É certo que ambas as tenistas gozam de lucrativas parcerias fora do court, mas o que ganham em termos desportivos também salta à vista. Naomi Osaka é, de acordo com a Forbes, a atleta mais bem paga, com 2,12 milhões de euros angariados dentro do court. Serena Williams segue logo atrás com cerca de 831 mil euros.
Contudo, é fora do ténis que ambas se destacam no que toca ao dinheiro. Se juntarmos as parcerias à prestação desportiva, Osaka recebeu cerca de 52,9 milhões de euros em 2022, enquanto Williams ficou-se pelos 42,4 milhões de euros. Números altos, sem dúvida, mas a partir daqui verificam-se uma queda acentuada.
Ainda dentro do mundo do Ténis, Venus Williams recebeu 10,44 milhões de euros no ano passado, sendo que destes apenas 277 mil euros vieram do desempenho desportivo. A tenista de 41 anos aparece aqui como uma anomalia, mas tem beneficiado da exposição junto da irmão ao longo do tempo.
Vamos então conferir as 10 atletas mais bem pagas do mundo:
Naomi Osaka: 52,9 milhões de euros (50, 78 milhões de euros fora de campo)
Serena Williams: 42,4 miilhões de euros (51,57 milhões de euros)
Venus Williams: 10,44 milhões de euros (10,16 milhões de euros)
Simone Biles: 9,33 milhões de euros (9,24 milhões de euros)
Garbine Muguruza: 8,13 milhões de euros (5,55 milhões de euros)
Jin Young Ko: 6,93 milhões de euros (3,70 milhões de euros)
P.V. Sindhu: 6,65 milhões de euros (6,47 milhões de euros)
Ashleigh Barty: 6,38 milhões de euros (2,77 milhões de euros)
Nelly Korda: 5,45 milhões de euros (3,23 milhões de euros)
Candace Parker: 5,27 milhões de euros (5,08 milhões de euros)
Ténis, o exemplo a seguir
As tenistas (destacadas acima) dominam a lista de atletas que mais recebem, por isso, vamos comparar com os colegas de profissão masculino que estão no topo da lista da Forbes.
Roger Federer: 83 milhões de euros (83 milhões de euros fora de campo)
Rafael Nadal: 29 milhões de euros (23,10 milhões de euros)
Novak Djokovic: 25 milhões de euros (18,49 milhões de euros)
Daniil Medvedev: 17,84 milhões de euros (11 milhões de euros)
Os números acabam por ser comparáveis nomeadamente à diferença do que é ganho na competição e fora dela, que por norma é maior. O ténis acaba por ser uma exceção, já que não é um desporto dominado pelo lado masculino, uma vez que tem sempre uma forte presença feminina.
Golfe não está muito longe
De acordo como Statista, existem três golfistas femininas que ganham acima dos 20 milhões de dólares (18, 49 milhões de euros) anuais: Annika Sorenstam (20,87 milhões de euros), Karrie Webb (18,74 milhões de euros) e Cristie Kerr (18,59 milhões de euros).
O 54.º tour da Arábia Saudita tornou praticamente impossível comprar os ganhos entre homens e mulheres, já que foi uma prova exclusivamente masculinas, mas para a discussão, estes são os valores dos homens, de acordo com o AS: Phil Mickelson (127, 56 milhões de euros), Dustin Johnson (89,67 milhões de euros) e Bryson DeChambeau (79, 50 milhões de euros).
Não podíamos excluir esta prova, mas se nos focarmos exclusivamente nas competições em que existe desafios para homens e mulheres, estes são os números para os homens: Rory McIlroy (19 milhões de euros), Scottie Scheffler (18 milhões de euros) e Tiger Woods (14,42 milhões de euros).
O golfe é um desporto semelhante ao ténis, em que os homens não dominam, pese embora a maior popularidade das competições masculinas e o facto de o campeonato feminino ter surgido 30 anos depois do masculino.
Visualizações
Nesta rúbrica vamos incluir os adeptos presentes nos vários recintos desportivos, bem como os espectadores.
Comecemos pelo golfe, que na cobertura do campeonato feminino do ano passado teve 840 mil espectadores a ver pela NVC, enquanto que o Bryon Nelson tournament, parte do tour masculino, contou com 2,3 milhões a ver pela ESPN.
Passando para o ténis, uma média de 4,6 milhões de pessoas viram o duelo entre Serena Williams e Ajla Tomljanovic, no US Open do ano passado, estabelecendo um recorde da ESPN no que toca a este desporto. No lado masculino, 2,96 milhões de espectadores viram a meia-final entre Carlos Alcaraz e Frances Tiafoe. Para efeitos de comparação há que ter em conta que era expectável que este fosse o último jogo de Williams neste Grand Slam.
Ainda assim, se virmos o jogo entre Naomi Osaka e Serena Williams vemos 3,1 milhões de espectadores, mais do que a final masculina (2,05 milhões) do ano passado.
Números que mostram uma maior igualidade.
O Futebol
Nos últimos anos, o futebol feminino tem vindo a crescer em termos de popularidade e isso reflete-se nas transmissões televisivas, que estão a aumentar. Contudo, enquanto o lado masculino continua a produzir quantidades obscenas de dinheiro, as mulheres ganham apenas uma fração.
Popularidade e negócios
Uma coisa que é preciso ter em conta é o número de espectadores nos eventos. Muitas vezes tenta estabelecer-se uma comparação que acaba por ser injusto, já que o futebol masculino é o desporto mais popular no mundo e acaba por açambarcar muitas das verbas que podiam ser destinadas ao desenvolvimento do lado feminino.
Os números ainda não são oficiais relativamente ao Mundial-2022, mas dá para termos uma ideia se olharmos para os Campeonatos do Mundo anteriores. Em 2018, a FIFA revelou que mais de mil milhões de pessoas viram a final do Mundial, o que ultrapassa em larga escala o Superbowl (cerca de 140 milhões, de acordo com a Nielsen Media).
Podem dizer que o Superbowl é um evento anual, enquanto a final do Mundial acontece só de quatro em quatro anos. É justo, vamos então comparar com a final da Liga dos Campeões. Em 2021, foi estimado que quase 700 milhões de espectadores viram o Chelsea vencer o Manchester City, no Porto. Uma figura especialmente alta, tendo em conta a média que a UEFA costuma de fazer de 400 milhões, número que não deixa de ser praticamente o triplo daqueles que assistem à coroação do campeão de futebol americano.
Com isso em mente, vamos ver alguns números relativo aos grandes jogos do futebol feminino.
Em 2019, o Mundial foi vista por 260 milhões de espectadores, o que, explica a FIFA, é um aumento de 56 por cento em relação à edição de 2015. Relativamente à Liga dos Campeões, o Insider Sport revela que a final de 2022 teve uma média de 3,6 milhões de pessoas a assistir, um aumento de 56 por cento em relação à do ano passado, que deverá ajudar a construir acordos mais lucrativos de publicidade.
Bancadas cheias
Vamos então fixar-nos em Inglaterra. Quando é relevada a transmissão televisiva dos jogos da Taça de Inglaterra, os adeptos dos clubes de escalões inferiores queixam-se da preferência que é dada aos emblemas da Premier League. Um argumento válido, já que a exposição mediática ganha outra relevância para quem não está no principal escalão, pois pode ajudar a fidelizar novos adeptos e acaba por resultar em mais bilhetes vendidos no fim-de-semana.
Não se trata de uma medida perfeita, mas uma comparação direta que podemos fazer é a quantidade de adeptos que assistem, nos estádios, aos jogos de futebol feminino e masculino. Se olharmos para Super League (campeonato feminino de Inglaterra conhecido como WSL), a assistência média é de seis mil adeptos, de acordo com o Sportcal. Se quisermos encontrar um número equivalente no lado masculino, temos de ir até à League Two (quarto escalão), onde a média é de 5,800 adeptos esta época.
Futebol e a desiguldade de género salarial
De acordo com o Reach, uma jogadora do primeiro escalão recebe, em média, 33 mil euros por ano, sendo que o salário anda à volta de um mínimo de 22 mil euros e um máximo de 45 mil euros. É aqui onde assistimos à maior desiguldade.
A média para um jogador masculino do quarto escalão está nos 129 mil euros anuais, números que não têm em conta eventuais acordos de publicade ou dinheiro extra-futebol.
Naturalmente, isto cria um problema para as atletas femininas que queiram entrar no futebol. Até mesmo as jogadores que chegam ao topo vão receber um salário inferior a um gerente de um supermercado, o que torna a dedicação e o esforço necessários para chegar ao topo menos apelativos.
Um argumento que pode ser utilizado é que alguns dos clubes presentes no primeiro escalão, como Liverpool e Manchester United deviam e podiam pagar melhores salários, como forma de investir. E a nível de seleções existe algum tipo de redenção já que os internacionais, masculinos e femininos, de Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte recebem os mesmos honorários por cada jogo realizado.
Custo e procura
Mantendo na comparação entre a WSL e a League Two, existem 12 equipas no lado feminino e 24 no lado masculino. Isto significa que os homens disputam o dobro das partidas. Números que fazem a diferença tendo em conta o preço dos bilhetes. Para assistir a um jogo da WSL, um adepto terá de pagar cerca de 11 euros, enquanto o preço para o quarto escalão do futebol masculino deverá rondar os 16 euros.
Valores que ajudam a perceber que é mais rentável o futebol masculino do que o feminino. E essa é a palavra-chave, pois, tal como todos os desportos modernos, o futebol é, até certo ponto, um negócio.
Subir uns degraus
É difícil comprar o futebol masculino e feminino porque à medida que se vai subindo na pirâmide do lado dos homens, a desigualdade torna-se maior. Mas baixar as comparações também não nos oferece nenhum topo de comparação.
O futebol masculino em Inglaterra tem uma história bem definida pelo patriarcado que definiu que este devia ser um desporto de homens. A Federação Inglesa (FA) surgiu em 1863 e só na década de 1920 é que as mulheres começaram a entrar no futebol, sendo entre 1921 e 1970 foram proibidas de utilizar os mesmos campos dos homens, o que atrasou em muito o desenvolvimento do lado feminino.
Neste momento, existe uma maior igualdadade e é mais habitual ver jovens raparigas a jogar do que há 20 anos. Se é perfeito? Não e ainda há muito caminho para trilhar. Se se justifica o facto dos jogadores do quarto escalão receberam praticamente quatro vezes mais que as mulheres da primeira liga? Não, mas é preciso ter em conta a lei da oferta e procura.
O futuro?
Um dos ingredientes essenciais para o crescimento de uma competição é a expansão e esse deverá ser o próximo passo do futebol feminino. Nas quatro primeira divisões existem apenas 48 equipas (12 em cada escalão), quase tantas como as 44 que disputam a Premier League e o Championship (42), sendo que no total existem 92 conjuntos profissionais em Inglaterra.
E se no quarto escalão vemos homens a ganhar muito mais que as mulheres, na segunda divisão do futebol feminino é comum ver jogadores com outros trabalhos pois aquilo que ganha do futebol não é suficiente para se sustentarem. Ou seja, em termos de comparação entramos aqui já no lado semi-profissional do lado masculino.
Uma lição dos Estados Unidos da América
Se alargarmos um bocadinho o nosso foco, vamos até ao basquetebol onde também existem elementos a ser destacados. Nos Estados Unidos da América, os homens ganham significativamente mais do que as mulheres e isso, mais uma vez, é justificado com a popularidade do lado masculino.
De acordo com a ESPN, os principais jogadores da NBA recebem acima dos 37 milhões de euros anuais, sendo que o salário mais baixo da organização deverá ultrapassar por pouco os 930 mil euros. Por contraste, a Bloomberg, revela que as mulheres na WNBA ganham entre 120 mil euros e 214 mil euros por época, sendo que algumas podem aumentar até aos 697 mil euros através de acordos publicitários. Números muito aquém dos homens.
Ainda que não seja perfeito, esta diferença é mais pequena do que na elite do futebol inglês e uma resposta para isso pode ser a identidade das equipas femininas. Ainda que sejam vistos como irmãos, as Los Angeles Sparks não jogam debaixo da tutela dos Los Angeles Lakers.
Por exemplo, se a equipa feminina do Liverpool adquiri-se outro nome com um emblema e equipamento único, talvez assim conseguisse sair da sombra dos reds. Na WNBA a grande maioria das equipas são independentes e isso funciona de forma vantajosa.
Conclusão
Após esta reflexão é possível perceber que não existe uma solução perfeita para acabar com a disparidade de género, sobretudo no futebol. Em parte porque se tratam de dois desportos diferentes, enquanto no ténis e no golfe será mais fácil por ser algo individual, onde a história de sucesso de atletas ajuda.
Se olharmos para as principais equipas de futebol feminino, muitas delas estão associadas a grandes clubes masculinos. Enquanto oferece maior mediatismo, também coloca um tecto no potencial de crescimento, pois vão estar sempre na sombra de outras equipas.
Uma forma de ajudar ao crescimento seria atrair mais adeptos, o que ajudaria a crescer em termos económicos e garantir melhores salários para as atletas.
Só assim, e com uma ajuda por parte das transmissões televisivas que podem ajudar as equipas a femininas a sair de uma condição de quase equipas reserva, é que se poderá ajudar a travar esta desigualdade. Ainda que para chegarmos a um balanço perfeito exista um longo trabalho e mais pesquisa a ser feita.