Da esperança ao teste positivo no Tour: Quintana e Arkea-Samsic, uma história dececionante

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Da esperança ao teste positivo no Tour: Quintana e Arkea-Samsic, uma história dececionante

Nairo Quintana, desclassificado do Tour, está sem equipa desde 01 de outubro
Nairo Quintana, desclassificado do Tour, está sem equipa desde 01 de outubroProfimedia
Nairo Quintana foi oficialmente desclassificado da Volta à França de 2022. O recurso que apresentou na sequência de um teste positivo para o tramadol no último Grand Boucle foi rejeitado esta quinta-feira. O colombiano prolongou o seu contrato por três anos antes da revelação, em agosto, mas já não vai correr pela Arkea-Samsic. Um epílogo lamentável para um ciclista que deveria colocar a equipa britânica no mapa do ciclismo mundial.

Uma transferência cintilante, com a chegada de três outros (o seu irmão Dayer, Winner Anacona e Diego Rosa) para o apoiar nos Grandes Tours (Tour de France, Giro d’Italia e Vuelta de Espanha): a 02 de setembro de 2019, Nairo Quintana deixou a Movistar, a sua equipas nas oito temporadas anteriores e na qual se estreou profissionalmente, para se juntar à formação britânica.

A Arkea-Samsic convenceu o colombiano, na altura com 29 anos, a assinar um contrato de três anos por um salário de 1,9 milhões de euros anuais. Uma escolha surpreendente, porque mesmo que “O Condor” ainda esteja no auge, os seus melhores anos parecem estar atrás dele. No entanto, a temporada de 2019 mostrou que ainda lhe resta muito no tanque: um 2.º lugar na classificação geral em Paris-Nice, vencedor de uma etapa e 8.º na geral no Tour de France, e uma outra etapa e o 4.º lugar na Vuelta de Espanha.

Estava à procura de uma equipa na qual eu seria feliz. Penso que essa é a chave para um desenvolvimento profissional completo”, explicou, na altura da assinatura do contrato. Para Emmanuel Hubert, diretor-geral da Arkea-Samsic, foi uma aposta cara, mas calculada: com Quintana como cabeça de cartaz, os convites para as corridas mais prestigiadas são mais acessíveis, uma condição sine qua non para subir na hierarquia do ciclismo mundial.

Estreia de fanfarra antes da queda do dominó

Os primeiros meses da época de 2020 mostraram que o colombiano recuperou a sua forma. Depois de um final de temporada tenso com a Movistar, a mudança de ares parecer ter sido boa para Nairo Quintana. Em fevereiro, venceu a etapa Mont-Ventoux/Chalet-Reynard e o Tour la Provence. No mesmo mês, ganhou a etapa Col d’Eze e o Tour dos Alpes Marítimos e de Var. Era o favorito em Paris-Nice, mas caiu na segunda etapa e perdeu toda a esperança de ganhar a prova, embora tenha ganho a última etapa.

Após a pandemia de COVID-19 ter parado a competição, Quintana foi atropelado por um carro em julho. O início das rachas nos azulejos. Na Volta à França, caiu três vezes e acabou mais de uma hora atrás de Tadej Pogacar, num anónimo 17.º lugar.

O espectro do doping

No dia seguinte à chegada aos Campos Elísios (última etapa do Tour), o Ministério Público de Marselha anunciou a abertura de uma investigação sobre suspeitas de doping no seio da equipa Arkea-Samsic. A esquadrão colombiano foi visitado: os irmãos Quintana, Anacona, um médico e um fisioterapeuta do Condor.

Em 16 de setembro, durante uma busca efetuada pelo Gabinete Central de Luta contra os Danos Ambientais e de Saúde Pública (OCLAESP), foram encontradas substâncias nos pertences dos corredores “mas também e sobretudo um método que poderia ser qualificado como doping”, nas palavras do Ministério Público.

Os líderes da equipa britânica defenderam-se o melhor que podiam. “A equipa, o seu diretor-geral e o seu pessoal, que estão atualmente a ser citados nos meios de comunicação social, não estão de forma alguma implicados e, consequentemente, não foram informados de qualquer elemento, direta ou indiretamente, relacionado com o progresso da investigação, que, recordo-vos, não é dirigida diretamente à equipa ou ao seu pessoal”, vincou Emmanuel Hubert, em declaração.

O detalhe é importante: o médico e fisioterapeuta em questão não são empregados pela Arkea-Samsic, mas fazem parte da família de Quintana. Esta foi uma comunicação de emergência clara e inequívoca porque, mesmo que apoie os ciclistas visados, acrescenta que “se se verificar que a investigação atual confirma a veracidade das práticas de dopagem, a equipa dissociar-se-á imediatamente de tais atos e tomará as medidas necessárias para pôr fim aos vínculos que poderiam uni-los com métodos inaceitáveis e que ainda estão a ser combatidos.

Por sua vez, Quintana publicou a sua defesa nas redes sociais depois de ter sido ouvido em tribunal:

“Quero dizer que nunca foi encontrada nenhuma substância dopante. Não tenho nada e nunca tive nada a esconder. Tenho sido um corredor limpo ao longo da minha carreira desportiva. [No dia da busca], as autoridades entraram no meu quarto, encontraram suplementos vitamínicos completamente legais, embora possam não ser conhecidos pelas autoridades francesas. É por isso que é preciso tempo para explicar tudo o que aconteceu. Nunca, ao longo de toda a minha carreira, juniores, sub23 e profissionais, utilizei substâncias ilegais que pudessem melhorar o meu desempenho desportivo e trair os princípios do desporto”.

O último grito… antes da faca

Nairo Quintana foi operado a ambos os joelhos no outono de 2020 e regressou ao sucesso no Volta às Astúrias em maio. Na Volta à França, conseguiu vestir a camisola de líder da montanha durante alguns dias, mas terminou a prova no 28.º lugar, a 1 hora e 33 minutos de Pogacar.

Um ano depois, era o melhor Quintana, não ainda aquele que venceu o Giro d’Italia de 2014 e a Vuelta de 2016, mas aquele que estava no caminho certo dos pódios. Segundo na 11.ª etapa do Tour de France (Albertville › Col du Granon), terminou em sexto lugar na geral… antes de ser desclassificado em agosto, na sequência da oficialização de dois testes positivos para tramadol, na sétima etapa (Super Plance des belles filles) e na que venceu. Este anúncio surgiu apenas alguns dias depois de ter prolongado contrato com a Arkea-Samsic até 2025.

O uso de tramadol, que pode ser detetado em amostras de sangue seco, é bastante opaco quanto às consequências das sua utilização no pelotão. Este analgésico foi proibido de ser utilizado pela União Ciclista Internacional (UCI) desde março de 2019, a fim de “preservar a saúde e segurança dos ciclistas dados os efeitos secundários desta substância”. Mas há uma subtileza: se a sua utilização é uma infração, esta não constitui uma violação das regras anti-doping (será o caso a partir de 2024). Ou seja: pode ser prescrito tramadol para um ciclista, mas fora de competição.

Desqualificado do Tour, Quintana voltou a usar os meios de comunicação social para se defender: “Não tenho conhecimento do uso desta substância e nego totalmente que a tenha usado durante a minha carreira. Com a minha equipa de advogados, estamos a começar a explorar todas as vias possíveis para assegurar a minha defesa”.

Entretanto, recorreu para o Tribunal Arbitral do Desporto, que rejeitou o seu recurso esta quinta-feira. Quintana é ainda livre para correr, mas desde então que não usa uma camisola profissional. Estava programa correr na Vuelta, mas teve de desistir. O colombiano tem estado sem contrato desde 01 de outubro e enquanto o mercado está em pleno andamento ainda não encontrou equipa.

No estado atual, com quase 33 anos, encontrá-lo no World Tour com um papel importante é um cenário cada vez mais hipotético.