Mesmo assim, as seguintes frases devem ser tomadas como uma divertida diversificação do nosso conteúdo. Pelo simples facto de se tratar de um formato de torneio, um dos principais pré-requisitos para uma análise precisa dos dados não será cumprido - nomeadamente uma amostra suficiente dos jogos disputados.
Países Baixos-Argentina: vence a Argentina
De acordo com os modelos de previsão, este é o segundo encontro dos quartos de final mais equilibrado. O ataque neerlandês teve uma boa prestação, mas foi largamente afetado pela lesão de Memphis Depay e pelas experiências forçadas no 11, que agora acabaram.
Com o regresso do avançado do Barcelona, Louis van Gaal tem uma personalidade distinta em todas as posições importantes. Mas o encontro pode também ser decidido pelo homem entre os postes. Sinceramente, não temos a certeza exata de como ele irá afetar o jogo.
Andries Noppert partiu para o Mundial sem uma única internacionalização. Assinou a custo zero pelo Heerenveen antes do início da época atual, e embora esteja entre a média de guarda-redes da Liga neerlandesa nas métricas de dados que avaliam a qualidade de defesas, Van Gaal escolheu-o como número 1.
Numa amostra de quatro jogos realizados até agora, parece ter tido uma boa dose de sorte. De acordo com modelos matemáticos, Noppert já impediu três golos com as suas defesas. Por outras palavras, se o guarda-redes médio do torneio tivesse enfrentado o mesmo número de remates com a mesma qualidade, teria sofrido mais 3 golos, um excelente resultado num curto espaço de tempo.
Em termos de 90 minutos de jogo – o que elimina o facto de nem todos os guarda-redes do torneio terem jogado o mesmo número de minutos – ninguém teve um melhor desempenho. Resta saber se Noppert vai prolongar esta série nos quartos de final...
Os neerlandeses são uma equipa que cria muitas ocasiões de golo de qualidade, mas que também concedem muito contra bons adversários. A Argentina, por outro lado, raramente falha defensivamente, algo confirmado durante o torneio.
Terminou a fase de grupos com a melhor defesa na métrica de golos esperados (xG) concedidos. Apesar de o contexto envolver a Arábia Saudita, México e Polónia, num dos grupos mais fáceis, o bom desempenho apenas confirmou uma tendência de longo prazo. Foi também por isso que a nossa escolha recaiu sobre o plantel à volta de Lionel Messi.
Croácia-Brasil: vence o Brasil
Os dados dos últimos dois anos dizem muito - os croatas chegaram ao Catar com uma das melhores defesas do torneio. Estes pressupostos concretizaram-se nos dois primeiros jogos do grupo contra Marrocos e Canadá, em que a defesa teve um desempenho muito bom e permitiu aos adversários poucas oportunidades de remates perigosos.
No entanto, na partida crucial com a Bélgica, só mantiveram a baliza a zero graças a uma grande quota de sorte. Permitiram aos belgas 12 remates no coração da área, 8 dos quais foram muito boas oportunidades em torno da pequena área e, segundo os modelos matemáticos, deveriam ter perdido por uma diferença de três golos.
Os croatas defenderam muito bem novamente nos oitavos de final com o Japão, mas há também um forte aviso a sublinhar neste jogo. O plantel de Zlatko Dalic foi a oitava pior equipa a defender situações padrão após a fase de grupos.
E, de facto, as duas únicas grandes hipóteses do Japão surgiram de pontapés de canto. O cabeceamento de Shon Taniguchi, logo ao segundo minuto, ainda foi ao lado, mas Daizen Maeda aproveitou ao máximo a oportunidade que lhe caiu nos pés perto do intervalo.
É de esperar que os croatas tenham de defender mais oportunidades padrão contra o Brasil e não podem cometer mais erros.
O Brasil tem atravessado o torneio sem a menor hesitação e, juntamente com um ataque funcional apoiado pelo regresso de Neymar, estão também muito confiantes na defesa. E uma vez que a Croácia não é uma das equipas mais dominadoras ofensivamente, terá dificuldades nos quartos de final.
Inglaterra-França: vence a França
O osso mais duro de roer, uma vez que as hipóteses de as duas equipas avançarem são praticamente iguais, no que toca aos dados. Ambas têm ótimos desempenhos defensivos e ofensivos no torneio, podem contar com os respetivos guarda-redes e têm também a qualidade individual necessária em todas as posições.
Onde há Olivier Giroud de um lado, há Harry Kane do outro. Onde há Kylian Mbappé, há Phil Foden. Antoine Griezmann é um dos melhores jogadores do torneio, mas podemos Jude Bellingham na mesma categoria com toda a segurança. E assim por diante…
Em termos de validação no torneio, os franceses estão ligeiramente melhor, tendo vencido a Dinamarca num desempenho dominante, enquanto a Inglaterra ainda não encontrou um adversário tão difícil.
O que poderá então fazer a diferença? Com a força ofensiva de ambas as equipas, temos de abordar novamente a questão da guarda-redes. Jordan Pickford é o melhor guarda-redes da época atual da Liga inglesa.
Ele domina por uma larga margem a métrica que classifica as defesas de um guarda-redes em remates dentro da grande área, e graças ao seu desempenho, o Everton sofreu menos 8 golos do que os modelos dizem que deveriam.
Hugo Lloris, por outro lado, tem sido um dos piores guarda-redes a travar remates de dentro da área esta época e o Tottenham sofreu mais três golos do que deveria, devido à sua má forma.
Algumas defesas milagrosas de Pickford podem estar ainda vivas nas memórias. Irá tirar uma delas da cartola contra Giroud e Mbappé ou será que as temíveis situações de transição dos franceses serão suficientes para o bater?
Visto que a resposta terá de ser um palpite, continuamos a favorecer um pouco mais a endiabrada dupla francesa neste duelo.
Marrocos-Portugal: vence Portugal
No que toca à métrica de pontos esperados (xP), que calculamos com base na qualidade das oportunidades criadas/aproveitadas e na percentagem de hipóteses que uma equipa tem de ganhar, perder ou empatar nos jogos já realizados, Marrocos é o participante menos merecedor de marcar presença nos quartos de final.
Enquanto somaram 2,59 pontos esperados, o sétimo pior resultado do torneio, na realidade amealharam sete e ficaram no primeiro lugar de um grupo com Croácia, Bélgica e Canadá. No entanto, venceram também o jogo contra a Espanha, um resultado que não pode ser considerado imerecido. Mas como é que isto foi possível?
Em primeiro lugar porque o baixo número de xP no grupo deveu-se a um ataque desinspirado, quarto pior em termos de números e qualidade de hipóteses criadas. No entanto, a defesa funcionou bem e lidou com os ataques espanhóis.
Os espanhóis fizeram mais de 1.000 passes (Marrocos cerca de 300), mas não encontraram bons espaços para os finalizar e o xG (golos esperados) ficou-se pelos 0,71 contra 0,73 dos marroquinos.
Os portugueses não se destacaram ofensiva ou defensivamente no grupo, mas no final de contas avançaram confortavelmente depois de um grupo bastante traiçoeiro. A Suíça estava também na categoria de adversários imprevisíveis, mas os portugueses varreram-nos nos oitavos com um resultado de 6-1, com um confortável xG de 2,79 contra 0,86. Não se pode esperar que Gonçalo Ramos continue a converter todos os remates, mas a qualidade ofensiva está claramente do seu lado.
Os marroquinos podem ter encontrado uma receita tática para os espanhóis, mas os japoneses também encontraram. Em termos de probabilidade, temos de estar novamente ao lado do favorito, embora possa ser mais um encontro renhido.
E o que acontece a seguir?
A confirmarem-se as previsões, o emparelhamento das meias-finais ficam com um Argentina-Brasil e França-Portugal. Não há ainda qualquer informação sobre os jogos dos quartos de final, por isso diremos apenas que o Brasil e França vão encontrar-se na final. Nesse caso, o Brasil será o novo campeão mundial. Simplesmente porque… estão a jogar o melhor futebol.
O selecionador Tite não só tem uma profundidade tremenda no ataque (e Neymar recuperado), como também uma defesa que até agora tem funcionado como um relógio. Isto é graças a Alisson, um dos melhores guarda-redes do mundo, e Casemiro, que ainda é suficientemente bom para tornar a defesa do Manchester United numa das melhores da Premier League com a sua transferência.
A verdade é que o torneio oferece muitas micro-histórias interessantes que praticamente qualquer equipa pode chegar à final.