Reportagem: Como a seleção feminina francesa adaptou o sono à diferença de fuso horário

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Reportagem: Como a seleção feminina francesa adaptou o sono à diferença de fuso horário

O quartel-general de França no Mundial feminino
O quartel-general de França no Mundial femininoAFP
Para absorver a diferença horária de oito horas entre a França e a Austrália, sede do Mundial feminino, a seleção feminina francesa aprendeu a domar o sono muito antes da chegada à Oceania, num processo de gestão meticuloso que é eficaz para algumas, um pouco menos para outras.

No domingo, em Sidnei, a defesa Sakina Karchaoui festejava depois de uma semana de luta contra o jetlag, que se torna ainda mais difícil quando se trata de uma atleta de alta competição.

Após a derrota da França por 0-1 no particular contra a Austrália, em Melbourne, na sexta-feira, a questão do cansaço foi imediatamente levantada.

"Não estamos à procura de uma desculpa, mas ainda há alguns problemas de sono", referiu o selecionador francês, Hervé Renard.

O jogo foi antecipado: cinco dias após a chegada à Austrália para o Campeonato do Mundo (20 de julho - 20 de agosto), uma longa viagem de avião de mais de 24 horas.

"Oito fusos horários de diferença significam oito dias de adaptação", afirma Mounir Chennaoui, investigador especializado em sono e fadiga.

"Com a experiência, apercebemo-nos de que as competições organizadas no leste do globo são sempre muito complicadas de gerir, porque o corpo humano não está fisiologicamente preparado para acordar cada vez mais cedo", acrescenta o investigador, à AFP.

Sestas reduzidas e duches mornos

Este especialista foi convidado pela equipa feminina francesa para suavizar esta mudança brusca de hemisfério. Em junho, deslocou-se duas vezes ao centro de treinos de Clairefontaine e apresentou as suas recomendações.

"Na última semana, pedimos-lhes que se deitassem e levantassem 15 ou 30 minutos mais cedo todos os dias", explica Mounir Chennaoui. A consequência subjacente foi uma redução gradual das sestas da tarde e um pequeno-almoço mais cedo no dia seguinte.

No avião ,"tivemos de nos colocar no horário australiano", disse a média Amel Majri à AFP.

"Dormir no primeiro voo (para Hong Kong) e continuar sem dormir no segundo voo (durante a noite, no horário francês), o que é muito complicado", acrescentou.

Os primeiros dias na Austrália também foram decisivos.

"Durante três dias, as células e as hormonas ainda estão no horário francês e podem ocorrer lesões. Tínhamos de fazer disso uma prioridade no espírito do pessoal", explica Mounir Chennaoui.

Foram recomendados gestos simples: não se esquecer de programar o despertador para a sesta, caso contrário esta pode transformar-se numa noite inteira, tomar um duche quente ou frio e banir os ecrãs antes de dormir. Tomar banhos de sol assim que acordar para "ressincronizar mais rapidamente com a luz" é altamente recomendado, diz o especialista.

"Encontrar o ritmo certo"

Para algumas jogadoras, como a jovem Vicki Becho e a avançada Clara Mateo, o jetlag foi rapidamente absorvido.

"Consegui dormir toda a noite sem acordar desde o início", diz Clara Mateo.

"Percebemos que cada uma tinha de encontrar o seu próprio ritmo", acrescentou a jogadora do Paris FC.

Foi por isso que Mounir Chennaoui personalizou os seus programas, depois de pedir às jogadoras que respondessem a um questionário sobre os seus hábitos de sono - os seus "cronotipos".

Os "cronótipos matutinos" - as que dormem cedo e se levantam cedo, como Sandie Toletti e Ève Périsset - estariam "melhor" do que as "noctívagas" para uma viagem destas.

"Mas no plantel, não encontrámos nenhuma jogadora que seja um extremo nesse aspeto", sorri o investigador, que também trabalha com grandes velejadores na preparação de longas regatas a solo.

Apesar de todos os esforços, "muitas das atletas não se adaptaram muito bem", observou Karchaoui no domingo.

"No início, dormíamos duas ou três horas, levantávamo-nos às 3 da manhã, era complicado", acrescentou.

Mas, depois de oito dias na Austrália, as 23 jogadoras da equipa francesa parecem estar finalmente a dormir. Estarão elas a sonhar com um título mundial?