Quando as Leoas do Atlas defrontarem a Alemanha, bicampeã mundial, em Melbourne, serão a primeira equipa árabe a disputar um Campeonato do Mundo Feminino.
O facto não passou despercebido num país louco por futebol e ainda a vibrar com o que a seleção masculina fez no Campeonato do Mundo do Catar, em dezembro.
"Elas vão jogar tão bem quanto os homens", disse Rabab Tougha, de 14 anos, após um treino na escola de futebol do clube local, no bairro de Avadas, em Casablanca.
A sua ambição é praticar este desporto a nível internacional, "sobretudo depois do que fizeram as Leoas do Atlas".
No ano passado, as marroquinas chegaram de forma surpreendente à final da Taça das Nações Africanas, que organizaram, antes de perderem por 1-2 para a África do Sul perante mais de 50.000 espectadores em Rabat.
Seguiu-se o desempenho notável dos homens no Catar, quando se tornaram a primeira equipa africana e a primeira equipa árabe a chegar às meias-finais do Campeonato do Mundo, onde perderam com a França.
Estes desempenhos encorajaram as raparigas a praticar futebol e o número de jogadoras inscritas na academia de Avadas - para jovens que, muitas vezes, provêm de famílias desfavorecidas - aumentou para mais de 50, contra cerca de 10 há um ano.
"As raparigas estão motivadas e querem aprender a jogar futebol" depois de verem o sucesso das equipas nacionais masculina e feminina, disse o treinador Mohamed Jidi à AFP.
"Podemos ver o impacto. Tivemos uma rapariga que jogava râguebi, outras que jogavam basquetebol ou faziam atletismo. Mas depois todas quiseram começar a jogar futebol porque decidiram que havia um futuro nisso", explicou.
Marrocos está no Grupo H do Mundial feminino e, além da Alemanha, enfrentará a Coreia do Sul e a Colômbia.
A seleção marroquina é uma das menos cotadas na Austrália e na Nova Zelândia e seria uma surpresa se passasse o grupo, mas a capitã Ghizlane Chebbak sabe que os homens aumentaram as expectativas.
"Os adeptos marroquinos têm essa paixão, assim como nós, jogadoras, e vamos dar tudo de nós para deixá-los satisfeitos", disse.
"Os homens mostraram-nos que nada é impossível se lutarmos por isso e nos mantivermos concentrados", acrescentou a capitã.
Mudança palpável
O facto do futebol feminino estar a ganhar popularidade em Marrocos deve-se a uma estratégia de desenvolvimento implementada em 2020.
"A federação investiu no futebol feminino. Desde então, as mentalidades mudaram e o interesse e a evolução são palpáveis", disse Khadija Illa, presidente da liga feminina marroquina, à AFP.
Em 2021, o reino norte-africano criou uma liga profissional feminina de duas divisões com 42 clubes, cada um dos quais a comprometer-se em lançar também equipas nos escalões de sub-17 e sub-15.
A Real Federação Marroquina de Futebol assume 70 por cento das despesas de cada clube, onde as jogadoras recebem um salário mínimo de 3.500 dirhams (360 dólares) por mês na primeira divisão e 2.500 dirhams na segunda. O salário médio mensal em Marrocos é de 400 dólares.
"O sucesso do futebol marroquino depende de uma política desportiva que funcione e de uma ajuda financeira", afirma Illa, antiga jogadora profissional.
"Quanto mais se investe, melhores resultados se obtêm", resumiu.