No sábado, em Tashkent, no Uzbequistão, o empresário de 71 anos, que fez fortuna na indústria metalúrgica, será o claro favorito à reeleição, à frente do seu único adversário, o empresário sueco Otto Drakenberg. É difícil imaginar outro cenário, uma vez que a sua candidatura recebeu o apoio de 103 das 153 federações.
O próprio Usmanov considerou este apoio como "um sinal de confiança e de reconhecimento das realizações da esgrima internacional nos últimos 15 anos", numa declaração de 29 de outubro.
Eleito pela primeira vez em 2008, depois novamente em 2012, 2016 e, finalmente, 2021, o antigo acionista do Arsenal e ex-patrocinador do Everton tinha-se demitido em março de 2022. Na altura, estava sujeito a sanções na sequência da invasão da Ucrânia pela Rússia, que ainda estavam em vigor em setembro.
Descrito no site da União Europeia como tendo "laços particularmente estreitos com o Presidente russo Vladimir Putin" - uma descrição que rejeita -, manifestou na altura o seu desacordo com uma decisão "injusta" e baseada em "alegações falsas e difamatórias".
Congelamento de ativos
O opositor Otto Drakenberg é quase um candidato por defeito, tendo-se apresentado para "propor uma alternativa que apoiasse as estruturas democráticas da FIE", como explicou no site da Federação Sueca de Esgrima.
A oposição baseia-se nas sanções europeias para contestar a candidatura de Usmanov, incluindo a impossibilidade de "visitar a sede da FIE", em Lausanne, ou os países que o sancionaram. "É razoável esperar que o líder da esgrima mundial não seja persona non grata numa grande parte do mundo", lamentou o sueco.
De acordo com Clara Portela, professora da Universidade de Valência, existem exceções às viagens, concedidas caso a caso, mas "não é certo" que possam ser concedidas a alguém que participa numa reunião desportiva.
Usmanov está igualmente sujeito ao congelamento de bens e recursos financeiros, o que poderá ter consequências para o bom funcionamento do organismo internacional.
"Depende da interpretação que for dada a esta interdição", sublinha Clara Portela. "Para alguns países, a Federação não estará sob o seu controlo", devido, nomeadamente, à existência de um comité executivo, acrescenta a professora universitária. Mas o contrário também é possível: os bancos "geralmente preferem não lidar com entidades que envolvam pessoas" na lista de sanções, sublinha Clara Portela.
Assim, embora "não seja impossível que a Federação funcione sob a presidência de Usmanov", isso poderá ser acompanhado de "perturbações".
Usmanov cumpre os critérios da FIE
Questionada pela AFP sobre o possível regresso de Usmanov à presidência, a Federação Internacional não respondeu. Por seu lado, a Federação Sueca de Esgrima pediu ao organismo, presidido interinamente pelo grego Emmanuel Katsiadakis, que rejeitasse a candidatura de Usmanov, que respondeu que cumpria os critérios exigidos para ser candidato, disse à AFP uma fonte próxima das instituições.
Segundo a mesma fonte, o comité de ética do organismo internacional perguntou também "com base em que critérios e em que documentação" a candidatura tinha sido validada.
Se for eleito, Usmanov, que contribuiu pessoalmente para o financiamento da federação, continuará "a tomar todas as medidas necessárias para que as sanções juridicamente infundadas que lhe foram aplicadas não afetem a FIE e as suas atividades", declarou num comunicado enviado àAFP.
O seu possível regresso faz parte de um clima menos hostil para os atletas russos e bielorrussos na cena internacional. Em março de 2023, a FIE foi a primeira a pronunciar-se a favor da reintegração dos atletas dos dois países que tinham sido excluídos da competição um ano antes.