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Voleibol: Como o “dia mais triste” do Sporting ajudou a quebrar hegemonia do Benfica

João Coelho, treinador da equipa de voleibol do Sporting
João Coelho, treinador da equipa de voleibol do SportingSporting CP
O Sporting quebrou na semana passada a hegemonia do Benfica no voleibol masculino, mas o treinador João Coelho lembrou à Lusa que a conquista do título nacional começou a ser construída há um ano, “no dia mais triste”.

Em 07 de maio, a equipa leonina interrompeu uma série de cinco títulos seguidos das águias, ao sagrar-se campeã no quinto e decisivo jogo da final de 2024/25, em pleno pavilhão do rival lisboeta, “o cenário mais difícil de todos” e onde o sonho se desmoronou na época passada.

Foi nessa altura, “quando o grupo estava ferido, no dia mais triste da época”, que o “carinho e apoio” dos sportinguistas, desde o adepto anónimo até ao presidente, Frederico Varandas, trouxe a “paz interior” indispensável para superar as adversidades idênticas com que se confrontou esta temporada.

“Por isso é que eu digo que começámos a ganhar (o título) na final do ano passado, porque se nos tratam tão bem assim, num momento mais difícil, é sinal que não nos estão a falhar com nada e, portanto, sabem reconhecer méritos que vão para lá da vitória ou da derrota”, assinalou o treinador, de 43 anos.

Foi também naquele momento que João Coelho percebeu que, para desalojar o Benfica do poleiro do voleibol português, teria de ultrapassar “o fantasma do fator casa”: “Não conseguimos ganhar na Luz, nem no primeiro, nem no terceiro, nem no quinto jogo”, lamentou.

Esta época, tudo foi diferente. O Sporting ganhou, não uma, mas duas vezes no pavilhão do Estádio da Luz, e fê-lo porque escolheu o caminho mais difícil, ao perder as duas primeiras partidas da final, obrigando-se a vencer as três seguintes, para se impor por 3-2.

“Nunca se reverteu um 0-2 contra uma equipa que tinha o fator casa, portanto, terceiro e quinto jogo decisivos em casa, mas era só mais um problema, porque, na verdade, nós lutávamos contra nós próprios. O nosso melhor nível não era aquele”, sustentou, em referência aos dois encontros iniciais.

João Coelho viu “as coisas muito difíceis”, mas conseguiu “extrair o melhor” dos jogadores: “Mantivemos essa nossa cara e foi exatamente isso que nos permitiu jogar como se estivesse 0-0”, explicou o técnico, e foi dessa forma, ponto a ponto, set a set, jogo a jogo, que conseguiu o que ninguém antes tinha conseguido.

“O grande objetivo é que o trabalho não se esfume nesta época, que isto não seja um ponto de chegada, que seja o início de uma fase em que nós nos batemos por cada ponto, por cada competição e que o próximo título não demore o que demorou, que possa estar já na próxima época”, observou.

Numa época próxima da perfeição, o Sporting atingiu as meias-finais da Taça Challenge e João Coelho até acredita que o voleibol português está mais perto de uma conquista europeia — “é mais possível do que uma equipa portuguesa ganhar a Champions em futebol” —, mas, por enquanto, prefere concentrar-se em objetivos mais tangíveis.

“Obviamente, que a fasquia agora fica mais alta. (...) O mais importante é ter uma equipa competitiva, fiel ao ADN do clube, em que os adeptos se revejam nestes bons exemplos. Naturalmente, manter ao máximo (o plantel), para que se possam criar raízes e referências da modalidade no clube é fundamental”, defendeu.

O treinador dos leões considerou que Portugal é uma potência desportiva mundial e que o voleibol não pode viver à margem dessa condição, avisando que, apesar do potencial “muito alto” das seleções nacionais, a modalidade tem um problema sério na formação de atletas, em especial no setor masculino.

“Temos todos que fazer um pouquinho mais. Há um défice de número de atletas portugueses que sejam capazes de se afirmar já no imediato. Acho que todos os anos devemos ter gerações e gerações de atletas. (...) Sou muito otimista e acredito muito no desenvolvimento do desporto português e do voleibol português”, advertiu.