Análise de Leonel Pontes: "Vitória justa, com identidade, mas dificuldade em criar oportunidades de golo"

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Análise de Leonel Pontes: "Vitória justa, com identidade, mas dificuldade em criar oportunidades de golo"

A vitória de Portugal sobre o Uruguai, vista por Leonel Pontes
A vitória de Portugal sobre o Uruguai, vista por Leonel PontesProfimedia
O treinador Flashscore, Leonel Pontes, analisou a vitória de Portugal sobre o Uruguai por 2-0, na segunda jornada do grupo H do Campeonato do Mundo, no Catar. Para o técnico de 50 anos, Bruno Fernandes foi o melhor jogador em campo e a defesa portuguesa, apesar de não se ter conseguido adaptar às mudanças táticas uruguaias, manteve a coesão e a disciplina.

Introdução

O jogo entre Portugal e Uruguai era determinante para garantir o apuramento para os oitavos de final da prova. A vitória garantia a passagem, faltando ainda um jogo o que permite lutar pelo primeiro lugar do grupo, evitando assim o Brasil nos oitavos e partindo do pressuposto que o Brasil, como candidato ao título, garanta o primeiro lugar do seu grupo. O empate, não garantia a passagem, faltando jogar o último encontro do grupo contra a Coreia do Sul.

A seleção uruguaia tem tradição nesta prova, com 14 participações, duas vezes campeã do mundo (1930 e 1950), tem as suas aspirações, tendo em conta a qualidade, maturidade e experiência dos seus jogadores. Eliminou Portugal nos quartos de final no Mundial da Rússia em 2018, acabando por perder nas meias-finais com a França que ganhou o título.

As equipas

A Seleção Nacional apresentou-se num sistema de 1:4:2:3:1, mas com 3 alterações em relação ao primerio jogo. A entrada de Pepe, devido a lesão de Danilo para defesa central pela direita, a entrada de William Carvalho por lesão de Otávio, para médio centro e a troca de Nuno Mendes por Raphael Guerreiro para a posição de lateral esquerdo.

Apesar deste posicionamento verificaram-se várias alterações posicionais. No entanto, através da observação do quadro de posicionamento, permite-nos verificar, o posicionamento médio de todos os jogadores o que comprova o sistema inicial apresentado.

Posicionamento médio dos jogadores portugueses
Posicionamento médio dos jogadores portuguesesAFP/Opta by Stats Perform

O setor defensivo constituído pelo guarda-redes, Diogo Costa e a linha de quatro defesas:Cancelo na direita, Pepe central pela direita, Rúben Dias central pela esquerda e Nuno Mendes lateral esquerdo. A construção da primeira fase passou muito pelos centrais e guarda-redes. Quando baixava o Rúben Neves do setor médio havia maior profundidade e ligação com o ataque pelo lado esquerdo do ataque.

No setor médio, Rúben Neves e William Carvalho como médios mais posicionais, jogando perto um do outro, mas com funções distintas: enquanto que o Rúben, mais fixo na ligação entre defesas e médios e fixando-se mais no centro do terreno, ora variando o centro do jogo, ora ligando com os médios e avançados, o William "pegava" no jogo na ligação entre médios e avançados e com grande preponderância na dinâmica colectiva, alternando o jogo nos 3 corredores e tendo uma grande participação no jogo.

William Carvalho foi o jogador com mais passes completos
William Carvalho foi o jogador com mais passes completosAFP/Opta by Flashscore

Tem inclusive chegadas a área, numa tentativa de criar situações de finalização (fez o primeiro remate da equipa aos três minutos). No momento de perda de bola e em fase defensiva alternaram a pressão sobre o adversário da sua zona e baixar no terreno para juntar os setores.

Como médio de ataque, Bernardo Silva, com liberdade de movimentos aparecendo em diferentes zonas do campo criando situações de superioridade numérica e criando situações de finalização. Face as marcações individuais foi um jogador que criou muitos problemas à organização defensiva da seleção uruguaia. Defensivamente muito forte na pressão sobre os médios adversários.

No setor ofensivo, João Félix jogou como ala esquerdo e com alguns movimentos interiores, com várias tentativas de progressão e finalização, mas muito agressivamente pressionado por Giménez, colega no Atletico de Madrid. Teve uma boa participação defensiva no corredor.

Ronaldo como maior referência ofensiva, jogando na zona mais próxima da baliza, foi pouco solicitado em profundidade e sem ter tido ocasiões para para finalizar. Tem interferência no golo marcado por Bruno Fernandes, desmarca-se para finalizar e ao tentar fazê-lo cria dúvidas no guarda redes e a bola acaba por entrar.

Bruno Fernandes, que supostamente daria largura pela direita, alternou a largura com movimentos interiores. Foi o melhor jogador em campo. Não só pela sua grande participação em muitas ações (ver quadro), mas acaba por ser determinante ao fazer dois golos.

Bruno Fernandes foi o melhor jogador em campo
Bruno Fernandes foi o melhor jogador em campoOpta by Stats Perform

A seleção do Uruguai jogou num sistema diferente: 1:5:3:2, muito posicional que se alterava em função de estar a atacar ou a defender. Alterou o sistema após o golo sofrido para 1:4:4:2 e foi entre os 70 e 80 minutos que criou três oportunidades de golo em que poderia ter empatado o jogo. Foi uma equipa que defendeu mais do que atacou, como podemos verificar nas estatísticas.

Estatísticas no final do encontro
Estatísticas no final do encontroOpta by Stats Perform

Na defesa composta pelo guarda-redes, Rochet, que alternou a saída curta dentro de área, com a saída mais direta. Esta defesa era composta por 3 centrais, muito posicionais e experientes: Coates, Godín e Giménez. Dois laterais, em que o lateral direito (Guillermo Varela) limitou-se a defender e raramente deu profundidade no corredor e, do lado esquerdo, Mathias Olivera, foi sempre o lateral mais ofensivo aparecendo em zonas de cruzamento. Em fase defensiva formavam uma linha de 5 defesas. Sairam várias vezes a jogar a partir de pontapé de baliza, mas sob pressão os centrais optaram pelo passe longo.

No meio campo a 3, Bentancur era o médio mais defensivo, jogando Valverde como médio interior esquerdo e Vecino como médio interior direito. Na frente de ataque, os dois avançados móveis, Darwín e Cavani.

Média de posicionamento do Uruguai
Média de posicionamento do UruguaiAFP/Opta by Stats Perform

Confronto de sistemas

No confronto de sistemas e nos dois momentos do jogo, defensivo e ofensivo, verificaram-se alguns comportamentos padrão.

Na fase ofensiva e na primeira fase de construção da seleção portuguesa, os nossos centrais foram sempre pressionados pelos dois pontas de lança que raramente saíam a defender para os corredores laterais. No lado esquerdo, Nuno Mendes era pressionado pelo lateral direito, ficando o João Felix para Giménez que se apresentou muito agressivo e com marcação individual mesmo fora da sua zona.

Na direita do nosso ataque a pressão era realizada pelo lateral esquerdo sobre o Cancelo. Bruno Fernandes era pressionado ora pelo lateral, ora pelo Coates a jogar como 3º central pela esquerda. Na zona defensiva do Uruguai um central, ora Godín, ora Coates marcavam o Ronaldo: no meio campo era um 3x3: Bentancur para Bernardo Silva, Vecino para Rúben Neves e Valverde, marcava e pressionava William Carvalho.

Na fase defensiva de Portugal e em bloco alto a equipa portuguesa pressionava com os 3 avançados contra os 3 centrais, com a pressão no meio campo a encaixar nos 3 médios adversários. Os nossos laterais, juntavam-se principalmente numa linha de 4 e esperavam pela chegada dos laterais adversários.

Os nossos centrais em marcação individual: Pepe com Darwín e Rúben Dias com Cavani. Esta marcação foi individual mas na zona dos centrais, com movimentos exteriores, essa marcação passava para os laterais.

Organização tática coletiva e momentos do jogo

O jogo tem vários momentos-chave que determinam o desfecho final:

1.º MOMENTO: oportunidade de golo do Uruguai - Bentancur, aos 31 minutos, com grande defesa do Diogo Costa.

Muito bom jogo de Portugal com controlo e domínio do jogo. Jogo ligado entre os vários setores, com um meio campo muito dinâmico e variabilidade no jogo. Conseguiu-se jogar pelos 3 corredores. Alternância de início de construção entre os centrais e\ou com Rúben Neves. Maior dinâmica pelo corredor esquerdo com Nuno Mendes a ter uma boa participação. Dificuldade em criar situações de finalização, apesar de várias tentativas de remate. Jogo interior com muita dificuldade de penetração face ao aglomerado de jogadores do Uruguai. Portugal teve dois minutos de posse de bola, com 40 passes que culminou com cruzamento do Nuno Mendes, mas sem perigo.

Na reação à perda muito fortes, evitando que o adversário, ligasse o jogo com os avançados. Pressão alta constante sobre os centrais o que obrigou ao Uruguai a jogar mais direto nos avançados e com a aproximação dos médios. Foi nesse jogo direto após pressão alta que na perda de duelo, Bentancur teve espaço de progressão, com os dois médios defensivos atrasados, que numa acão individual, conseguiu driblar William e Rúben Dias aparecendo em situação de finalizar já dentro de área com uma grande defesa do Diogo Costa. Podia ter sido o 1-0 o que mudava o cariz do jogo. Aos 40 minutos lesão de Nuno Mendes que estava a fazer uma grande exibição.

2.º MOMENTO: Golo de Portugal aos 54 minutos, por Bruno Fernandes.

Boa entrada na segunda parte com a jogada pela esquerda, que após cruzamento "cortado" de Bruno Fernandes para a desmarcação de Ronaldo a bola seguiu em direção da malha lateral e acaba por entrar. Ronaldo ao tentar cabecear a bola condiciona o guarda-redes e esta, sem que Ronaldo lhe tocasse entra no 2º poste.

3.º MOMENTO: Alteração de sistema do Uruguai para 4:4:2 e entrada de jogadores

mais ofensivos com criação de 3 oportunidades flagrantes entre os 70 e 80 minutos.

A alteração de sistema do Uruguai. Saída de Godín e entrada de um ala direito, Facundo Pellistri. E a saída de um médio, Vecino, e entrada de um ala esquerdo, Arrascaeta. A equipa passa a jogar em 4.4:2 (linha de 4 defesas, mais linha de 4 médios e dois pontas de lança).

Pellistri é um jogador rápido e intenso com grande capacidade no 1x1, conseguiu vários cruzamentos. Arrascaeta, jogador intenso e com chegada a zonas de finalização. Coincidiu com a saída de Rúben Neves para a entrada de Rafael Leão. Nesta fase começámos a perder o controlo do jogo. O Uruguai troca os dois avançados, Cavani e Darwín por Maxi Gomez e Suárez.

Entre os 70 e 80 minutos, o Uruguai pressiona, domina o jogo e cria três situações de golo: aos 74, remate ao poste de M. Gomez, aos 77, remate de Luis Suárez ao lado, e, aos 78, remate de Arrascaeta já dentro de área e grande defesa de Diogo Costa. A alteração tática e trocade jogadores aumentou a pressão sobre Portugal e o Uruguai poderia ter empatado o jogo.

4.º MOMENTO: Substituições portuguesas aos 82 minutos, voltando ao controlo do jogo com a marcação do segundo golo e criação de várias oportunidades.

Com alguma insegurança no jogo, o selecionador trocou Ronaldo por Gonçalo Ramos, Palhinha por João Félix e William por Matheus Nunes. A equipa passa a jogar no meio com o Palhinha a médio defensivo juntamente com Matheus, mantendo-se Bernardo Silva como médio de ataque e Bruno Fernandes na direita do ataque português.

A partir deste momento passámos a dominar o jogo e a controlar defensivamente o adversário. E o Uruguai não conseguiu criar nenhuma oportunidade de golo. E foi aos 88 minutos, que Bruno Fernandes em progressão driblou o central já dentro de área e este corta a bola com a mão. O VAR intervém e considera penálti. O próprio Bruno acaba por finalizar, fazer o 2-0 e acabar com o jogo. Com o tempo ainda por jogar Portugal acaba por criar mais duas situações de golo, por intermédio de Bruno Fernandes, com remate ao segundo poste e um remate de meia distância ao poste.

Destaques da seleção nacional

Bruno Fernandes – Dois golos e duas oportunidades de golo. Jogador com maior clarividência no jogo ofensivo da equipa.

Diogo Costa – Duas defesas de grande nível a evitar o golo da seleção do Uruguai.

Pepe e Rúben Dias – Anularam os dois avançados do Uruguai.

Conclusão

Vitória justa, com a seleção nacional a mostrar a sua identidade através da posse de bola, com qualidade e critério, mas com muita dificuldade em criar oportunidades de golo contra equipas a defender em bloco muito baixo e atrás da linha de bola.

Boa organização defensiva, mas com dificuldades a adaptar-se às alterações do adversário. Lidou muito bem com a agressividade dos uruguaios mantendo-se coesa e disciplinada. Passagem aos oitavos de final e duas vitórias que nos dão confiança para a terceira jornada, de forma a lutar pelo primeiro lugar.