Prestes a completar 33 anos e apesar do seu extaordinário percurso, Quintana está à margem do ciclismo profissional após a tempestade desencadeada pela sua desqualificação da Volta a França de 2022, devido à utilização de um medicamento proibido.
Apesar de ter autorização para correr, nenhuma equipa europeia vai contratar o vencedor do Giro d'Italia (2014) e da Vuelta a Espanha (2016), face a um veto promovido por organizações antidoping.
E aqueles que até há meses foram perfilados como substitutos de Nairoman também não estão a despontar: Egan Bernal está a penar para regressar à elite após ter sofrido, há um ano, um grave acidente na Colômbia e Miguel Ángel López regressou a uma equipa local após ser despedido da Astana por alegadas ligações a uma red de doping.
Sem equipa
O pesadelo de Quintana começou no ano passado, quando ele já era o latino-americano mais bem-sucedido de todos os tempos. Foi o primeiro a ganhar o Giro, fez três pódios no Tour (segundo em 2013 e 2015 e terceiro em 2016) e alcançou mais de 50 vitórias profissionais entre etapas e classificações gerais.
Em novembro, o Tribunal Arbitral do Desporto (TAD) manteve a decisão da União Ciclista Internacional (UCI) de retirar-lhe o sexto lugar na Volta a França-2022 por utilizar tramadol, um poderoso analgésico proibido no ciclismo desde 2019.
Na sequência do escândalo, a equipa Arkéa-Samsic rompeu com Quintana, que insiste na sua inocência. Desde então, nenhuma equipa internacional se atreveu a contratá-lo.
"É inegável a atmosfera estranha em que estou e o muro inexplicável que foi erguido entre as possibilidades de competir e o meu desejo de continuar a fazê-lo", confessou o ciclista à imprensa na quarta-feira.
Em 2020 foi alvo de uma rusga policial em que um médico e um cinesiólogo foram temporariamente detidos por suspeitas de doping. Nairo e o seu irmão Dayer foram interrogados.
Com as primeiras competições de 2023 já em curso, o trepador diz estar "disponível para vestir uma camisola", e já foi associado pela imprensa aos italianos do Corratec, do Pro Tour, a segunda divisão do ciclismo.
Porém Serge Parsani, diretor da equipa, negou os rumores. "Assinámos o MPCC (Movimento por um ciclismo limpo) que é uma estrutura que luta contra estes problemas de medicamentos, como o tramadol. (...) É difícil fazermo um acordo com o Nairo", disse à revista Mundo Ciclístico.
"Viraram-me as costas"
Em menos de um mês, Miguel Ángel López deixou de liderar a Astana para regressar ao seu país natal, ingressando na Team Medellin. O colombiano terá uma "ligação provável" com o médico espanhol Marcos Maynar, ligado a uma rede de doping. Esse motivo levou a equipa cazaque a despedir Superman em dezembro.
López tinha sido detido em julho num aeroporto de Madrid no seguimento da investigação contra Maynar, por alegado tráfico de estupefacientes e branqueamento de capitais.
Na Astana "viraram-me as costas, expulsaram-me", disse o ciclista numa entrevista à Blu Radio.
O vencedor da Volta à Catalunha em 2019 encontrou refúgio na Team Medellín, que só pode correr as Grandes Voltas no Velho Continente por convite.
Para o especialista em ciclismo Sebastián Heredia, os fantasmas sobre a sua proximidade com Maynar comprometem o seu futuro. Aos 28 anos, "vai ser muito difícil" para o vencedor da Volta à Suíça-2016 regressar à Europa. Ficou com uma cruz que é difícil de apagar", observa.
Voltar ao início
Egan Bernal, o único latino-americano a ganhar o Tour (2019) e maior candidato a substituir Quintana no trono, teve azar em janeiro de 2022 enquanto treinava perto de Bogotá. O choque contra a traseira de um autocarro a 62 km/h partiu mais de vinte ossos e obrigou-o a parar a carreira. Meses antes tinha ganho o Giro.
Apesar do rápido regresso ao ciclismo, Bernal ainda não recuperou o nível que o tornou líder da INEOS. "Quando o vimos correr na Europa no ano passado, vimos que ele não estava pronto", disse Heredia.
O "menino maravilha" descreveu o acidente, que poderia ter sido fatal, como um ponto de reinício na sua vida. "Têm sido meses de muito trabalho silencioso, que não se vê", disse recentemente ao AS. O ciclista teve inclusivamente de "aprender a escovar a boca e a comer. Esses pequenos passos que tive de dar foram muito dolorosos no início, mas foram feitos com paixão", acrescentou Bernal.