Sorridente e confiante. Foi assim que Luka Doncic se apresentou durante toda a fase de pré-época. Uma fase que se seguiu a um Campeonato do Mundo pouco entusiasmante para a Eslovénia, mas também à desilusão da última época dos Dallas Mavericks na NBA. Depois de um início fulgurante em que o base de 24 anos parecia ter tomado as rédeas da equipa com determinação, os texanos nem sequer chegaram aos play-offs.
Líder ofensivo dos Mavs e segundo melhor marcador da época passada, atrás de Joel Embiid, o esloveno deverá provar este ano que é mais consistente e menos errático. Apesar da calma gélida em muitos momentos, o sangue a ferver, por vezes, denuncia-o. Tal como o seu egoísmo, fruto de um talento que por vezes é demasiado grande para ser escondido.
Na madrugrada de quarta para quinta-feira, o esloveno arrancou a época em grande estilo, com um fantástico triplo-duplo (33 pontos, 13 ressaltos, 10 assistências) e uma bela vitória sobre os Spurs de Victor Wembayama.
O salto final
A principal exigência que fazemos a Luka é que se esforce mais, nomeadamente nos treinos. Chega muitas vezes ao final dos jogos sobrecarregado, ou com lesões de stress que são obviamente o resultado de um esforço mal gerido no jogo e também de uma responsabilidade excessiva nos momentos difíceis.
Entre lançamentos forçados e penetrações exageradas, as explosões de Doncic causam por vezes problemas à equipa e a si próprio. Especialmente quando recupera de uma lesão, o esloveno terá de aprender a gerir a sua energia como nunca antes.
A queda de rendimento do ano passado deveu-se tanto a uma falta de consistência no empenho como a um desejo excessivo de dominar em todas as áreas do jogo. Era como se já tivesse atingido o nível de LeBron James ou Kobe Bryant, dois jogadores que, na sua idade (24 anos), tinham de tomar decisões sérias, e sempre de forma individualista.
Prova disso é o jogo em 27 de dezembro, contra os Knicks, em que além de fazer 60 pontos(!), ganhou ainda 21 ressaltos e juntou 10 assistências... Prova de que quer - e consegue - fazer tudo, mas também que estava muito desapoiado.
Viver com Irving e as lesões
Os Dallas tentaram mudar isso com a parceria com Kyrie Irving, estabelecida em janeiro passado. Porém, não tem corrido como planeado. No entanto, o talento em ambos os lados do campo é tão abundante que não pode ser prejudicial a longo prazo. Muito pelo contrário, aliás. Porque o balcânico e o australiano falam a mesma língua - a do basquetebol - e, sobretudo, encaram o jogo da mesma forma, com espaços a conquistar para fugir aos adversários e companheiros ativos para fazer circular a bola a toda a velocidade.
E se, no início da convivência, se podia pensar que havia algum ciúme por parte dos dois, isso terá de acabar este ano. De facto, apesar doestatuto de patrão dos Mavs, Luka teria muito a ganhar se, de vez em quando, desse a bola a Kyrie... que não é nada mau e já ganhou aquilo que o esloveno tanto ambiciona: o anel de campeão.
Para vencer e convencer, Doncic terá de encontrar a harmonia final com Irving e, sobretudo, com o seu corpo. Porque no grande palco, é preciso também saber viver com a dor. Uma melhor gestão da força poderá ser a chave para uma evolução decisiva na sua sexta época na NBA.
