Gonçalo Gregório: "Tenho capacidade para fazer golos em todo o lado"

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Gonçalo Gregório: "Tenho capacidade para fazer golos em todo o lado"
Gonçalo Gregório em ação com as cores do Dínamo Bucareste
Gonçalo Gregório em ação com as cores do Dínamo BucaresteAFP
Após dois anos na UD Leiria e mais uma subida de divisão para o currículo, Gonçalo Gregório decidiu voltar fazer as malas para ir em busca do desejo de jogar numa primeira liga. O Dinamo Bucareste abriu-lhe a porta e o avançado mostra-se grato pela oportunidade ao histórico emblema romeno, como deu conta nesta entrevista exclusiva ao Flashscore.

"A nível de adeptos, o Dinamo assemelha-se ao Benfica"

- Como têm sido os primeiros meses em Bucareste e no campeonato romeno?

- Sinto-me bem. Estou num bom momento de forma e adaptei-me muito bem ao país, colegas e campeonato, portanto tem sido tudo muito bom. O país é relativamente parecido e a língua também tem muitas semelhanças com o português.

Gonçalo Gregório mudou-se no último verão para Bucareste
Gonçalo Gregório mudou-se no último verão para BucaresteAFP/Opta by Stats Perform

- Foi ao encontro do que esperava? Falou com alguém antes de ir para a Roménia?

- Por acaso, não falei com ninguém sobre o campeonato antes de vir. Estava à espera de encontrar um campeonato competitivo e quando cheguei foi isso que me foi transmitido pelos meus companheiros de equipa. É um campeonato um pouco diferente do português. O português é mais tático, e aqui aposta-se mais nas transições e o jogo parte mais facilmente. O campeonato é competitivo, tem boas equipas e os adeptos são muito fervorosos, do primeiro ao último minuto. Também é um campeonato difícil e que dá visibilidade para outras ligas.

- Como surgiu a oportunidade? Estava no pensamento regressar ao estrangeiro?

- A ideia era vir para o estrangeiro. O jogador português é muito valorizado no estrangeiro, e conseguem perceber que é um jogador bastante inteligente e evoluído técnica e taticamente. Foi um bom passo vir para cá. No final da época, tive várias propostas, mas vir para uma primeira liga competitiva seria um bom passo antes de dar outro. O diretor do Dinamo falou diretamente comigo e explicou quais eram as ideias do clube e as perspetivas. Gostei dessa conversa. Também gostei do facto de ser um clube muito grande, com muitos títulos e com mais adeptos. 

Os números de Gonçalo Gregório
Os números de Gonçalo GregórioFlashscore

- Para quem não conhece essa realidade, apresente-nos o Dinamo.

- Em termos de clube, assemelha-se a um dos três grandes em Portugal. Em termos de adeptos assemelha-se ao Benfica, porque é o que tem mais adeptos em Portugal e o Dinamo é um bocado assim. É um clube que tem uma estrutura boa. Há dois/três anos deu um grande tombo e quase faliu, mas está a ser reestruturado e não nos falta nada. Estão a fazer um trabalho muito bom em termos de contratações e infraestruturas e a dar bons passos para ter o antigo Dinamo bastante forte e consolidado no futuro.

- O Gonçalo marca o seu primeiro golo no dérbi (frente ao FCSB). Como foi viver um jogo dessa dimensão?

- Bastante bom. Sentimos uma aura diferente logo nessa semana. Existe uma grande rivalidade entre os dois clubes e é muito bom viver algo assim. Foi uma experiência muito gratificante e fiquei muito feliz por marcar, apesar de não termos conseguido vencer.

Gonçalo Gregório veste as cores do histórico Dinamo Bucareste
Gonçalo Gregório veste as cores do histórico Dinamo BucaresteArquivo Pessoal

"Acredito que o Dinamo pode voltar aos momentos de glória"

- Como tem sido a integração na equipa?

- Boa. Conheci algumas pessoas parecidas comigo. Consigo falar a minha língua com alguns, mas também já dou alguns toques no romeno. Relativamente ao futebol, depende das ideias do treinador. Ao início era um, agora entrou outro, mas foi fácil adaptar-me aos dois. Agora jogamos mais num 3-4-3, um pouco semelhante ao sistema do Rúben Amorim (treinador do Sporting), e joguei durante muito tempo nesse sistema.

- O que espera que esta oportunidade lhe dê?

- Procuro manter-me nas primeiras ligas e não está fora de pensamento continuar no Dinamo. Acabo contrato e não sei o que se vai passar, mas tenho tido um bom desenvolvimento, com bons números e espero crescer como jogador e em termos de projetos desportivos.

- Estes nove meses já mudaram algo em si?

- O futebol é constante mudança e adaptação a treinador e liga. Mas diria o jogo em profundidade e o jogo dentro de área. Sinto que estou mais forte nesses capítulos.

Os próximos jogos do Dinamo Bucareste
Os próximos jogos do Dinamo BucaresteFlashscore

- Como tem aproveitado a vida em Bucareste?

- Vivo num condomínio bastante novo e com tudo disponível aqui dentro, que nos facilita a vida. Bucareste é uma cidade bonita, mas muito complicada por causa do trânsito. No plano geral, adaptei-me muito bem à cultura. O futebol também nos dá essa facilidade para nos adaptarmos a novos contextos.

- A ideia que temos é de que os adeptos são muito fervorosos. Sentiu isso?

- Já aconteceram algumas coisas. Já tivemos os adeptos a apoiar no nosso centro de treinos e num dos dérbis, frente ao Rapid, em que estavam 30/35 mil pessoas, mandaram objetos pirotécnicos para o relvado e um deles caiu a um metro de mim e queimou-me um bocado as pernas. O jogo foi logo interrompido e assustou-me um bocado. Mas agora é algo engraçado para contar.

- Acredita que o clube pode voltar aos momentos de glória?

- Acredito que sim. O clube tem um projeto de novo estádio e as coisas estão a ser bem feitas. Há dinheiro e isso é importante para poderem renovar as infraestruturas, para poderem investir na formação e buscar qualidade fora e localmente.

Gonçalo Gregório veste a camisola 7 do Dinamo Bucareste
Gonçalo Gregório veste a camisola 7 do Dinamo BucaresteArquivo Pessoal

"Aprendi a aceitar o que me chega"

- O Gonçalo tem o seu nome bastante consolidado nas divisões secundárias em Portugal. Sabe bem receber esta valorização do Dinamo?

- Claro que sim. Na minha cabeça e na das pessoas com quem vim a trabalhar ao longo dos anos, sempre me disseram que tinha qualidade para os patamares superiores do futebol português e não só. Mas é preciso oportunidade e ter espaço e tempo para poder mostrar. Aqui estou a ter a oportunidade e era isso que procurava. Estou a provar não só a mim, mas a toda a gente que acreditava em mim que eu tenho capacidade para fazer golos em todo o lado.

- Sente que foi vítima do próprio sucesso? Ou seja, que ficou com o rótulo de jogador de Campeonato de Portugal e Liga 3?

- Entendo isso, mas... O futebol em Portugal não é facil e muitos clubes da Liga 2 preferem pagar menos porque sabem que vai haver mais jogadores a querer essa oportunidade na Liga 2 do que na Liga 3. Quando saí da Polónia tive várias equipas da Liga 2 interessadas, mas rejeitei para ir para a Liga 3 porque acho que a UD Leiria estava a a apostar muito mais em mim e a investir muito mais. Preferi ir para lá porque sabia que era um clube que ia jogar para ganhar e lutar para subir.

A forma recente do Dinamo Bucareste
A forma recente do Dinamo BucaresteFlashscore

- ...

- Não costumo olhar muito para a Liga, se vejo que é um projeto interessante a todos os niveís, eu quero ir independemente da Liga. Mas concordo com a visão, se marcasse menos golos nesses campeonatos já tinha ido há muito mais tempo (para patamares superiores). Com 20 anos, fiz 14 golos nesse campeonato e qualquer jogador hoje com 20-21 anos, de certeza que vai para um projeto muito bom numa Liga ou Liga 2.

- Criou algum tipo de mágoa e/ou incompreensão por não aparecer essa oportunidade?

- Talvez alguma incompreensão nos primeiros anos, sem perceber o que se estava a passar, mas evoluí a nível intelectual e percebi que as coisas acontecem quando têm de acontecer. Aprendi a aceitar o que me chega. Se podia ser antes podia, mas se não aconteceu é porque não era para acontecer assim. Acabei por ficar tranquilo.

"Gostava de experimentar o mercado asiático"

- Aos 28 anos, quais são os seus desejos? Ainda sonha com a Liga portuguesa?

- O meu pensamento, desde o final do ano passado, não está muito em Portugal. Não fecho as portas, claro. Se houver um clube da Liga interressado em mim vou ouvir, como de todo o mundo, mas, sinceramente, não olho muito para o país. A carreira de futebolista é muito curta e eu vou olhar para o que for melhor para mim em termos desportivos, financeiros e familiares. Não quero saber se jogo na primeira de Portugal, Inglaterra, Roménia ou China, desde que o projeto seja ambicioso, sério e organizado.

- Algum desejo particular?

- Não gosto muito de especificar, até porque ainda tenho contrato com o Dinamo e devo-lhes respeito. Estou muito feliz e grato pelo investimento que o Dinamo tem feito em mim como pessoa e jogador. A renovação de contrato ainda pode acontecer.

- ...

- Mas não escondo que um mercado que eu gostaria de experimentar é o mercado asiático, porque gosto bastante da cultura desses países.

Gonçalo Gregório tem contrato com o Dinamo até ao final da presente temporada
Gonçalo Gregório tem contrato com o Dinamo até ao final da presente temporadaAFP

- O Gonçalo tem uma ligação a Angola. Há possibilidade de representar a seleção angolana?

- Gosto bastante de Angola. Cresci com algumas tradições angolanas, nomeadamente gastronómicas, pois o meu pai e a minha avó nasceram em Angola. Houve interesse para que eu representasse Angola quando tinha 23/24 anos, eu mostrei disponibilidade e fiz bastantes coisas em termos de documentação, mas agora não está nas minhas mãos. Os papéis ainda não estão prontos e não sei como está isso.

- Mas gostava?

- Sim, sem dúvida.

- Fazendo uma retrospetiva à sua carreira, o que o futebol lhe deu de bom?

- As relações que ficam entre os jogadores. O balneário é um local bastante bom para criar experiências e amizades para o futuro. Marcar golos é um sentimento inexplicável e também uma das melhores coisas que o futebol me deu. Diria também que o futebol nos obriga a crescer muito rápido e isso dá-nos bagagem forte e experiência para o futuro.

- E mau?

- As injustiças. É muito difícil ser jogador de futebol, porque menos de 1% consegue chegar a um bom patamar. É muito difícil e dá muitas frustrações para quem tem lesões e/ou não tem a oportunidade que acha que merecia. Também dependemos sempre de um treinador que acredita em nós e veja em nós potencial e qualidade para contribuir para a equipa. Outro ponto são as saudades e os momentos que perco em família em prol de um futuro e de uma carreira. Estou cá sozinho, perdi os anos da minha mãe, da minha cunhada, da minha namorada, do meu irmão e esses momentos são difíceis de gerir quando estamos sozinhos. No fundo, estou a perder os melhores anos da minha vida a jogar futebol e estou a perder os melhores anos da minha vida junto dos que mais gosto. Não é fácil.

- Ainda assim, a balança pende mais para o lado bom?

- Acho que sim. 

- O que os adeptos podem esperar da sua parte até ao final da época?

- Muito trabalho e que vou tentar agarrar cada oportunidade para marcar golo. É o meu ponto mais forte.

- O que espera que se diga de si no final da época?

- Que fui sempre um bom companheiro, honroso, respeitador e que acrescentou qualidade e golos à equipa.