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Taça Asiática: Palestina vai jogar na sombra da guerra em Gaza

Adeptos palestinianos em dezembro.
Adeptos palestinianos em dezembro.AFP
Com familiares de jogadores mortos, estádios bombardeados e o campeonato paralisado, o futebol palestiniano, cuja equipa se prepara para disputar a Taça Asiática, está também a pagar um preço elevado pela guerra devastadora entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza.

A menos de duas semanas do torneio continental no Catar (12 de janeiro a 10 de fevereiro), a equipa palestiniana não pensa em futebol.

Os jogadores "acompanham as notícias depois e antes do treino, no autocarro e no hotel. Estão sempre ansiosos e a pensar nas suas famílias", disse o treinador tunisino Makram Daboub à AFP por telefone.

A equipa palestiniana, que participa pela terceira vez na Taça Asiática, deve chegar a Doha na terça-feira para um último treino antes do início da competição.

"Os adeptos palestinianos contam muito com a equipa para obter bons resultados (...), apesar das condições difíceis que o nosso povo atravessa devido à agressão israelita que paralisou as competições", descreveu na segunda-feira a agência noticiosa oficial da Autoridade Palestiniana.

"Temos problemas físicos, técnicos e táticos devido à suspensão do campeonato e à falta de competição, para não falar do aspeto mental", acrescentou Daboub.

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"Levantar a bandeira palestiniana"

Os campeonatos da Cisjordânia e da Faixa de Gaza estão suspensos desde o início da guerra desencadeada por um ataque sem precedentes do Hamas palestiniano em solo israelita, que causou a morte de 1.140 pessoas, a maioria civis, segundo dados publicados pelas autoridades israelitas.

Em represália, o exército israelita está a bombardear a Faixa de Gaza sitiada, onde quase 22.000 pessoas, na sua maioria mulheres, crianças e adolescentes, foram mortas, de acordo com os últimos números do Ministério da Saúde do governo do Hamas.

Na equipa nacional, "muitos jogadores estão a sofrer, incluindo Mahmoud Wadi e Muhammad Saleh", sublinhou o treinador.

"São profissionais no Egito, mas as suas famílias estão em Gaza e as suas casas foram destruídas. Alguns dos seus familiares foram mortos ou deslocados (...). Estão a viver em condições difíceis. O nosso objetivo é qualificarmo-nos para as fases avançadas da Taça Asiática e mostrar um rosto que honre o futebol palestiniano", afirmou Makram Daboub.

"Hastear a bandeira palestiniana em competições internacionais ou continentais é uma afirmação da identidade palestiniana e do facto de, na terra da Palestina, existir um povo que merece a liberdade e uma vida melhor", acrescentou o treinador.

Em Gaza, as operações militares israelitas puseram "a juventude e o desporto de joelhos", disse à AFP o presidente da Federação Palestiniana de Futebol, Jibril Rajoub.

O grupo da Palestina
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Estádio de Gaza sequestrado

"Mais de mil pessoas já foram mortas entre os membros de organizações juvenis, desportivas e de escuteiros", lamentou Rajoub, que é também presidente do Comité Olímpico Palestiniano.

Rajoub acusou ainda o exército israelita de "atacar instalações desportivas, clubes e sedes de federações".

"Vimos imagens horríveis durante a sua invasão do estádio de Yarmouk, na Faixa de Gaza, que transformou num centro de detenção, abuso e interrogatório, em flagrante violação da Carta Olímpica", acrescentou este membro de longa data do partido Fatah, do presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas.

Jibril Rajoub referia-se a imagens que mostravam palestinianos, incluindo crianças, despidos no campo de futebol do estádio de Gaza.

De acordo com o exército israelita, eram suspeitos de estarem envolvidos em "atividades terroristas".

"Este estádio de 9000 lugares é um dos mais antigos da Palestina, tendo sido construído em 1938 e equipado de acordo com os requisitos internacionais", afirmou Rajoub. Mas "o estádio não é imune ao que se passa nos territórios palestinianos".

A Federação Palestiniana de Futebol anunciou ter enviado uma carta ao Comité Olímpico Internacional (COI) e à Federação Internacional de Futebol (FIFA) "registando a destruição das infra-estruturas" e exigindo "uma investigação internacional urgente sobre os crimes cometidos pela ocupação contra os atletas na Palestina".