A derrota por 3-2 frente ao clube do quarto escalão neerlandês - a primeira na história do Ajax - nos oitavos de final foi mais um ponto negro numa época já de si desastrosa, marcada por um início de campeonato desastroso e por uma participação igualmente fraca na Liga dos Campeões.
"O Ajax caiu numa cratera cujo fundo parece ainda não ter sido atingido", escreveu Willem Vissers no De Volkskrant."Nem sequer se pode falar de um mau desempenho. Este jogo é um símbolo para terminar um ano desastroso", continuou o jornalista e autor.
Desastre histórico
Maior clube dos Países Baixos, com 36 títulos nacionais, um recorde de 20 taças e quatro títulos da Liga dos Campeões (1971, 1972, 1973 e 1995), o clube de Amesterdão tem sido uma sombra do que foi desde o início da época, culminando em mais uma derrota humilhante na quinta-feira.
Para o diretor da Associação de Adeptos do Ajax, Fabian Nagtzaam, foi simplesmente"o maior descalabro da história" do clube. "Sinto-me como se um prédio tivesse caído em cima de mim ou um autocarro me tivesse derrubado", disse à agência noticiosa neerlandesa ANP.
Ele e muitos outros adeptos vermelhos e brancos assistiram ao declínio do clube liderado por Johan Cruyff, Marco van Basten e Dennis Bergkamp na segunda metade do ano.
Em outubro, uma dolorosa derrota por 5-2 frente ao PSV Eindhoven, atual líder da Eredivise, atirou o Ajax para o fundo da tabela.
No início de setembro, o"Klassieker" contra o Feyenoord de Roterdão foi interrompido devido à violência dos adeptos, com o Ajax a perder por 3-0. O jogo, que terminou à porta fechada alguns dias depois, terminou com uma derrota esmagadora, por 4-0.
Em 16 jogos no campeonato, a equipa de John Van't Schip, que assumiu o comando em outubro, venceu apenas sete, embora tenha subido para o quinto lugar da liga, embora muito longe do pódio. A 23 pontos do líder Eindhoven.
Na Europa, o início também foi catastrófico, com duas derrotas contra o Brighton e outra contra o Marselha. A vitória sobre o AEK de Atenas na última jornada da fase de grupos apenas permitiu ao clube garantir o terceiro lugar, sinónimo de um lugar no play-off de acesso aos oitavos de final da Liga Europa.
Uma vitória fácil
Mas se o mês de dezembro foi um sinal de esperança, o fracasso frente ao Hercules veio pôr em evidência as muitas tarefas que o gigante neerlandês ainda tem pela frente. E o desejo de mudança também foi expresso na imprensa.
"Já é altura de o Ajax fazer uma nova limpeza", aconselha o editorialista Mike Verweij no diário De Telegraaf.
"É angustiante ver como pessoas com tão poucos conhecimentos de futebol destruíram o ADN" do clube, acrescenta, considerando que toda a crise tem origem nas saídas do antigo diretor desportivo Marc Overmars - despedido em fevereiro de 2022 por ter enviado mensagens de alegado teor sexual a funcionárias do clube - e do treinador Erik ten Hag, que partiu para o Manchester United no verão de 2022.
Outros especialistas consideram que esta espiral descendente é o resultado de uma série de mercados falhados.
Tradicionalmente ,o Ajax tem vendido os seus melhores talentos por muito dinheiro, mas os substitutos não têm estado à altura da tarefa.
No ano passado, o clube vendeu a estrela argentina Lisandro Martinez e o extremo Antony ao Manchester United. E nenhum dos jogadores que fizeram parte do último grande triunfo do Ajax - chegar às meias-finais da Liga dos Campeões em 2019 - ainda está no clube.
Nos bastidores, a série de contratempos também levou a uma série de saídas. O treinador Maurice Steijn foi demitido em outubro, pagando o preço de uma quarta derrota em sete jogos do campeonato.
O poderoso diretor técnico Sven Mislintat, que esteve na origem de várias transferências recentes, também foi demitido em setembro. Além disso, está a ser alvo de uma investigação sobre um potencial conflito de interesses.
Para o Ajax, o ano está a chegar ao fim.