João Almeida encara o Giro com “motivação no máximo” antes de tentar Tour em 2024
No sábado, à Grande Partenza de Fossacesia, acorrerá João Almeida como porta-estandarte das ambições lusas, desta feita como único português inscrito, depois de uma aventura em Itália que tem dos melhores capítulos do ciclismo nacional e das páginas mais duras.
Se em 2020 passou por um sonho, ao estrear-se entre a elite do WorldTour com 15 dias vestido de rosa, como líder do Giro, em 2021 teve de vir de trás para a frente para acabar em sexto, seguindo-se um 2022 que parecia destinado ao pódio quando um diagnóstico de COVID-19 lhe retirou essa chance, a dias do fim.
Agora, sente-se “bem preparado e ansioso para que comece a corrida”. “Para começarmos a festa, por assim dizer”, brinca.
Como a motivação “já está no máximo”, diz, não interessa se tem contas por acertar com a corsa rosa, que antecipa, nesta edição, como garantia de “bastante espetáculo”.
“O percurso é duro, com bastante contrarrelógio. Acho que vai ser um bom Giro. Há ali a última semana que vai ser determinante, é a mais dura. Tem tudo para correr bem”, analisa.
Mais quilómetros de contrarrelógio, com dois cronos nas primeiras nove etapas e um último nos derradeiros dias, em formato cronoescalada, “é bastante positivo”. “Quantos mais quilómetros, mais me favorece”, atira.
João Almeida tem agora “mais experiência” e sente “mais confiança”, mesmo que queira manter-se “ciente da realidade, com adversários muito fortes”, mas também “uma equipa muito boa” e um bloco “coeso”.
O ciclista de 24 anos que alinhará à partida no sábado não é o mesmo que se estreou de maglia rosa em 2020, desde logo por estar noutra equipa, no segundo ano na UAE Emirates, por ser um líder já mais incontestado e pela experiência – e mentalidade vencedora – acumulada.
Desde a estreia no WorldTour, segundo contas da Federação Portuguesa de Ciclismo, esteve em 22 provas por etapas e acabou 19 no top-10, nove delas no pódio, e em 2023 manteve a toada: sexto na Volta ao Algarve, segundo no Tirreno-Adriático (e melhor jovem), terceiro na Volta à Catalunha.
“Esses resultados dão-me confiança. Mostram que estou bem. São muito importantes, principalmente porque estive cara a cara com os adversários para o Giro. Acho que foi excelente e dá-me muita confiança”, explica.
Natural de A-dos-Francos, Caldas da Rainha, João Almeida olha para a concorrência, que já enfrentou este ano, e vê todos “um pouco nivelados”, um equilíbrio de que sobressaem, avalia, dois nomes: o antigo colega de equipa belga Remco Evenepoel (Soudal Quick-Step), vencedor da última Volta a Espanha em que também fez ‘top 10’, e o esloveno Primoz Roglic (Jumbo-Visma).
“Partem como favoritos, e talvez estejam ligeiramente acima do resto. De resto, acho que estamos bastante nivelados, há bastantes atletas muito bons, com muita qualidade e que podem discutir o Giro. Por isso, vai ser uma grande corrida”, antecipa.
Uma imagem comum nesta edição é a partilha de liderança em algumas equipas, desde logo na INEOS, do vencedor de 2020, Tao Geoghegan Hart, e do antigo campeão do Tour Geraint Thomas, além de a sua UAE Emirates trazer também o australiano Jay Vine, mas essa questão, para Almeida, “é igual”.
“A estrada acaba sempre por colocar as coisas em perspetiva. Para mim, é igual”, reforça.
Certo é que esta será uma edição especial também por querer uma mudança de cenário para 2024, mesmo que já tenha, nas estradas, muitos adeptos italianos que “gritam o nome” e o apoiam.
“Ter um carinho dos tifosi, como dizem em Itália, é bastante especial. Como são os tugas, estão sempre muitos na estrada”, comenta.
Ainda assim, e com dose dupla na capital francesa em 2024, a ambição é clara.
“Gostava bastante de fazer a Volta a França para o ano. É um dos objetivos para o futuro, assim como os Jogos Olímpicos” em Paris-2024, juntando aqui o útil ao agradável, afirma.
A 106.ª edição da Volta a Itália, a primeira das três grandes Voltas, arranca no sábado com um contrarrelógio na região de Abruzzo e termina em 28 de maio, em Roma, ao cabo de 21 etapas.