O que muda com a nova regra
A partir de setembro, todas as atletas femininas terão de apresentar uma prova única do seu sexo biológico para competir em provas internacionais. O teste, conhecido como SRY, será feito através de uma zaragatoa da bochecha ou de uma amostra de sangue e destina-se a identificar a presença do cromossoma Y.
O presidente da WA, Sebastian Coe, defende que a decisão tem como objetivo “proteger o desporto feminino e assegurar uma concorrência leal”.
Revolta entre atletas e federações
A decisão foi anunciada a 30 de julho, com prazos considerados “apertados” pelas federações nacionais. A campeã olímpica Malaika Mihambo foi uma das vozes mais críticas:
“Tenho uma opinião muito crítica sobre esta medida. Estão a ser gastos enormes recursos num problema pequeno, enquanto as questões realmente prementes - doping, abuso e violência no desporto - continuam por resolver”, afirmou à SID.
A atleta, de 31 anos, também questiona a abordagem científica: “Um único teste genético parece ser uma solução clara, mas é cientificamente míope e ignora o facto de que o género não é um simples isto ou aquilo.”
Outras atletas, como a medalhista olímpica Kristin Pudenz, também manifestaram desconforto:
“Acho estranho que nós, como mulheres, tenhamos agora de provar que somos mulheres. Mas não temos escolha se quisermos competir.”
A posição da Federação Alemã (DLV)
A DLV considera que a introdução da regra num espaço tão curto é “eticamente sensível, legalmente questionável e logisticamente problemática”.
O responsável médico da federação, Karsten Hollander, sublinha que a associação está a fazer “todos os esforços” para adaptar-se às novas diretrizes, mas lamenta a falta de diálogo: “Sinalizámos várias vezes à WA a complexidade deste tema, mas os prazos são extremamente apertados.”
O caso Semenya e o debate sobre testosterona
A decisão surge após anos de polémica sobre atletas com diferenças no desenvolvimento sexual (DSD), como a bicampeã olímpica Caster Semenya. A sul-africana foi obrigada pela WA a baixar artificialmente os níveis de testosterona para competir, medida que contestou judicialmente no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.
Apesar de ter obtido uma decisão parcialmente favorável em julho, a WA considerou que a atual regra era insuficiente e, por isso, avançou com a introdução dos testes genéticos SRY.
Clima de tensão antes dos Mundiais
Com os Campeonatos do Mundo de Tóquio a poucas semanas, a medida gerou incerteza e desconforto entre atletas e federações. A exigência de testes obrigatórios levanta questões legais, éticas e científicas, e promete manter o debate aceso nas próximas semanas.