Mais

Opinião: As duas caras da Argentina campeã do mundo e pouco competitiva em termos de clubes

Mastantuono e companheiros do River desanimados após um golo do Inter
Mastantuono e companheiros do River desanimados após um golo do InterJUAN MABROMATA / AFP
O claro fracasso de River Plate e Boca Juniors no atual Mundial de Clubes deixa um momento muito triste para os clubes da Argentina. Algo totalmente oposto ao que acontece com a seleção, vencedora em todas as competições nos últimos quatro anos

O terramoto desportivo de 2018 na Argentina foi sentido quase com a mesma intensidade que o terramoto económico e social de 2001. Nenhuma tragédia de dimensões financeiras para um país historicamente rico, mas um drama competitivo que envergonhou a todos. E apesar de uma derrota por apenas 4-3 para uma França que viria a vencer o torneio arco-íris sediado na Rússia. Com Jorge Sampaoli ao leme, porém, a Albiceleste tinha atingido um ridículo único. O então selecionador foi acusado de não ter qualquer influência sobre os jogadores e que eram Mascherano e Messi que decidiam quem jogava e quem não jogava.

No mesmo ano, ou melhor, no final, River Plate e Boca Juniors disputaram o troféu da Taça Libertadores, numa final de dois jogos única pelo seu prestígio e intensidade. A triunfar no campo neutro do Santiago Bernabéu estava o onze de Marcelo Gallardo, ainda hoje ao leme dos Millonarios. Mas ninguém, a 9 de dezembro de 2018, poderia prever a reviravolta atual. As duas históricas equipas de Buenos Aires tinham acabado de ser eliminadas do Mundial de Clubes e, nos últimos seis anos, só as equipas brasileiras tinham triunfado na Libertadores.

Duas caras

O futebol argentino está a viver uma situação de duas caras desde 2018. Porque, desde então, a intuição do presidente federal Claudio 'Chiqui' Tapia de apostar no internacional Lionel Scaloni, o único sobrevivente do grupo de colaboradores de Sampaoli que restou na Seleção, revelou-se bem-sucedida. Duas Copas América, um Campeonato do Mundo e até uma final, os despojos recolhidos de 2021 a 2024 pelo antigo jogador da Lazio e do Deportivo La Coruña. Um demiurgo único para a Argentina mais forte de sempre, que se tornou agora um grupo muito sólido em torno de Lionel Messi, para quem todos correm três vezes mais.

Cavani consola os companheiros do Boca
Cavani consola os companheiros do BocaFederico PARRA / AFP

Os grandes sucessos da Selección, pelos quais todos no país enlouquecem com a mesma intensidade, foram contrabalançados por um período de vacas magras por parte dos clubes. Desde 2018, apenas o Racing marcou seu nome na Sudamericana conquistada no ano passado contra o Cruzeiro. Prova de que, dentro das fronteiras nacionais, as escolhas de Tapia não foram tão bem-sucedidas. O alargamento da Primera División para 30 equipas baixou, sem dúvida, o nível médio da liga local, com repercussões óbvias no proscénio internacional.

Modelos divergentes

Hoje, até o presidente argentino Javier Milei interveio, criticando o modelo do número um da federação nacional de futebol, afirmando que o seu "mini-círculo" contribuiu para o fracasso dos clubes no Campeonato do Mundo de Clubes. Defensor da instituição dos clubes anónimos no futebol argentino, que sempre foram património dos adeptos, Milei pretende fazer avançar as suas políticas exponencialmente liberais no universo futebolístico. O seu objetivo é seguir os modelos europeus e apostar na injeção de capital estrangeiro para valorizar o produto do campeonato argentino.

Uma melodia diferente é tocada, no entanto, no vizinho Brasil, onde depois da miragem de ganhar a Copa América disputada em casa em 2019, quando a arbitragem na semifinal contra a Argentina causou polémica, a Seleção está a atravessar um período sem glória. Exatamente o contrário do que vivem os clubes do Brasileirão, que no continente ganharam seis Libertadores seguidas e estão representados por quatro das quatro equipas nos oitavos de final do Mundial de Clubes. E, destes, apenas o Botafogo é um clube anónimo.

Na origem desta divisão está um poder económico totalmente diferente, com o real a consolidar a sua força nos últimos anos e o peso a tornar-se cada vez mais papel de seda, com as moedas a deixarem de ser fabricadas. No Brasil, Flamengo, Palmeiras, Fluminense e Botafogo podem contratar jogadores ainda jovens com um passado europeu recente, enquanto na Argentina, Mastantuono, uma esperança de 17 anos que vai embora em lágrimas após ser eliminado pelo River, vai embora. Mais uma vez, é tudo uma questão de dinheiro vil...

_______________________________________________________________________________

Patrocinado:

Mundial de Clubes da FIFA – Todos os jogos grátis, em exclusivo na DAZN.

Cria a tua conta aqui e começa a ver

______________________________________________________________________________