Com quatro presenças em mundiais, a estreia remonta a 2006, na Alemanha, com uma – até aí talvez improvável – passagem aos oitavos-de-final da prova, ronda em que caiu aos pés do Brasil. Quatro anos depois, o Gana rumou à África do Sul e melhorou o registo anterior com o acesso aos quartos de final, nos quais que se deu um dos momentos mais marcantes do passado recente dos Mundiais. Aos 120 minutos e com 1-1 frente ao Uruguais, Luís Suarez defendeu – literalmente – um remate contrário, lance que lhe valeu a expulsão e que deu a Asamoah Gyan uma oportunidade única de colocar o Gana nas meias-finais. Contudo, o avançado atirou à trave, o jogo seguiu para o desempate por grandes penalidades e foi o Uruguai quem se superiorizou, colocando um ponto final na histórica participação ganesa.
A epopeia continuou em 2014, no Brasil, naquela que foi a terceira presença consecutiva da seleção em Campeonatos do Mundo, mas, simultaneamente, a pior. Durante a competição a polémica estalou, os jogadores acusaram a federação de incumprimento no pagamento dos valores devidos aos jogadores, que ameaçavam não entrar em campo contra Portugal, e o Gana terminou a primeira fase no quarto lugar, com apenas um ponto, num grupo em que a seleção lusa também ficou pelo caminho.
O resultado parecia antever uma quebra nas ambições ganesas, reforçada pelos desgostos sofridos na final da Taça das Nações Africanas (CAN) perdida no ano seguinte. O Gana procurava reinventar-se, mas o terceiro lugar na fase de apuramento para o Mundial-2018 deixou o conjunto africano de fora da Rússia. O cenário piorou na CAN 2021, com o último lugar da fase de grupos, fracasso que custou ao sérvio Milovan Rajevac o lugar de selecionador.

Para o seu lugar... chegaram quatro. Otto Addo, Chris Hughton, George Boateng e Mas-Ud Didi Dramani foram anunciados como “os homens para o trabalho” rumo ao Mundial-2022, tornando a tarefa habitualmente atribuída a uma pessoa numa espécie de missão grupal. Certo é que o objetivo foi-se encaminhando, assente numa qualificação que caiu para os ganeses pelo detalhe e que culminou com um empate (1-1) em Abeokuta, na Nigéria, depois do nulo em Cape Coast no primeiro jogo do play-off.
Oito anos depois, com altos e baixos, as Black Stars, atuais 61.º colocadas do ranking FIFA, estão de volta ao maior palco de seleções do futebol mundial. O Catar é “já ali” e no horizonte estará, garantidamente, a tentativa de aproveitar possíveis falhas de Portugal e Uruguai, os crónicos candidatos aos dois primeiros lugares do grupo H.
Pontos fortes
A qualidade e liderança de Daniel Amartey, defesa do Leicester, de Inglaterra, são suficientes para que se evidencie como o patrão da linha defensiva, dando base a uma estrutura assente num 4-5-1, com o “reforço” Iñaki Williams na frente, ou numa eventual dinâmica com dois avançados, especialmente nos momentos em André e Jordan Ayew possam coincidir em campo.
Iñaki, estrela maior do Athletic Bilbao, parecia reticente em representar o Gana, país de origem dos pais, mas anunciou em julho a decisão de vestir as cores das Black Stars, constituindo uma opção de peso para o ataque. A ele juntam-se os irmãos Ayew, figuras de relevo da formação ganesa, não tivessem, em conjunto, 192 internacionalizações e 42 golos marcados.

No meio-campo, Thomas Partey será o baluarte, atribuindo poderio físico, experiência e leitura ao jogo ganês, que poderá contar, ainda, com a juventude e irreverência de Issahaku Fatawu, extremo do Sporting que conta 13 internacionalizações e um golo, e é visto como uma das grandes promessas de futuro da academia leonina, tendo merecido um lugar entre os eleitos dos selecionadores.
Pontos fracos
O passado recente do Gana tem tido altos e baixos e o ponto fraco poderá estar na incapacidade demonstrada pela equipa em fechar os jogos que disputa.
Nos duelos para a qualificação para o Mundial, só uma das quatro vitórias terminou com uma vantagem de dois golos (3-1 contra o Zimbabué), e as restantes foram pela margem mínima (1-0 contra Etiópia, Zimbabué e África do Sul). Para além destes, os ganeses empataram na Etiópia, depois de terem estado a vencer até cerca de 20 minutos do fim, e perderam, por 1-0, na África do Sul, nos 10 minutos finais.
A reestruturação da seleção, que vem apresentando diferentes soluções para o onze inicial, poderá estar na base de alguma insegurança que torna as prestações da equipa algo imprevisíveis.
XI Ideal
Lawrence Ati Zigi – Tariq Lamptey, Daniel Amartey, Alexander Djiku, Abdul-Rahman Baba –Thomas Partey, Mohammed Kudus, Andre Ayew, Jordan Ayew, Sulemana – Iñaki Williams.
Enquanto se espera pelo arranque do Mundial-2022, tudo não passará de uma previsão. Contudo, pela experiência internacional, aliada à comprovada qualidade técnica e tática, este pode ser um onze capaz de dar dores de cabeça aos adversários do Gana.

Wollacott, que guardou a baliza durante quase toda a qualificação para a prova, lesionou-se à última da hora e perdeu o “comboio” para o Catar, e a opção pode recair sobre Lawrence Ati Zigi, guarda-redes que atua no St. Gallen, da Suíça.
À sua frente, um quarteto defensivo experiente, com Thomas Partey e Mohammed Kudus como esteios no coração da equipa e Andre Ayew ligeiramente adiantado, procurando ligar o meio-campo ao ataque e criar condições para que Jordan Ayew e Sulemana visem a baliza ou descubram o sempre imprevisível Iñaki, cuja ligação ao golo é sobejamente conhecida.
Dúvidas
Nesta fase, e mesmo depois de divulgados os convocados, são algumas as dúvidas que se mantêm, estando a principal relacionada com a estrutura e capacidade defensiva da equipa. Na maior prova de seleções a nível mundial, todos os detalhes contam e todas as falhas e lacunas são cobradas, o que torna fundamental que a organização defensiva seja uma prioridade para os selecionadores ganeses, que a poderão complementar com a comprovada qualidade das soluções atacantes de que dispõem.
Previsão
O amigável contra a Suíça, agendado para dia 17 de novembro, trará certamente uma ideia mais clara sobre a dinâmica e o momento das Black Stars, que terão de mostrar uma competência superior para poderem ambicionar algo mais no Mundial-2022.
Com Portugal e Uruguai como teóricos favoritos aos dois primeiros lugares, o Gana terá de contrariar o (curto) histórico de confrontos contra ambas as seleções, depois das derrotas contra a celeste olímpica, na África do Sul em 2010, e contra a turma lusa, no Brasil em 2014. Contra a Coreia do Sul, por outro lado, o registo pende para os ganeses, que contam três vitórias e duas derrotas nos cinco jogos amigáveis realizados, o último dos quais em 2014.
O Gana é uma das seleções cujas hipóteses não devem ser descuradas, pela qualidade e potencial físico que lhe são característicos. Um bom arranque diante de Portugal, seguido de um possível triunfo frente à Coreia do Sul, no segundo jogo, dariam boas possibilidades de apuramento para os oitavos-de-final do Mundial-2022, e isso será algo que os ganeses procurarão na prova.