No último Campeonato da Rússia, em 2018, houve apenas um empate a zero. No Catar, quando ainda não fechámos a fase de grupos, já foram quatro.
Uma das possíveis explicações passa pela aposta cada vez maior dos esquemas com três centrais que rapidamente se transformam numa defesa com cinco elementos, capazes de se protegeram dos jogadores mais criativos como o argentino Leo Messi, o croata Luka Modric ou o dinamarquês Christian Eriksen.
"Há muitas equipas por aí que dizem: 'Não vamos perder este jogo, vamos apostar numa estrutura defensiva sólida'. E normalmente esses jogadores mais criativos precisam desse espaço, que desaparece", afirmou à Reuters Alex Tobin, antigo internacional australiano.
"Esses jogadores precisam desse tipo de espaços e isso não tem existido neste Campeonato do Mundo", acrescenta Tobin, que tem larga experiência em enfrentar... o melhor número 10 do Mundo: mediu forças com Diego Armando Maradona no play-off do Campeonato do Mundo de 1994, que os argentinos venceram por 2-1, no total das duas mãos.
"O Maradona era aquele jogador em que nunca podíamos dar nada como garantido, porque ele podia sempre fazer algo que ninguém previa", recorda o antigo central dos Socceroos, por quem somou 87 internacionalizações.
"Houve momentos em que pensei como um defesa normal: 'Este jogador não pode fazer isso'. E depois pensei visualmente: 'Não, ele é o Maradona, por isso tenho de defender de forma diferente'", acrescenta.
As táticas dos 'underdogs'
A Austrália, logo no jogo de estreia, conseguiu entrar a surpreender a França, utilizando exatamente o tipo de tática que as equipas menos favoritas têm apostado no Catar.
"Penso que é justo dizer que a grande maioria dessas equipas estacionou um autocarro à frente da baliza, saindo depois com passes longos", explica Tobin.
"Sim, essas equipas querem marcar golos, querem avançar mas não querem correr demasiados riscos ao levar a bola através dos jogadores, para não se exporem demasiado", acrescenta o antigo central, questionado depois sobre se, no seu tempo, temia mais a habilidade ou a velocidade nos seus adversários.
"Definitivamente velocidade. Se eu achava que alguém era um metro mais rápido que eu, defendia a 1,1 metros de distância, apenas para saber que se a bola passasse por cima de mim isso seria algo que eu poderia ainda lidar", respondeu.
A Austrália, neste Mundial, ficou com uma ideia do que é uma combinação de habilidade e velocidade, quando ficou a conhecer Mbappé na derrota diante da França, por 1-4.
"Os atributos físicos de Mbappé são incríveis. A habilidade que ele tem e, claro, a sua qualidade. É um jogador culto, de qualidade, e é um atleta simplesmente inacreditável. É difícil lidar com ele de forma tão defensiva", explica Tobin, agora com 57 anos.
"Se houver espaço atrás, é sempre preciso esperar por apoio. A pior coisa que se pode fazer perante Mbappé é fechá-lo e pensar: 'Sim, eu sou aquele tipo duro que entra rapidamente ao lance.' Porque ele vê-te chegar, move a bola, e depois ficas tu preso naquela teia", diz Tobin que, apesar da sua carreira como defesa, gostaria de ver os jogadores criativos a brilhar nas fases a eliminar do Mundial.
"Espero que seja a equipa com os melhores jogadores a ganhar, porque acho que em qualquer Mundial queres ter aqueles momentos Maradona. Talvez Messi possa ainda fazer isso com o atual plantel da seleção argentina", anteviu Tobin.