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Naomi Osaka renasce em Montreal: será o novo treinador a chave do sucesso?

Naomi Osaka em ação
Naomi Osaka em açãoMinas Panagiotakis / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP
Assim que terminou a colaboração com Patrick Mouratoglou, Naomi Osaka assinou a sua primeira grande exibição desde o regresso ao circuito, alcançando a final do WTA 1000 de Montreal. Será este o prenúncio de um regresso duradouro ao topo? O US Open poderá trazer a resposta.

Naturalmente, Victoria Mboko foi a grande revelação do torneio canadiano. A jovem promessa, convidada para a competição, superou todas as expectativas e conquistou o primeiro título da carreira num palco de elite, num percurso que remete para o conto de fadas de Emma Raducanu.

Mas o outro grande acontecimento em Montreal foi o regresso em força de Naomi Osaka. A japonesa chegou à sua final mais importante desde Miami 2022 (perdida para Iga Świątek), dissipando dúvidas sobre a sua capacidade de voltar a competir ao mais alto nível.

Desde que regressou ao Tour no início de 2024, depois de ter colocado o ténis em pausa para viver a maternidade, Osaka parecia capaz de derrubar qualquer adversária num jogo isolado, mas faltava consistência para voltar a erguer troféus de prestígio. O exemplo mais claro foi em Roland Garros, quando teve match point diante de Świątek na segunda ronda, mas acabou eliminada.

Sem grandes vitórias, sem finais no WTA Tour e sem passar da terceira ronda de um Grand Slam: a verdade é que Naomi Osaka não conseguia encontrar o rumo certo. Depois da eliminação precoce no US Open 2024, frente a Karolína Muchová na segunda ronda, decidiu reforçar a equipa técnica com um nome bem conhecido: Patrick Mouratoglou.

O treinador francês não precisa de apresentações. Foi com Serena Williams, já vencedora de 13 Grand Slams quando o chamou em 2012, que construiu a reputação de “guru” do ténis moderno. Juntos, conquistaram títulos e prolongaram o domínio da norte-americana, o que catapultou Mouratoglou para o estrelato mediático. Hoje, divide o seu tempo entre o coaching e os comentários televisivos, nomeadamente na France Télévisions, durante Roland-Garros.

Foi precisamente aí que, em 2024, deixou uma frase polémica: “Estamos numa fase do ténis feminino em que não há grandes estrelas.” Uma afirmação que não caiu bem junto da sua então protegida. Coincidência ou não, menos de dois meses depois a colaboração chegava ao fim.

O balanço da parceria: 24 vitórias e 12 derrotas, um título no WTA 125 de Saint-Malo (o primeiro de Osaka em terra batida), uma final no WTA 250 de Auckland - da qual teve de desistir - e quatro triunfos em três torneios do Grand Slam. Ainda assim, menos de um ano depois, a japonesa voltou a mudar de treinador. O episódio confirma que Mouratoglou, mesmo com uma tetracampeã do Grand Slam sob a sua orientação, não é o “profeta” que alguns apregoam.

Wiktorowski, o golpe de mestre?

O WTA 1000 de Montreal trouxe sinais claros de mudança para Naomi Osaka. No seu primeiro torneio após a rutura com Patrick Mouratoglou, a japonesa testou a nova parceria com Tomasz Wiktorowski, treinador que moldou duas das maiores estrelas do ténis polaco: Agnieszka Radwańska, que levou ao Top 5 mundial entre 2011 e 2018, e Iga Świątek, a quem orientou rumo a quatro títulos do Grand Slam, ao número 1 do ranking e a uma impressionante série de 35 vitórias consecutivas em 2022. Um currículo de peso.

E a resposta em court foi imediata. Montreal trouxe de volta alguns lampejos da melhor Osaka em piso duro. Sem defrontar nomes do Top 10, a tetracampeã de Grand Slam derrotou adversárias de peso como Jeļena Ostapenko, Liudmila Samsonova, num duelo épico em que salvou três match points, Elina Svitolina e a jovem promessa Clara Tauson. Só na final foi travada por uma inspiradíssima Victoria Mboko.

O encontro frente a Samsonova acabou por ser o verdadeiro ponto de viragem. Contra uma rival que parecia ter o jogo na mão, a ex-número 1 do mundo conseguiu inverter a maré: recuperou quando a russa servia para fechar o encontro com 6-4, 5-4 e 40-0 e, a partir daí, reencontrou a confiança que parecia perdida.

Naturalmente, Naomi Osaka não hesitou em prolongar a sua parceria com Tomasz Wiktorowski. Em conferência de imprensa, a japonesa explicou a decisão:

"Honestamente, acho que o que funciona bem para mim é a confiança na minha condição física. Sinto-me muito confortável e gosto muito do Tomasz. Também aprecio o seu estilo de treino: ele é muito direto e sem rodeios. Para alguém como eu, cujos pensamentos divagam frequentemente, isso é extremamente útil."

Open dos Estados Unidos como tábua de salvação

É evidente que Naomi Osaka encontrou a fórmula certa e tanto melhor para o ténis. As tiradas de Patrick Mouratoglou sobre a “falta de estrelas” perdem todo o peso quando a japonesa se aproxima novamente do seu melhor nível (o que só tornaria esse regresso ainda mais saboroso). Mas será esse regresso uma possibilidade real ou apenas uma miragem?

A primeira consequência da sua campanha em Montreal (para lá de um ligeiro problema no pulso, que não parece preocupante) foi o regresso ao Top 30, com Osaka a ocupar atualmente o 25.º lugar do ranking mundial. Este salto aumenta a probabilidade de ser cabeça de série no US Open, um feito nada trivial, sobretudo quando se olha para a lista de adversárias que enfrentou nos Grand Slams desde o seu regresso em 2024: Caroline Garcia, Iga Świątek, Emma Navarro, Karolína Muchová, Belinda Bencic, Paula Badosa e Anastasia Pavlyuchenkova. Apenas esta última não figurou no Top 10 (mas foi finalista em Roland Garros). Em todos os casos, tratou-se de rivais de altíssimo nível, e logo nas primeiras rondas.

Com um sorteio mais favorável, tudo aponta para que Osaka possa finalmente disputar a segunda semana de um Grand Slam, algo que não acontece desde o seu último grande título, no Australian Open de 2021. Esse foi também o seu último troféu no circuito WTA, uma anomalia para quem chegou a dominar o ténis feminino. Agora que voltou a provar que pode competir por títulos relevantes, falta-lhe apenas uma vitória de referência para reabrir de vez a porta do topo.

Aquela vitória que lhe escapou contra Iga Świątek, em Roland Garros, no ano passado. Já passaram cinco anos desde que Osaka venceu pela última vez uma jogadora do Top 5. E para dar o verdadeiro salto que relançaria a sua segunda carreira, terá inevitavelmente de derrubar uma dessas gigantes.

Nova Iorque parece o palco ideal. Foi lá que, em 2018, conquistou o seu primeiro título do Grand Slam, tornando-se estrela mundial ao derrotar Serena Williams na final. Agora, a confiança recuperada no Canadá poderá ser a chave para repetir a história no US Open 2025. O sorteio dará pistas mais claras sobre as suas hipóteses, mas uma coisa já é certa: Naomi Osaka não está “acabada”. O seu regresso ao topo, se consolidado, pode marcar o início de uma nova e vibrante fase num circuito WTA cada vez mais competitivo, recheado de estrelas emergentes e consagradas.

Patrick Mouratoglou que se aguente.