Mundial-2034: Conquista dos direitos de organização é fundamental para a renovação saudita

Publicidade
Publicidade
Publicidade
Mais
Publicidade
Publicidade
Publicidade
Mundial-2034: Conquista dos direitos de organização é fundamental para a renovação saudita
Príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, (esq.) e o presidente da FIFA, Gianni Infantino (dir)
Príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, (esq.) e o presidente da FIFA, Gianni Infantino (dir)AFP
Estar prestes a acolher o Campeonato do Mundo é uma vitória inegável para a potência petrolífera que é a Arábia Saudita, numa altura em que se esforça por remodelar a sua economia e por se livrar da imagem questionável, segundo os analistas.

Não foi há muito tempo que a monarquia do deserto era evitada pelos líderes ocidentais após o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, em 2018, por agentes sauditas. Agora, embora as controvérsias sobre os direitos humanos não tenham desaparecido, o reino tem vindo a ganhar uma reputação de incursões extravagantes no desporto, apoiadas na riqueza petrolífera que, aparentemente, não tem fim.

O facto de se ter tornado na única candidata à organização do Campeonato do Mundo de 2034, apenas 27 dias após o anúncio da campanha, marca o fim de um ano impressionante em que a pouco conhecida Liga Profissional Saudita conquistou algumas das maiores estrelas do futebol, incluindo Cristiano Ronaldo e Neymar.

Cristiano Ronaldo joga pelo Al Nassr na Arábia Saudita
Cristiano Ronaldo joga pelo Al Nassr na Arábia SauditaAFP

A Arábia Saudita também abriu caminho para o topo do golfe profissional, depois de ter pressionado os veneráveis US PGA e European Tours a fundirem-se com o recém-criado LIV Golf.

Estes sucessos e outros não são apenas projetos de vaidade: foram calculados para atrair atenção, turistas e investimentos para um país profundamente conservador que só se abriu a visitantes não muçulmanos em 2019.

Não deixa de ser espantoso que, menos de um ano depois de o Catar se ter tornado o primeiro país muçulmano a acolher o Campeonato do Mundo, o vizinho saudita do Golfo, sob o comando do seu governante de facto, o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman (MBS), de 38 anos, esteja prestes a imitar o rival.

Projetos gigantescos

"Sediar o Campeonato do Mundo de futebol em 2034 vai marcar o auge do programa de transformação da Arábia Saudita da era MBS, onde o país ascende de pária internacional a membro legítimo e de confiança da comunidade global", disse à AFP Simon Chadwick, professor de desporto e economia geopolítica na Skema Business School de Paris.

"Vai haver benefícios de imagens, reputacionais, soft power e de marca da nação, bem como alguns dos benefícios económicos que MBS quer que o seu país retire do desporto", acrescentou.

Quando o Campeonato do Mundo começar, já estarão em curso vários projectos de infraestruturas de grande envergadura, incluindo a mega-cidade de NEOM, no valor de 500 mil milhões de dólares, que deverá ter arranha-céus paralelos que se estendem ao longo de 170 quilómetros de terreno montanhoso e desértico.

A cidade NEOM é o porta-estandarte do Vision 2030 (Visão 2030), do Príncipe Mohammed, um projeto ambicioso para diversificar a economia do maior exportador de petróleo do mundo antes que outras fontes de energia comecem a substituir o crude.

Visitantes observam uma sala de exposições em Seul que mostra o aspeto do NEOM
Visitantes observam uma sala de exposições em Seul que mostra o aspeto do NEOMAFP

Outros empreendimentos incluem o Red Sea (Mar Vermelho), um destino turístico de alta qualidade, Qiddiya, uma cidade de entretenimento com parques temáticos, desportos e outras atrações, e Diriyah, uma atração turística cultural que inclui um local classificado como Património Mundial pela UNESCO.

Entretanto, a capital, Riade, está a construir um novo e importante aeroporto internacional, destinado a rivalizar com o Dubai como centro de aviação regional, e revelou uma nova companhia aérea com grandes recursos, a Riyadh Air.

O Campeonato do Mundo é "uma oportunidade para mostrar o conjunto de giga-projetos associados à Visão 2030 que, nessa altura, já deverão estar operacionais e que se destinam a posicionar a Arábia Saudita como um destino para empresas, investidores e turistas", afirmou Kristian Ulrichsen, membro do grupo de reflexão sobre o Médio Oriente do Baker Institute.

Escrutínio intenso

Com expetativas de um aumento de 50% da população para 50 milhões de habitantes até 2030 e 150 milhões de turistas por ano, "as ambições são significativas e será necessário um fluxo constante de mega-eventos para as satisfazer", acrescentou Ulrichsen.

"O envolvimento tão forte no desporto, como os sauditas fizeram recentemente com o futebol e o golfe, mas também com os eSports e gaming, é uma forma de chegar ao grande público de todo o mundo para contar a história de uma Arábia Saudita em mudança".

No entanto, a Arábia Saudita, com poucos recintos de nível mundial e uma infraestruturas de transportes irregular, enfrenta agora o desafio de estar pronta a tempo para se tornar na primeira anfitriã exclusiva de um Campeonato do Mundo com 48 equipas.

Uma vista geral da capital saudita, Riade, a 31 de outubro de 2023
Uma vista geral da capital saudita, Riade, a 31 de outubro de 2023AFP

Também vai enfrentar, sem dúvida, acusações de sportswashing ("lavagem desportiva") e uma maior atenção ao seu historial em matéria de direitos humanos, incluindo leis contra a homossexualidade, desigualdade de género e um dos números mais elevados de execuções em todo o mundo.

"A organização de mega-eventos é acompanhada de um intenso escrutínio e a Arábia Saudita não será diferente. Neste momento, o país não tem capacidade para acolher o torneio. Por exemplo, as ligações de transporte não são suficientemente boas e os recintos são largamente inadequados", afirmou Chadwick.

"Acolher o Campeonato do Mundo faz com que o relógio comece a contar - a Arábia Saudita tem de estar pronta até ao final de 2033", atirou.