Introdução
Essa foi a primeira vez que uma seleção do continente africano chegou tão longe num Mundial. Depois dessa brilhante campanha, os Leões Indomáveis foram eliminados na fase de grupos de todas as edições em que participaram. Nessa sequência inglória, só venceram um jogo, em 2002, na Coreia do Sul e no Japão. Ou seja: não vence em Mundiais há 20 anos. O desafio é superar esta sina no Catar.
A equipa comandada por Rigobert Song ficou longe de ter uma qualificação tranquila para o Catar. O caminho foi dramático. Após passear na fase de grupos da qualificação, tiveram pela frente a Argélia nos play-offs. Um duro duelo. No primeiro jogo, os Camarões perderam em casa por 1-0. Mas, na visita à Argélia, em Blida, arrancaram um 1-0 no tempo regulamentar e levaram o jogo para prolongamento.
Aos 118 minutos, a Argélia conseguiu tão ambicionado golo que valia o carimbo no passaporte. Mas, nos descontos, Karl Toko Ekambi surgiu para ser o herói do país e colocar os Camarões no Catar. No ano passado, o país foi anfitrião Taça das Nações Africanas, terminando no terceiro lugar após superar o Burkina Faso nas grandes penalidades.
Anunciado em fevereiro deste ano como substituto do português Toni Conceição, Rigobert Song conhece a seleção camaronesa como ninguém. Disputou quatro Mundais pelos Leões Indomáveis como jogador. Em 1994, ele esteve em campo na derrota por 3-0 com o Brasil, que será um dos adversários no Catar. Aos 17 anos, foi expulso, tornando-se no jogador mais jovem a levar um cartão vermelho em num jogo do Campeonato do Mundo.

Song foi evoluindo na seleção de, até chegar à condição de capitão e atuar em grandes clubes do futebol mundial, como o Liverpool. Foram 137 partidas pela seleção camaronesa e cinco golos marcados. Resta saber se, como técnico, ele conseguirá, enfim, quebrar a maldição camaronesa da saída na fase de grupos.
Pontos fortes
Os Camarões possuem jogadores protagonistas em grandes clubes da Europa. São os casos de André Onana, guarda-redes do Chelesa; André-Frank Zambo Anguissa, médio do Nápoles; e Eric Maxim Choupo-Moting, avançado do Bayern de Munique. Uma das peças que foram adicionadas recentemente ao plantel de Song para o Catar foi Bryan Mbeumo, do Brentford, avançado francês que se naturalizou camaronês.
É um elenco com um forte poder ofensivo. Além dos nomes citados, os Camarões contam com Vincent Aboubakar, ex-jogador do FC Porto e agora do Al-Nassr, da Arábia Saudita. Na última Taça das Nações Africanas, foi o melhor marcador do torneio. Todo cuidado é pouco com esta equipa, que tem um estilo de jogo de muita intensidade, com subida pelos flancos e velocidade. É uma formação que pode marcar golo a qualquer momento e contra os qualquer adversário que terá no Catar.
Pontos fracos
O que pode dificultar a vida dos Camarões é o sempre perigoso romance da equipa com as crises internas. O presidente da Federação Camaronesa de Futebol, o ex-jogador e ícone Samuel Eto'o já criticou duramente os jogadores camaroneses este ano e ainda envolveu a seleção em numa polémica troca de fornecedor de material desportivo. Deixaram a Puma de lado e acordaram com a desconhecida One All Sports.

A decisão foi financeira, conforme destacou Eto'o, mas foi vista como um certo tipo de autoritarismo por parte do mandatário. Qual será o tipo de relação que estes atletas vão conservar no Catar com o ídolo do país? A pergunta de milhões. Tudo dependerá de um plantel bastante sólido emocionalmente para superar duas equipas europeias - Sérvia e Suíça - e o Brasil no grupo.
O 11 ideal
Onana - Fai, Castelletto, N'koulou, Tolo - Zambo Anguissa, Hongla, Ntcham - Toko Ekambi, Vincent Aboubakar e Mbeumo.
A grande dúvida de Camarões neste momento é o encaixe de Choupo-Moting, um dos goleadores do Bayern nesta altura da temporada. Song não parece ter muitas dúvidas em relação a outras situações. Ele conta com o seguro Onana entre os postes, além de um sistema defensivo de grande valor e que apoia com qualidade graças às subidas de Fai e Tolo.
No meio-campo, Anguissa deverá ser o cérebro do time, com Ekambi e Mbeumo caindo nas alas e alimentando a presença imponente de Aboubakar no seu terceiro Mundial. Mas é bom que ele fique com os olhos bem abertos porque Choupo-Moting pode roubar-lhe a titularidade, oferecendo um outro tipo de mobilidade ao ataque dos Leões Indomáveis.
Principal disputa
Em 16 jogos com a camisola do Bayern até agora, Choupo-Moting marcou 11 golos, com nove nos últimos oito jogos. Esta já é a temporada mais eficaz do avançado de 33 anos desde 2013/14, quando apontou 11 tentos pelo Mainz. E fez ainda três assistências.
Ele é, sem dúvida, o grande ponto de interrogação de Rigobert Song no ataque camaronês, tornando-se o principal concocrrente de Aboubakar, que vem de apenas 10 golos marcados em 35 partidas pelo Al-Nassr, desde sua chegada ao clube em 2021/22. Bem diferente dos 26 pelo FC Porto em 2017/18 e dos 16 pelo Besiktas em 2020/21.
Mesmo assim, o que não falta a Aboubakar é confiança. Recentemente, declarou não estar impressionado com o desempenho de Salah no Liverpool. Para o camaronês, o egípcio, que já marcou 14 golos em 20 jogos nesta temporada, não está ao mesmo nível de Mbappé. E Aboubakar foi além.
Disse que consegue fazer o mesmo que Salah e atirou: "Eu apenas não tive a oportunidade de jogar num grande clube". Os adeptos postistas não devem ter gostado dessa declaração. Mas, de qualquer forma, a disputar o terceiro Mundial, quem sabe se Aboubakar não conquista o reconhecimento que tanto almeja?
Previsão
Os Camarões calharam num grupo extremamente complicado. Brasil, Sérvia e Suíça chegam ao Mundial a dar cartas. Crescem também as dúvidas sobre como a equipa de Rigobert Song se vai comportar em campo, além da pressão que enfrenta por resultados.
Afinal de contas, 20 anos sem vitórias em Mundiais e 32 anos desde a última ida às eliminatórias potencializam qualquer julgamento precipitado.
Pode não ser uma seleção camaronesa com uma estrela do quilate de Roger Milla ou Eto'o, mas é um coletivo interessante e que pode surpreender. A tendência natural é apontar os Leões Indomáveis como um potencial "saco de pancada", ou seja, os últimos colocados do chave. Mas existem peças suficientes para fazer os camaroneses sonhar.