Sam Kerr não é apenas o talismã e a capitã da Austrália, é uma superestrela do futebol feminino e também, segundo consta, a jogadora mais bem paga do mundo.
As "Matildas", no entanto, têm caído no ranking feminino da FIFA nos últimos anos - descendo da sua melhor classificação de sempre, o quarto lugar (em 2017), para a 12.º posição no ano passado, e agora de volta ao 10.º lugar.
Apesar disso, o facto de Kerr liderar a equipa pode ser o suficiente para que ela se afirme no Mundial, perante a sua adorada e, como é de esperar, enorme claque de fãs em casa.
"A Sam é uma atleta incrível, marca golos por diversão e é uma das melhores do mundo. Para nós, da seleção, temos muita sorte de poder jogar ao lado dela", disse recentemente a avançada australiana Hayley Raso (28 anos) sobre a finalizadora.
É interessante notar que Kerr começou a vida como extremo, mas agora é amplamente considerada uma das melhores avançadas, sobretudo no jogo aéreo - apesar de medir apenas 1,67 metros - e em situações de contra-ataque.
Aé que ponto Kerr é boa em termos estatísticos?
Desde a temporada 2016/2017 da W-League (agora A-League Women), Sam Kerr atingiu dois dígitos em golos marcados em todas as temporadas em que jogou nas principais divisões da Austrália, dos Estados Unidos e da Inglaterra, com exceção de uma.
A exceção foi a edição 2019/2020 da WSL, que foi interrompida pela Covid-19 e na qual ela só disputou quatro jogos, depois de se juntar ao Chelsea a meio da época.
É certo que o seu registo de 12 golos na mais recente temporada da WSL, com a equipa de West London, foi um dos seus piores resultados dos últimos anos.
No entanto, o registo ao longo da sua carreira profissional demonstra um nível incrível de consistência - algo que a distingue verdadeiramente como uma das grandes figuras do futebol contemporâneo.
Ao longo da sua carreira profissional, marcou 179 golos em 197 jogos no campeonato. Além disso, marcou 27 golos em 25 jogos nas taças nacionais e 53 golos em 71 jogos pela Austrália a nível internacional.
Somando estes números, obtém-se 259 golos em 293 jogos - ou seja, 0,88 golos por jogo. Números incríveis.
É quase um recorde de golos por jogo num período que ultrapassa uma década. Não há dúvidas de que, com estatísticas como estas, Kerr é uma das atacantes mais produtivas do mundo, seja no futebol feminino ou no masculino.
Para efeito de comparação, a lendária avançada brasileira Marta (37 anos) - amplamente considerada uma das maiores jogadoras de todos os tempos - marcou 69 golos em 147 partidas no Campeonato Brasileiro e 40 em 64 pelo seu país. Isso equivale a pouco mais de um golo a cada dois jogos - 0,52 golos por partida, para ser mais preciso.
A combinação de golos marcados por jogo na liga nacional e pela seleção dos Estados Unidos é de 0,65 e 0,53, respetivamente, para as estrelas Alex Morgan (34 anos) e Megan Rapinoe (38).
A inglesa Rachel Daly (31 anos), que foi a melhor marcadora da WSL na temporada passada, com 22 golos pelo Aston Villa, tem uma média de um golo por jogo a cada duas partidas, tanto no clube como na seleção - nem sempre jogou no ataque, sublinhe-se.
A avançada espanhola Alba Redondo (26 anos) marcou 27 golos em 30 jogos na última temporada pelo Levante, mas a sua média de golos por partida na liga nacional e na seleção também é pouco superior a um em cada dois jogos (0,53).
Tudo isto para dizer que, olhando para as suas colegas, é muito difícil encontrar uma atacante que tenha marcado golos de forma tão rápida e consistente quanto Kerr, mesmo que os números tenham caído um pouco na sua última temporada no clube.
Números que se comparam às melhores
Vamos colocar o seu recorde de golos numa perspetiva mais ampla do futebol. Para ilustrar, tomemos como exemplo as suas três últimas temporadas na WSL com o Chelsea - 2020/21, 2021/22 e 2022/23.
Ao longo das temporadas da liga acima referida, Kerr registou um rácio de golos por jogo mais elevado do que (no mesmo período dos respetivos jogos da liga) Harry Kane (29) fez pelo Tottenham, Cristiano Ronaldo (38) fez pela Juventus, Manchester United e Al-Nassr combinados, Lionel Messi (36) fez pelo Barcelona e PSG, e o vencedor da Bola de Ouro de 2022 Karim Benzema (35) fez pelo Real Madrid.
Para que conste, Kerr nunca ganhou a Bola de Ouro Feminina, mas ficou em terceiro lugar em 2021 e 2022.
Pare por um momento e reflita sobre o facto de que estes quatro homens listados estão entre os melhores avançados das suas gerações e serão, sem dúvida, considerados como alguns dos melhores finalizadores que alguma vez jogaram este jogo.
É claro que nem sempre é relevante comparar estatísticas entre o futebol masculino e o feminino e, o que é importante, Kerr joga menos partidas da liga por temporada. No entanto, continua a ser o mesmo desporto, com a mesma bola, no mesmo campo, com as mesmas regras.
Os bons avançados marcam um golo em cada três jogos, os grandes avançados marcam um em cada dois... e depois há Sam Kerr.
Se as Matildas quiserem fazer a sua melhor campanha de sempre num Campeonato do Mundo, perante os seus adeptos, e passar os quartos de final, Kerr terá, sem dúvida, um papel importante.
Mesmo que as defesas adversárias saibam como marcá-la, a sua presença magnética em campo ainda será inestimável pela capacidade de abrir espaço para outras jogadoras.
"Se duas pessoas estiverem a marcar-me, isso significa que há mais alguém livre. Talvez seja o torneio para outra colega poder brilhar", afirmou recentemente Sam Kerr, no seu estilo tipicamente humilde.
Palavras verdadeiras e perspicazes, mas toda uma nação espera que seja a própria Kerr a incendiar os grandes estádios do sul e a gravar o seu nome na história dos Campeonato do Mundo.
A Austrália, recorde-se, inicia a sua campanha no Mundial contra a Irlanda, no dia 20 de julho.