Mais

Wagner Ribeiro, ex-empresário de Neymar: "Comprei uma luta porque queria-o no Real Madrid"

Wagner Ribeiro, empresário de futebol
Wagner Ribeiro, empresário de futebolCHRISTOPHE PETIT TESSON / EPA / Profimedia

Wagner Ribeiro é um dos nomes mais reconhecidos no futebol brasileiro quando o assunto é representação de jogadores. Iniciou a sua trajetória no mercado de agentes em 2002 e, desde então, construiu uma carreira de destaque ao lado de estrelas como Robinho, Kaká e Neymar. Ao longo dos anos, teve o privilégio de conviver e aprender com referências da área, como Juan Figger e Mino Raiola, desenvolvendo uma rede de contatos privilegiada que lhe garante acesso direto aos maiores clubes do futebol mundial.

Atualmente, Wagner Ribeiro continua em plena atividade, agenciando algumas das principais promessas do futebol brasileiro.

Em entrevista exclusiva ao Flashscore, o experiente empresário relembra momentos marcantes da sua trajetória e não se esquiva de temas delicados: comenta a polémica em torno da acusação de violação que envolve Robinho e sai em defesa de Neymar, frequentemente alvo de críticas.

- Como foi a sua entrada neste ramo de agente de futebol? 

- Eu sempre gostei muito de futebol. Em 1997, o meu cunhado convidou-me para atuar com ele no XV de Jaú. Ele era candidato a prefeito (presidente de Câmara) da cidade. Foi ali que surgiu o França, quando participei na negociação dele com o São Paulo e também da sua ida para o Bayer Leverkusen. As coisas deram certo, gostei do ramo e ali foi a porta de entrada. Depois, vieram outros, como o Kaká. Cheguei a representar um total de 14 jogadores eo conjunto profissional do São Paulo.

- A imagem da figura do empresário hoje é diferente de há 20 ou 30 anos?

- Antigamente, existiam menos empresários. O Juan Figger foi um pioneiro, depois vieram outros nomes importantes como Gilmar Veloz e Gilmar Rinaldi. Existia a impressão no Brasil de que o empresário era um explorador e mercenário, na Europa o pensamento era diferente. Só depois de um tempo é que as coisas ficaram transparentes, percebeu-se a importância do empresário para ajudar clube e jogador. Quando um jogador vai para uma reunião sem um empresário, fica mau para ele. O empresário é um profissional que pensa em dinheiro porque faz parte do negócio. 

- Como atua no mercado atual de jogadores?

- Hoje atuo muito com muitos jogadores de formação, entre 12 e 16 anos, ali está o futuro do futebol. Os clubes precisam de vender os seus jogadores. Sem um empresário, este retorno financeiro dificilmente acontece. O empresário que vende é mais bem visto. 

- Como foi a sua relação com Neymar ainda nos tempos do Santos?

Nunca tivemos nada assinado, sempre foi na base da conversa. Antes dele ir para o Barcelona, comprei uma luta porque queria que ele fosse para o Real Madrid, que pagava mais. Mas jogadores como Messi, Piqué e Suárez convenceram-no a assinar com o Barcelona. Eu tinha uma boa relação com o Florentino Pérez, presidente do Real Madrid, e falei com ele que levaria o Neymar para lá. Criei um problema para mim mesmo.

Quando foi para o Barcelona, viajei com a família. Chegando lá, fui colocado de lado na apresentação porque a imprensa de Barcelona não gostava de mim. Na minha visão, o Real Madrid tinha uma melhor estrutura, era uma equipa que combinava mais com ele e poderia levá-lo a ser o melhor do mundo.  Optou pelo Barcelona e ganhou tudo por lá. A transação para o PSG começou comigo, apresentei o Nasser Al-Khelaifi, dono do clube, ao pai do Neymar. A primeira oferta do PSG foi coberta pelo Barcelona, só depois é que a transferência se confirmou. 

- O Robinho está detido há pouco mais de um ano. A condenação surpreendeu-o?

- Gosto muito dele e da sua família e sou suspeito para falar. Tenho falado com o filho dele (Juninho) e com a esposa Vivi. Não acredito no que dizem, mesmo que tenha sido julgado em todas as instâncias. Ele não violou aquela mulher, foi um caso isolado com uma prostituta numa discoteca. Foi tudo pensado da parte dela, que chegou a pedir um milhão de euros para esquecer o caso. Foi tudo consensual, o que o complicou foi aquele áudio, algo normal para alguém da sua cidade. Eu não acredito que ele a tenha violado, já fui a festas com jogadores do Real Madrid e estes jogadores tinham sempre contacto direto com lindas mulheres. 

Esta violação é uma história sem sentido, ninguém viola uma prostituta. Já disse isso antes e fui atacado por feministas e outros grupos. Estou a defender o o Robinho porque acredito nele, é a minha opinião. Acho que ele não fez nada contra a vontade desta moça. 

- O que dizer de casos como o do Endrick, que aceitam um novo desafio mas acabam por não receber as devidas oportunidades?

- Ele é, hoje, mais importante do que antes para o Real Madrid. Tem apenas 18 anos, tem futebol de seleção e também para ser titular do Real. Já está adaptado, jogar no Santiago Bernabéu não é fácil. Todo jogo são 70 mil adeptos presentes, eles são exigentes. Acredito que, daqui a um ano, será titular no Real. 

- Os jogadores de hoje estão muito mimados?

- O dinheiro mexe muito com a cabeça de qualquer pessoa. Se um jogador vem de uma família mais humilde, recebe muito assédio depois de se tornar rico. É preciso ter uma boa cabeça para gerir todo esse poder. Já tratei com grandes jogadores, poucos são os que conseguem manter a mesma cabeça antes e depois destas transações transformadoras. Lembro de ter dito ao Lucas Moura para manter a cabeça maravilhosa que tinha quando foi para o PSG. Até os adeptos de outros clubes o admiram, algo não muito comum. O Kaká também era um jogador com uma cabeça diferente. Cada um tem sua personalidade. O Neymar, por exemplo, vê a imprensa chateá-lo por tudo. Ele não é casado, honra os filhos e não faz nada de errado com a sua vida. Aproveita o que tem jogando póquer, estando com os amigos na praia e precisa lidar com assédio e fama. A vida de um jogador famoso não é fácil. 

Wagner Ribeiro tem relação próxima com Neymar pai
Wagner Ribeiro tem relação próxima com Neymar paiCHRISTOPHE PETIT TESSON / EPA / Profimedia

- Fica difícil para um empresário tentar convencer um jogador a não ir para um clube do tamanho do Real Madrid, indicando outra opção onde possa ter mais minutos?

- Quando um jogador vai para o Real Madrid e acaba por deixar o clube, sai com o peso de ter sido um flop. Ninguém sai dali deprimido ou pobre. O problema é lidar com a exigência de estar num clube como o Real Madrid, onde já se quer um impacto imediato. No futebol, não funciona assim. O período do Robinho no Real não foi bom, o Kaká enfrentou forte concorrência de Rivaldo e outros jogadores quando chegou ao AC Milan. Era uma opção no banco e foi ganhando espaço. Era para ter ido para o Real Madrid, não foi porque a ideia da equipa espanhola era contratá-lo e emprestá-lo. Com a sequência de jogos no AC Milan, tornou-se o melhor do mundo. 

- Tenta ajudar os atletas na vida financeira?

- Não, eu mostro ao atleta o lado do futebol. Não gosto de sugerir investimentos ou dar ideias do que fazer com o dinheiro. O Neymar gosta de aplicar em imóveis, tem gente que investe na bolsa de valores, outros preferem as criptomoedas. Não me meto na vida económica dos jogadores. 

- Houve algum atleta que lhe deu mais trabalho, que precisasse de ter o comportamento corrigido ou algo parecido?

- Quem dá mais trabalho é pai de atleta que acha que o filho é génio. Eles acham que o filho é craque e precisa de ser titular, não aceita que o treinador tenha outra opção. Acaba por pensar que o treinador tem problema pessoal, que existe mala preta e vem para cima do empresário, como se pudéssemos fazer algo. Às vezes os pais atrapalham mais do que ajudam.  No São Paulo, vivi isso na época do Kaká. O pai de um companheiro de equipa achava que o seu filho era melhor e que eu dava mais atenção ao Kaká. O filho dele ainda estava a começar, havia muito ciúme envolvido.

- Tem algum espelho neste mundo de empresários? 

- O Juan Figger era muito inteligente, tinha as portas abertas em todos os lugares. Ajudou a levar a seleção brasileira para a Europa, tinha escritório em São Paulo e Montevidéu. Foi um visionário. 

- Qual o maior defeito dos agentes de hoje?

- Não gosto de falar dos colegas, cada um tem a sua maturidade e dificuldades. Eu coloco os parentes em primeiro lugar, outros não. Por que tirar pai e mãe das negociações?