Christian Horner explica oposição das equipas à entrada da Andretti Cadillac na Fórmula 1
Em entrevista à revista Racer esta quarta-feira, o chefe da equipa de corrida da Red Bull abordou o impasse que envolve a modalidade antes do arranque oficial da temporada 2023, agendado para 05 de março, e a posição das equipas que fazem parte da grelha.
Ao tentar exercer pressão para ultrapassar os obstáculos, Michael Andretti atirou-se às equipas, apelidando-as de "gananciosas" e dizendo, à Forbes, que "é tudo sobre dinheiro". Apesar de ter a sua razão, perde-a ao partir do princípio que a Fórmula 1 não quer, especificamente, a Andretti - ou qualquer equipa norte-americana.
Horner defende que não estão bem explicados os detalhes sobre o porquê de não ser tão fácil conceder à Andretti Cadillac um lugar na grelha em troca de 20 milhões de dólares por equipa, e isso levou a uma interpretação errada.
"A Andretti é uma grande marca, uma grande equipa. O que o Mario fez na Formula 1 - também como norte-americano - é fantástico. Obviamente a General Motors (GM) e a Cadillac seriam também duas marcas fenomenais para ter no desporto e acho que não há discussão sobre isso".
"No entanto, como é costume com estas coisas, no fundo resume-se a "quem é que vai pagar por isso?". E pode-se assumir que as equipas, se perceberem que vão ser elas a pagar - ou a diluir as receitas para acomodar a entrada -, claro que isso não vai cair bem".
"As duas equipas que apoiam (McLaren e Alpine) ou têm uma parceria com (a Andretti) nos Estados Unidos ou vão fornecer-lhes o motor. As outras oito estão a dizer "Bem, espera aí, porque deveríamos nós diluir o nosso elemento do fundo do prémio?" E por outro lado há a Liberty (Media) a dizer "Bem, nós não vamos pagar por isso, estamos contentes com 10 saudáveis e competitivos franchises de uma perspetiva operacional - garagens, logísticas e autocaravanas -, é tudo mais para acomodar".
"Tenho a certeza que prefeririam a entrada no modelo da Audi, em que chegam e adquirem um franchise já existente. Se introduzires mais uma ou duas equipas, diluis o valor dos 10 atuais franchises, em que as equipas - particularmente as do fundo da grelha - têm um valor inerente muito inflacinado neste momento".
"Espero que se encontre uma solução. O mais limpo seria se fossem capazes de tomar controlo de uma das equipas ou franchises existentes, mas são certamente duas grandes marcas que seriam muito, muito bem-vindas na Fórmula 1".
Durante a pandemia e o interesse da Dorilton Capital na compra da Williams - por cerca de 200 milhões de dólares -, a taxa anti-diluição foi fixada no Acordo da Concórdia (Concorde Agreement) tendo em conta o custo esperado da equipa.
Este acordo ajudou a transformar uma equipa em dificuldades num negócio muito mais robusto, com aumento de investimento e outras medidas que a tornaram mais apetecível para investidores externos.
No entanto, Horner acredita que uma verba de entrada maior pode ser um pedido demasiado grande para uma nova equipa, o que levou a Audi investir na Sauber, outros parceiros a estreitar relações com equipas já existentes, e o atual impasse que envolve a Andretti.
"Como todas as coisas, é tudo sobre dinheiro, e penso que seria um ponto de viragem. Se o fundo dos prémios (prize pool) das equipas fosse compensado num valor em que ninguém sairia a perder materialmente, então, claro. Mas qual é esse número? E depois, esse valor seria proibitivo para um novo participante entrar?".
"Nos 18 anos em que estou envolvido já vi certas equipas a chegarem e a irem embora, e penso que é a primeira vez de sempre nos últimos anos que as 10 equipas têm uma base financeira sólida. Geralmente há uma ou duas equipas que estão à beira da insolvência ou falência. Penso que as 10 equipas estão em grande forma, e isso é, em parte, devido à popularidade do desporto, mas também ao limite de orçamento e o facto de haver apenas 10 entradas e 10 franchises."
"Penso que a Fórmula 1 será muito consciente de forma a diluir isso caso venham a ter problemas mais à frente".
A cautela da F1 entra em rota de colisão com as declarações do presidente da FIA, Mohammed Ben Sulayem, que deu as boas vindas ao interesse da Andretti e da GM, dando cada vez mais a impressão de que se trata dessa entrada específica.
"Esta opinião seria comum a qualquer equipa - é irrelevante. Como disse, ter a marca e nome da Andretti e da Cadillac na Fórmula 1 seria fantástico, e esperemos que uma solução possa ser encontrada. Consegues perceber o lado da FIA, eles não têm qualquer consequência financeira disso porque não participam no fundo dos prémios (prize pool), e receberiam cada vez mais taxas de entrada com a participação de mais equipas".
"Então, dá para perceber a FIA querer potencialmente mais equipas na grelha. Mas eu acho que eles precisam de encontrar um alinhamento com os detentores dos direitos comerciais, e o Acordo da Concórdia 2026 parece ser o ideal para resolver isso. Só precisa que todas as partes tenham uma conversa sensível e cheguem a um acordo prático e exequível".
Resta é considerar a recente troca de galhardetes entre a FIA e a F1 que escalou, esta semana, até à ameaça de uma ação legal a ser enviada ao Conselho Mundial do Desporto Automóvel pela Liberty Media, detentora dos direitos comerciais.