Troca de John Collins é um símbolo da grande latitude financeira dos clubes da NBA

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Troca de John Collins é um símbolo da grande latitude financeira dos clubes da NBA

John Collins saiu por uma ninharia.
John Collins saiu por uma ninharia.AFP
John Collins, apontado como uma futura promessa da NBA, foi trocado pelos Hawks para os Jazz por uma quantia irrisória. Uma ilustração perfeita do poder dos jogadores e da facilidade com que os grandes contratos podem ser distribuídos nas grandes ligas.

Escolhido em 19.º lugar no draft de 2017, John Collins viu a carreira descolar na sua segunda época. A chegada de Trae Young aos Atlanta Hawks deu-lhe um parceiro e a dupla encantou a NBA com inúmeras jogadas espetaculares. A equipa foi crescendo e chegou às finais de conferência em 2021, mas o seu papel diminuiu.

Em 2021, quando era agente livre, os Hawks, depois de muita hesitação, ofereceram-lhe uma extensão de contrato de 125 milhões de dólares por cinco anos. Desde então, tem sido alvo de rumores de transferências, mas nada de concreto. Até à terça-feira, quando Adrian Wojnarowski, o famoso insider norte-americano, anunciou que estava a caminho dos Jazz.

A troco de quê? Quase nada. Rudy Gay, em fim de carreira e pouco utilizado pelos Jazz. Mais uma escolha de segunda ronda do draft. Esta troca é um exemplo daquilo que que se designa por " salary dump", uma transferência feita para libertar margem salaria e, dessa forma, manter-se dentro do teto salarial (salary cap) e utilizar exceções para eventualmente recrutar agentes livres.

Há dois anos que John Collins tem sido mencionado em rumores de trocas - nomeadamente com os Jazz. De facto, após o último prazo de trocas (trade deadline), em fevereiro, o site HoopsHype mencionou nada menos do que 178 rumores sobre uma possível troca! Um número impressionante.

A questão que se coloca é: há dois anos, desde 2021, que os Hawks tentam fazer uma troca. Então, porque é que voltaram a contratar John Collins e a um preço exorbitante? A resposta é simples: para evitar perdê-lo a troco de nada. Mas foi isso que acabou de acontecer.

Então, porquê agora? Porque dinheiro é dinheiro. Os Atlanta vêm de duas épocas "medianas", com duas eliminações na primeira ronda dos playoffs. E ao manter Collins, os Hawks arriscam-se a ultrapassar o limite da famosa"taxa de luxo" (luxury tax). Isto implica o pagamento de sanções financeiras, de acordo com os regulamentos em vigor.

E os proprietários de franchise - muitas vezes bilionários - não têm nada contra o pagamento dessa multa, desde que ganhem. Os Warriors, por exemplo, podem ter de pagar mais em imposto de luxo do que em salários na próxima época. Mas como a equipa já ganhou 4 títulos em 8 anos, o proprietário nunca hesitou em sacar do livro de cheques. O que faz sentido.

Como sabemos, Draymond Green não usou a sua opção de jogador (player option) para renovar contrato. Mas poderia voltar a assinar com um salário mais elevado, que inflacionaria ainda mais a fatura. No entanto, o dinheiro não é tudo, pois alguns proprietários não estão tão interessados em pagar do seu próprio bolso - como os Hawks, obviamente. Especialmente quando o dinheiro é mal gasto.

Embora, de acordo com a Forbes, os Warriors sejam o franchise que mais dinheiro pagou em impostos de luxo no século XXI (337 milhões), o resto do pódio é surpreendente. Os Brooklyn Nets estão em segundo lugar, com quase 300 milhões, e os New York Knicks em terceiro, com quase 250 milhões. Mais uma prova de que o dinheiro não é tudo, visto que estas duas equipas não ganharam nenhum título este século (os Nets venceram as finais duas vezes, em 2002 e 2003).

No sentido oposto, os Bucks, que se sagraram campeões em 2021, investiram "apenas" 57 milhões. Quanto aos novos reis da NBA, os Nuggets, investiram 21 milhões. É claro que estes valores vão aumentar, uma vez que os heróis da recente conquista do título têm de ser pagos. Mas, por outro lado, pagar aos jogadores que já ganharam raramente é um problema.

Só que, desde "A Decisão" (anúncio de LeBron James que assinou pelos Heat), em 2010, entrámos na era do empowerment ("empoderamento") dos jogadores. Estes têm o poder e não se importam - na maior parte das vezes - se o franchise está em condições de suportar um contrato máximo. Querem o máximo de dinheiro possível, ponto final. Ainda não foi há muito tempo que Dirk Nowitzki reduziu o salário de 20 para 5 milhões de dólares nos últimos anos com os Mavericks, para dar ao clube algum espaço para respirar antes da janela da free agency. Esses dias acabaram.

Exemplo nr.º 1: Bradley Beal. No ano passado, depois de uma época mediana, o extremo pediu - e recebeu - um contrato máximo de mais de 250 milhões de dólares ao longo de cinco anos. Mais uma vez, os Wizards não o quiseram perder a troco de nada. Mas, um ano mais tarde, foi-se embora, porque a direção teve luz verde para reconstruir a equipa e isso não era possível com um contrato tão grande. Mais uma vez, a compensação pela troca foi irrisória.

Caso 2: Damian Lillard. Já na posse de um grande contrato, o base assinou uma extensão que lhe permitirá ganhar mais de 63 milhões de dólares em 2026/2027, altura em que terá 36 anos. Há muito tempo que Lillard afirma o desejo de vencer com os Blazers, a única equipa que representou. Mas o diretor-geral da equipa não consegue formar uma equipa vencedora (melhor resultado foi chegar a uma final de conferência).

Por isso, é o jogador mais mencionado nos rumores de trocas. Mas quem é que se atreveria a virar a equipa do avesso para conseguir um contrato destes? É garantido o pagamento da famosa taxa de luxo, e não é pouco. De facto, os Heat, que estavam interessados em Beal, admitiram que não querem pagar essa taxa e que foi por isso que não assinaram contrato com ele. Será que Miami vai fazer o mesmo com Lillard?

Há muito poucos directores gerais ("General Managers") que conseguem dizer "não" às exigências dos jogadores, e esses são os que ocupam os escritórios dos franchises bem geridos. Toda a gente sabe como funciona o sistema, e o limite salarial não é um limite salarial porque pode ser contornado. A NBA é um negócio, estamos sempre a ouvir dizer. É um negócio. Mas também é verdade que muitas franquias estão presas a contratos pesados, com os quais acabam por não saber o que fazer.

Às vezes, é melhor dispensar um jogador do que sobrecarregar as finanças, tudo para começar um novo ciclo. A free agency arranca este fim de semana e, com o aumento do limite salarial, os grandes contratos vão começar a chegar. Mal podemos esperar para ver quem vai correr riscos, quem vai ser enganado e quem vai ganhar o jackpot. Mas a troca de John Collins provou que o valor do contrato não faz um jogador. E muitas vezes a culpa é do franchise.