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Análise de Leonel Pontes: "Fomos dominadores, mas não fomos agressivos ofensivamente"

Análise de Leonel Pontes: "Fomos dominadores, mas não fomos agressivos ofensivamente"
Análise de Leonel Pontes: "Fomos dominadores, mas não fomos agressivos ofensivamente"Opta by Stats Perform, Profimedia
O mister Flashscore, Leonel Pontes, analisou a derrota com Marrocos (0-1) que ditou a eliminação de Portugal do Mundial-2022. Apesar de ter dominado a posse de bola, a equipa das quinas falhou em aproximar-se com perigo da baliza de Bono e acabou por sucumbir perante a organização magrebina. Ficam perguntas para Fernando Santos responder.

Notas prévias

A Seleção Nacional ao iniciar este jogo tem aqui a possibilidade de chegar a umas meias-finais do Campeonato do Mundo.

Face ao resultado anterior com a Suíça, previa-se que Portugal mantivesse os mesmos jogadores para este jogo, no entanto verifica-se que William Carvalho sai do 11 inicial para a entrada de Rúben Neves, mantendo a restante estrutura

Os níveis de confiança são elevados face ao jogo anterior, e porque ao nível de qualidade individual Portugal é claramente superior, havendo o facto de a seleção de Marrocos, ser uma equipa que sofreu poucos golos nesta competição (um contra o Canadá), ganhou à Bélgica, empatou com a Croácia e eliminou a Espanha nos quartos de final.

A seleção de Marrocos, tem mantido a sua equipa base e o seu sistema de jogo, mas face a vários jogadores com problemas físicos acabou por alterar um central, saída de N. Aguerd (5) e entrada de J. El Yamiq (18), e saída do lateral esquerdo N. Mazraoui (24) e entrada de Yahia Allah (25), jogador do WAC.

Surpreendente foi a equipa de arbitragem liderada pelo árbitro Facundo Tello, argentino, e repetindo a arbitragem de Portugal contra a Coreia do Sul.

Na minha opinião, não devia ser o mesmo arbitro a apitar duas vezes a mesma seleção e a sua naturalidade não devia ser de um país que ainda esta em prova, podendo levantar suspeita a qualquer erro cometido.

Concluindo este capítulo, Portugal tinha perfeita noção que ia jogar contra uma equipa competitiva e muito agressiva nos duelos, que defendia num bloco médio, deixando algum espaço nas costas, que fechava muito bem o corredor central e deixava mais livre os corredores laterais, e que após recuperar a bola tinha saídas para o ataque muito rápidas e sustentadas por vários jogadores de trás para a frente. Sobre este momento do jogo os alas são jogadores adequados pela sua verticalidade e coragem no 1x1. Em ataque apoiado e apesar de conseguir jogar com qualidade, sob pressão perdia muitas bolas mesmo correndo alguns riscos na 1ª e 2ª fase de construção.

Nas bolas paradas era uma equipa perigosa, pela qualidade de execução e pelo perfil físico de boa parte dos jogadores Marroquinos.

As equipas e confronto de sistemas

A Seleção Nacional apresentou-se num sistema de 1x4x3x3:, e só com uma alteração em relação ao jogo com a Suíça.  Saída de William Carvalho e entrada de Rúben Neves.

Porquê saiu William carvalho?  O selecionador justificou com questões tacticas: Rúben com melhor variação do jogo em profundidade e melhor cobertura do corredor defensivo, melhor remate de meia distância. Na minha opinião, William tinha sido um dos melhores jogadores no jogo da Suíça, na 2ª fase se construção do jogo, somente por questões físicas é que deveria ficar de fora.

Fomos uma equipa com muita posse de bola, mas fomos menos agressivos, remaáamos mais vezes que o adversário, criando várias situações e golo, mas faltou-nos eficácia nas ações ofensivas.

A equipa dominava o jogo em posse. Era uma posse previsível e que permitia na maior parte do tempo que o adversário se recolocasse novamente.

Rúben Neves foi a única alteração
Rúben Neves foi a única alteraçãoOpta by Stats Perform

Portugal jogava no 4:3:3 habitual, mas com Bruno Fernandes a aglutinar o jogo muito para ele, jogando muito dentro e dando pouca largura, tal como João Félix que vinha dentro e libertava o corredor para Raphael Guerreiro. Face a estes movimentos, aglomerou-se sempre muito jogadores na zona central do campo faltando muitas vezes largura no ataque. Na frente, Gonçalo Ramos pedia muitas vezes a bola no espaço, mas esta raramente entrou. Por esta ordem de ideias foi muito jogado no meio-campo mas com pouca profundidade ofensiva e com pouca largura, tornando.se um jogo previsível.

Os terrenos que o médio pisou
Os terrenos que o médio pisouOpta by Stats Perform

A seleção de Marrocos a jogar no sistema de jogo habitual 1x4x1x4x1, com um guarda-redes, Bono a revelar atenção e muita qualidade e com uma linha defensiva compacta a defender à zona,  e subida no terreno (explorámos poucas vezes esse espaço nas costas), com pouca participação ofensiva em ataque apoiado, mas mais em contra-ataque principalmente pelo lateral direito, Hakimi.

O conjunto magrebino jogou num bloco baixo
O conjunto magrebino jogou num bloco baixoOpta by Stats Perform

Esta linha não se deslocava em marcações individuais mas o jogador que lá entrava era pressionado. Gonçalo Ramos teve uma luta intensa com Saiss (6) e El Yamiq (18).

Bruno Fernandes e João Félix eram marcados pelos laterais e pelos médios. Jogaram muitas vezes entre linhas, mas o espaço fechava.

Amrabt (4) era o médio-defensivo e esteve muito posicional. Não marcou individualmente Bernardo, mas foi alternando a sua pressão aos alas de Portugal, que por ali apareciam. Manteve sempre essa zona curta e organizada. Mas o segredo do sucesso da pressão passou muito pela linha de quatro médios. Fechavam muito o corredor central, nomeadamente Ounahi (8) e Amallah (15), suportados pelos alas, Boufal (17) e Ziyech (7), que além de fecharem o espaço central foram sempre uma ajuda no corredor lateral com a atenção destes aos laterais portugueses. Foram estes médios que alternavam a pressão muito agressiva sobre os centrais portugueses e o médio defensivo Rúben Neves.

O médio foi dos destaques de Marrocos
O médio foi dos destaques de MarrocosOpta by Stats Perform

Foi uma equipa que mostrou uma organização constante e muito focada em termos defensivos e que, em transição ofensiva apoiada e coletiva, conseguiu chegar a zonas perigosas de finalização. O golo é um exemplo de ataque rápido organizado e ligado por passe.

E esse foi o segredo da vitoria, muita coesão defensiva, forte mentalidade e saídas para o ataque perigosas. Neste momento do jogo há que destacar novamente os dois médios centros Ounahi (8) e Amallah (15) com uma capacidade física impressionante nos momentos de transição e a velocidade de chegada a zonas de finalização. Foram sempre jogadores a procura da profundidade do jogo

As dúvidas que se levantam nesta seleção: Porque joga Bruno Fernandes na direita, acabando na maior parte do jogo a jogar por dentro e a aglomerar o jogo nessa zona ocupando espaço de outros? E sabendo que no seu clube joga quase sempre a médio de ataque? Porque joga Bernardo tão recuado e sempre no centro, quando no seu clube joga mais pela direita, vindo para dentro, potenciando o seu pé esquerdo e sendo um criativo que consegue ganhar espaços onde ninguém vê?

Fomos dominadores, mas não fomos agressivos ofensivamente, nem defensivamente. Tivemos o jogo controlado, criamos várias oportunidades de golo e faltou-nos eficácia. O adversário criou 3 oportunidades de golo e fez um golo, acabando por ganhar o jogo.

Momentos do jogo

Primeiro momento: o golo de Marrocos

A seleção Portuguesa entrou bem no jogo, com João Félix (quatro minutos) e Rafael Guerreiro a criarem situações de perigo. Depois chegou o golo dde Marrocos.

Cruzamento da esquerda e golo de cabeça. Rúben Dias perde o duelo com En-Nesyri (19) que vem por trás e salta sobre ele fazendo o tento marroquino. Diogo Costa tem responsabilidade porque sai da baliza, até fora da pequena área para ganhar a bola e falha esse tempo de sal

Nesta fase do jogo, Portugal tentou chegar aos corredores laterais, tentando jogar por dentro e depois por fora. É a única forma de chegar a zonas de finalização.

Segundo momento: alteração tática de Portugal aos 51 minutos

O selecionador pretendeu colocar mais jogadores na área e uma referência de ataque. Retira Rúben Neves e coloca Ronaldo junto de Gonçalo Ramos, e retira Raphael Guerreiro e coloca Cancelo a lateral-esquerdo

Perdemos a partir deste momento capacidade de cruzar com qualidade pelo lado esquerdo a juntar a falta de intensidade e de confiança que Cancelo tem vindo a demonstrar.  E é também a partir deste momento que passamos a jogar mais com o coração do que com clarividência. Jogo muito interior, alguma lentidão a bola chegar a aos corredores laterais, alas adversários a cortar essa linha de passe.

Nesta altura faltava criar superioridade nos corredores para cruzar, visto termos dois atacantes fortes no jogo aéreo.

A seleção marroquina passa a defender mais a baliza troca alguns jogadores desgastados e outros por lesão. E Portugal continua a atacar tentando criar situações de golo. Já com Rafael Leão em campo, substituindo Gonçalo ramos, Vitinha por Otávio e Diogo Dalot (lesão) por Ricardo Horta, Portugal entregou-se ao jogo e ao domínio constante, mas com dificuldade em finalizar.

Terceiro momento: Marrocos fica em inferioridade numérica, com oito minutos para jogar

Momento final do jogo em superioridade numérica e sem mais substituições. O que há a fazer? Pepe passou a jogar a ponta de lança para jogo mais directo. Mas faltou colocar dois jogadores bem abertos e profundos no corredor lateral para chegar bola e cruzar. Nesta altura tínhamos Ronaldo e pepe dentro de área com João Felix e Bruno Fernandes em 2ª bola.

Naturalmente que nesta fase faltou muito discernimento, havendo muito coração da equipa em tentar chegar ao golo, mas sem sucesso, apesar do perigo criado.

Conclusão

Muito mérito da seleção de Marrocos da forma organizada e intensa com que defendeu e teve competência para marcar um golo. Foi uma equipa que revelou uma grande mentalidade, somente defendeu em cima da baliza, nos últimos 20 minutos de jogo.

Portugal foi uma equipa desorganizada ofensivamente, ficando à espera que o talento individual viesse ao de cima. Pouca criação de superioridade numérica nos corredores laterais, e pouca procura da profundidade, principalmente na primeira parte. A bola andou de pé para pé e pouco no espaço. E era a única forma de destabilizar o bloco defensivo adversário.

Faltou competência na finalização: tivemos cinco oportunidades para finalizar a baliza, mas ou era uma interceção de jogador de campo, ou era o guarda-redes adversário ou erro técnico e não conseguimos finalizar.

Os números da partida
Os números da partidaOpta by Stats Perform