Introdução
Em termos de histórico, a Alemanha é sempre candidata a vencer o Mundial. Entre 2002 e 2014, a mannschaft chegou sempre, pelo menos, às meias-finais, sendo que no Brasil coroaram uma década de enorme sucesso. Foi Gotze, na altura o prodígio, a marcar o golo do título, na final contra a Argentina.
Alemanha e Mundial pareciam encaixar na perfeição. No entanto, o Mundial da Rússia, em 2018, e o Campeonato da Europa de 2020, adiado para 2021 devido ao Covid-19, abalaram essa convicção. Depois de uma derrota com o México, no Campeonato do Mundo, logo na estreia, a equipa não se voltou a recompor, e a Alemanha, na altura orientada por Joachim Low, ficou-se pela fase de grupos. No Europeu, não foi muito melhor: oitavos de final, caindo logo aos pés da Inglaterra.
Agora, no Catar, a espiral negativa é para travar. Mesmo perante a controvérsia da competição, com especia foco na Alemanha, onde várias vozes e iniciativas de boicote tiveram lugar. Nenhum programa de futebol evitou o tema.

Pontos fortes
A abordagem antiquada de Joachim Low foi renovada por Hansi Flick. Estreou-se como selecionador em setembro de 2021, diante do Liechtenstein, envolto em grande expectativa. Iria jogar com linha de três centrais? Defesa a quatro? Em que jogadores iria confiar? Como iria corrigir os problemas no ataque? Esse jogo terminou com uma vitória sem brilho: 2-0. O pequeno Liechtenstein colocava reais problemas à Alemanha. O único ponto positivo desse jogo dava pelo nome de Jamal Musiala, 19 anos, agora dos jogadores mais importantes do Bayern Munique.
Musiala tem agora lugar no onze inicial, num jogo dinâmico com Serge Gnabry e Leroy Sané, complementados na perfeição com as bolas longas de Kimmich e a presença forte de Goretzka.
Por último, mas não menos importante: Mario Gotze está de volta. A história do autor do golo na final com a Argentina é já conhecida: o suposto retrocesso na carreira, quando se mudou para o PSV, e agora o regresso à Bundesliga, pelas portas do Eintracht Frankfurt, num processo que contou com forte assédio do Benfica, pedido expresso de Roger Schmidt, que trabalhou com o talismã da mannschaft nos Países Baixos.
Olhando à equipa-tipo da Alemanha, porém, o bloco do Bayern Munique, com Goretzka e Kimmich, ou mesmo Gundogan, do Manchester City, deverão ser os preferidos.
Em nenhum outro setor da equipa o selecionador alemão tem tantas e tão boas opções como no meio-campo.
Pontos fracos
Hansi Flick tem de lidar com várias ausências devido a lesão. No topo, claro, Marco Reus. Depois de falhar o Mundial do Brasil, agora o tornozelo a trair o médio de 33 anos do Borussia Dortmund. Reus era visto como o talento de uma geração, com a classe necessária para levar a bola para a frente de forma limpa e rápida.
Timo Werner também assumiu, originalmente, um papel importante nesta nova fase da Alemanha. Hansi Flick tentou construir um onze tendo o avançado ex-Chelsea como única referência. Werner encaixava bem no novo sistema, era o ideal para jogar em combinações contra adversários fortes defensivamente. Faltava, porém, a criação de oportunidades. E foi aí que emergiu Lukas Nmecha, um clássico avançado-centro, que muitas vezes atuou como apoio. Pouco antes do Mundial, porém, as lesões boicotaram o esquema original.
Até agora, nem Niclas Fullkrug nem Moukoko jogaram na principal seleção alemã. No entanto, ambos tiveram direito a bilhete para o Catar. Fullkrug jogou com o Werder Bremen no segundo escalão do futebol alemão na última temporada e, esta época, tem dado nas vistas na Bundesliga, com dez golos marcados.
Ainda assim, a falta de experiência leva a que o centro do ataque seja um dos pontos fracos da mannschaft, bem como a posição de lateral-direito. Desde que o antigo capitão Phillip Lahm terminou a carreira, depois da final do Mundial do Brasil, nenhum outro jogador conseguiu fazer esquecer o ex-Bayern. Joshua Kimmich chegou a ser testado mas o lugar dele continuará a ser o meio-campo. Jonas Hofmann ocupou a posição mas no Borussia Monchengladbach pisa terrenos mais atacantes. Daí que, proavelmente, surja Niklas Sule, do Borussia Dortmund, um central adaptado, a tentar ocultar o problema.
Outra opção é Thilo Kehrer. Tem velocidade, capacidade na posse de bola e fortíssimo no desarme. Pode ser utilizado em todas as posições da defesa e encaixa na perfeição no estilo de jogo de Hansi Flick. O selecionador, porém, permanece num mar de dúvidas. Tantas que convocou, com controvérsia, Lukas Klostermann, defesa do Leipzig que conta com apenas dois jogos esta época. E os últimos 90 minutos completos aconteceram a 7 de agosto, diante do Estugarda. Depois disso sofreu uma lesão nos ligamentos, parou durante várias semanas e regressou a tempo de... ir para o banco do Lepzig e ganhar um lugar para o Catar.
XI ideal
Neuer - Kehrer, Süle, Rüdiger, Raum - Kimmich, Goretzka - Gnabry, Musiala, Sané - Havertz.
Hansi Flick gosta de utilizar um sistema tático híbrido. Nos 15 jogos que leva como selecionador nacional, derivou sempre entre um 4x2x3x1 e um 3x2x4x1, dependendo do adversário, com fortes indicadores no papel dos laterais: um claramente ofensivo, o outro juntando-se aos centrais em transição defensiva.
Nessa estratégia, o jogador que normalmente se juntava ao trio defensivo era Thilo Kehrer. O antigo jogador do Paris Saint-Germain, atualmente no West Ham desde agosto, não é um nome de classe mundial mas tem merecido a confiança de Hansi Flick.
De resto, na defesa, tudo mais ou menos definido. O capitão Manuel Neuer é indiscutível, e Rudiger, recuperado de uma lesão na anca, ainda não forçou Alaba a sair do onze inicial no Real Madrid mas, com preparação física apurada no Estugarda, continua a ser indispensável.
Na frente a utilização de Havertz como falso nove parece ser, atualmente, a principal aposta. A possibilidade de Fullkrug ou Moukoko serem titulares parece improvável nesta altura, pelo menos na estreia, diante do Japão.
Previsão
Em 2024, o Campeonato da Europa vai realizar-se na Alemanha, pela primeira vez desde o conto de fadas que foi o verão de 2006. Este será o ensaio geral de uma seleção rejuvenescida, cuja última revolução deu-se com a saída de Mats Hummels (33 anos) e o aparecimento de Armel Bella-Kotchap (20 anos), do Southampton.
No papel, a Alemanha terá de ser levada em conta. De fora, ninguém coloca a seleção alemã no topo dos favoritos. Uma equipa ainda a tentar reencontrar-se e cuja última amostra, na Liga dos Nações, foi negativa, sendo que a derradeira imagem deixou água na boca: vitória por 5-2 com a Itália, em junho.
Uma vitória na estreia, diante do Japão, é obrigatório e, caso suceda, ao contrário do primeiro jogo no Mundial da Rússia, em que perdeu com o México, então o duelo com Espanha, a 27 de novembro, promete definir o primeiro lugar do grupo. O último rival será a Costa Rica, a 1 de dezembro.
Os oitavos de final são, neste grupo, uma obrigação para a Alemanha e, para o Flashscore, o caminho até às meias-finais não está cravado de espinhos. Tudo o que seja à frente disso, uma final ou eventual vitória no Mundial, teria de ser considerada uma tremenda surpresa.