ATP esta época: em março, Luciano Darderi e Flavio Cobolli venceram na mesma semana em Marraquexe e Bucareste, respetivamente.
"O ténis italiano vive claramente uma época de ouro", declarou à AFP Filippo Volandri, capitão da equipa que venceu as duas últimas edições da Taça Davis, mais de 40 anos após o primeiro e único título do ténis italiano (1976).
"Mas percorremos um longo caminho e estamos a colher os frutos de um trabalho que começou há muito tempo", acrescenta o homem que chegou a ocupar a 25.ª posição do ranking mundial no início dos anos 2000.
De oito títulos a 31
Para ilustrar esta metamorfose, Volandri, que é responsável pela elite do ténis masculino na Federação Italiana de Ténis (FITP) há nove anos, mostra um gráfico no ecrã do seu telemóvel: entre 2005 e 2015, os tenistas do seu país ganharam oito torneios ATP, enquanto de 2016 a 2025 foram 31, com cinco Masters 1000 e três Grand Slams.
É verdade que só Sinner, 23 anos, ganhou 19 desses títulos (e os três Grand Slams), mas Volandri insiste: "Jannik é filho de um movimento que já começou com Berrettini e a sua final de Wimbledon (em 2021), de um sistema que funciona".
Este sistema baseia-se na "descentralização" implementada no final dos anos 90, disse à AFP Michelangelo dell'Edera, diretor do Instituto Superior de Formação da FITP.
Sistema descentralizado
"Cada departamento tem o seu próprio técnico federal que se ocupa das crianças de 8, 9 e 10 anos; cada região tem o seu próprio pessoal técnico federal encarregado dos jovens entre os 11 e os 16 anos", explica.
A passagem subsequente pelo centro nacional de formação de Tirrenia, perto de Pisa (oeste), que durante muito tempo foi uma condição prévia para atingir o nível superior, deixou de ser obrigatória.
"Descentralizar significa colocar as nossas competências à disposição dos jovens e dos seus treinadores, ir até eles, não os afastar das suas famílias, das suas vidas", acrescenta Dell'Edera.
Esta semana, o ténis italiano conta com nove jogadores no top 100 da classificação mundial, atrás apenas dos Estados Unidos e da França (10 cada).
O renascimento do ténis italiano é também o resultado de mudanças nos métodos de treino e no estilo de jogo.
"Para comparar com outro desporto, passámos da maratona, onde os jogadores encadeavam os golpes de forehand e backhand, para os 100 metros, um ténis de velocidade, onde a importância é dada ao serviço e à devolução, que são os dois golpes que determinam o vencedor de um ponto", explica o treinador.
Da maratona aos 100 metros
Todos os anos, desde há sete anos, pouco antes do torneio de Roma, a FITP reúne os seus 14.000 treinadores num seminário para falar de preparação física ou tática, com intervenções de grandes nomes estrangeiros, como no sábado passado, por exemplo, o tenista espanhol Emilio Sanchez Vicario e o americano Brad Gilbert.
O antigo treinador de Andre Agassi mostrou a sua admiração pelo trabalho da FITP: "Investem como nenhuma outra federação nos seus jovens jogadores, organizam mais torneios ITF do que qualquer outra, muitos Futures e Challengers".
Esta idade de ouro pode estar longe de terminar: "Têm o Sinner, mas não estão a descansar sobre os louros; acabei de ver um Federico Cina de 18 anos, é fantástico", diz Gilbert.