Reportagem Flashscore: Racing Power, o clube que quer "deixar marca no futebol feminino"

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Reportagem Flashscore: Racing Power, o clube que quer "deixar marca no futebol feminino"
Racing Power em destaque no campeonato feminino português
Racing Power em destaque no campeonato feminino portuguêsRacing Power Football Club
O Racing Power é uma das grandes sensações da temporada 2023/24. O clube fundado em junho de 2020 foi da 3.ª divisão à Liga em pouco mais de três anos e tem feito um verdadeiro brilharete na época de estreia no principal escalão do futebol feminino português, ocupando o 3.º lugar, à frente do SC Braga, o último adversário até à final da Taça de Portugal.

"O sonho comanda a vida"

Há quem diga que sonhar é das coisas mais bonitas que existe na vida. E o futebol é um mundo repleto de sonhos. O Racing Power Football Club, atual 3.º classificado da Liga Feminina portuguesa, não é mais do que o resultado bonito de um deles. De Nuno (Painço), Ismael (Duarte) e Pedro (Sebastião), três amigos que descobriram uma oportunidade no meio de um problema.

A história é simples e leva-nos até ao final da temporada 2019/20. Perante a incerteza em relação ao futuro da equipa feminina do Paio Pires FC, onde jogavam as filhas dos três amigos (Beatriz, Beatriz e Mariana), eis que surge a ideia (o tal sonho) de criar um clube do zero, com ambições redobradas.

Mariana Duarte não esconde ambição do Racing Power
Mariana Duarte não esconde ambição do Racing PowerRacing Power FC/Opta by Stats Perform

"O Racing Power (RP) nasce um bocado por minha causa. O meu pai pensou em criar um clube de futebol para mim e para as filhas dos amigos. Foi no período em que começou a pandemia", recorda Mariana Duarte, atual diretora desportiva do RP e filha de Ismael, o principal investidor e CEO da empresa RPower Energy Drink, em conversa com o Flashscore.

Do sonho à realidade, o Racing Power Football Club nasce em junho de 2020 e o resto é história... que contamos agora.

Os primeiros desafios

Cumpridos e ultrapassados todos os pressupostos legais para o início da atividade, desde a fundação à constituição da direção, passou-se à execução de um projeto que prometia desde o início "não ser mais um" no panorama nacional. O Racing Power tinha (e tem) como principal objetivo deixar uma marca indelével no futebol feminino português e a caminhada de "sucesso" da 3.ª divisão à Liga Feminina dá conta disso mesmo.

O lado "perfecionista" fez com que Mariana Duarte deixasse os relvados para focar-se na licenciatura em Geografia, tendo regressado mais tarde com funções diretivas, "para ajudar" o pai no Racing Power, por sentir a necessidade da importância de "haver alguém que pudesse fazer a ponte entre as jogadoras e a direção" e sente-se hoje "tão realizada por ajudar as jogadoras" com o seu trabalho que as saudades de jogar já lá vão.

Racing Power ocupa atualmente a 3.ª posição da Liga Feminina
Racing Power ocupa atualmente a 3.ª posição da Liga FemininaFlashscore

Mas como em qualquer projeto que começa de raiz, nem tudo foi fácil no início. E o sucesso acabou mesmo por ser o maior amigo perante as primeiras dificuldades.

"O nosso presidente já tinha experiência em termos associativos, mas num projeto de raiz era tudo novo. Fomos obrigados a perceber junto dos nossos contactos como se faziam as coisas, desde a captação de atletas, a logística diária, a aluguer de veículos, a casas para atletas... Desde o primeiro dia que temos atletas profissionais e de outros países, portanto era necessário criar todas as condições para elas morarem em Portugal", recorda a diretora desportiva.

"Exigiu um esforço enorme em todas as áreas. A nossa estrutura é pequena, mas fomos evoluindo em termos de atletas, scouting e recursos humanos. Temos feito as coisas da melhor forma e tem sido muito bom", acrescenta.

E como o futebol não existe sem as artistas, importa fazer a questão: como se convencem atletas para um projeto de raiz?

"Foi um bocado complicado, sobretudo quando começamos na 3.ª divisão. Não é de todo apelativo dizer a uma jogadora estrangeira para vir para Portugal para um projeto novo e de 3.ª divisão. Tivemos de ir à procura de talentos, nomeadamente no estrangeiro, porque a jogadora portuguesa é rapidamente captada pelos denominados grandes. Os contactos que tínhamos desde o Paio Pires também nos ajudaram a chegar a outros mercados", explica.

Racing Power disputa os jogos na condição de visitado no estádio nacional do Jamor
Racing Power disputa os jogos na condição de visitado no estádio nacional do JamorRacing Power FC

Racing anda com a casa às costas

10 vitórias, dois empates, 54 golos marcados e três sofridos. Foi este o registo alcançado pelo Racing Power na época de estreia e que resultou na primeira subida de divisão. Objetivo: check.

A aposta no mister Nuno Cristóvão, antigo selecionador nacional e com 11 títulos no currículo, foi um sinal inequívoco da força e vontade do clube da margem sul do rio Tejo em subir mais um degrau logo na segunda época, mas uma reta final com alguns percalços impediu a segunda subida consecutiva.

"O meu pai e o presidente talvez não concordem com esta visão, mas não estávamos preparados para subir e foi muito importante para nós vivermos aquele segundo ano na segunda divisão", defende Mariana Duarte ao Flashscore.

Com passagens por SC Braga, Benfica e Famalicão, João Marques foi a aposta do Racing Power no segundo ano na segunda divisão para subir à Liga e não desiludiu: 20 vitórias e dois empates em 22 jornadas e chegada às meias-finais da Taça de Portugal. Senhoras e senhores, abram as portas ao RP para a elite do futebol nacional.

Os últimos resultados do Racing Power
Os últimos resultados do Racing PowerFlashscore

O crescimento tem sido sustentado, mas ainda há passos importantes a serem dados. Sem infraestruturas próprias, as tais "dores de crescimento", o Racing Power tem andado com a casa às costas. Da Trafaria para o Seixal. Do Seixal para a Arrentela. E da Arrentela para o... Jamor.

"Não é fácil vir para o Jamor todos os dias e ter muitas vezes de trabalhar no autocarro, mas temos de adaptar-nos e agarrar-nos aos pontos positivos", reconhece a diretora desportiva antes de destapar um pouco o véu em relação à solução para dar a volta a este problema.

"Há uma data de situações a serem pensadas e projetos a serem desenvolvidos, mas temos de ir passo a passo. A nossa estrutura é pequena e temos de trabalhar ainda mais para conseguirmos chegar a todo o lado, sem descurar o presente. Temos o objetivo de ter o nosso centro de estágios e aí poderemos estar mais preparados para enfrentar os desafios diários. Estamos a avançar com uma Câmara Municipal que se mostrou disponível para acolher o Racing e posso avançar que já se fizeram levantamentos topográficos e as coisas estão a avançar. Mas há burocracias para tratar e não será do dia para a noite", assume.

Mariana Duarte, diretora desportiva do Racing Power
Mariana Duarte, diretora desportiva do Racing PowerRacing Power FC

"Já temos o respeito dos nossos pares"

A chegada às meias-finais da última edição da Taça de Portugal despertou ainda mais a curiosidade em torno do projeto do Racing Power e a expectativa era enorme para perceber como é que seria o comportamento do clube em ano de estreia na Liga Feminina. Se dúvidas houvesse, estão dissipadas

Após um arranque algo periclitante, fruto de alguma "inexperiência" perfeitamente natural e justificável dado o contexto e as circunstâncias, o Racing Power não demorou a acertar o passo e mostrou ser capaz de bater o pé aos "grandes" Benfica, Sporting e SC Braga. O atual 3.º lugar surpreende apenas os mais distraídos e, este domingo, joga ainda a presença inédita na final da Taça de Portugal, num duelo contra as Gverreiras do Minho.

"O clube teve um crescimento bastante rápido, sobretudo este ano, e admito que não estávamos preparados para tanto. Mas as coisas acontecem e temos de adaptar-nos à realidade. Temos feito o nosso percurso, o nosso pensamento é jogo a jogo. Agora temos mais 90 minutos na Taça e no mundo do futebol nada é fácil", reconhece Mariana Duarte ao Flashscore.

Os próximos jogos do Racing Power
Os próximos jogos do Racing PowerFlashscore

"Penso que já temos o respeito dos nossos pares. No ano passado fizemos um percurso bastante positivo, mas não éramos vistos como uma equipa que pudesse andar no topo. Penso que as mentalidades já mudaram um bocadinho este ano. Percebe-se que têm respeito pela nossa equipa e isso é gratificante, pois é o resultado do nosso trabalho", destaca.

Os primeiros anos são sintomáticos da aposta clara do Racing Power em surpreender e fazer história no futebol feminino nacional. Mas como será o futuro?

"A lógica do Racing Power é melhorar ano após ano, seja a nível de atletas, como também ao nível de condições e resultados. Ambicionamos muito a Liga Feminina, mas não era para ficar a lutar pela manutenção ou meio da tabela. O Racing não é um clube que não enfrenta qualquer desafio que não seja para ganhar, seja contra que equipa for. Esta é a nossa raça e ambição", explica a dirigente do emblema da margem sul do rio Tejo.

"Sabemos que não temos as armas dos outros clubes, é bastante difícil, pois somos um clube pequenino com poucos anos de existência, mas procuramos chegar sempre a pontos-chave. Queremos andar taco a taco com os grandes", complementa.

Racing Power conta com cerca de quatro anos de existência
Racing Power conta com cerca de quatro anos de existênciaRacing Power FC

Próximo objetivo: título!

A ambição anda de mãos dadas com o projeto do Racing Power e sente-se no orgulho que chega entrelaçado nas palavras para recordar o caminho trilhado até ao topo. Mas não é suficiente. A exigência diária obriga a lutar por mais e mais e a luta pelo título não é colocada de parte para um futuro próximo.

"Não é descabido pensar nisso, não. Não digo que seja no próximo ano ou no a seguir, mas temos essa ambição. Sempre com os pés bem assentes na terra. Estamos cá para enfrentar todos os desafios. O sonho e a ambição de atingir determinada realidade é o que nos move. Nós queremos deixar a nossa marca no futebol feminino", garante Mariana Duarte.

A olhar para o futuro, o Racing Power tem feito também uma aposta muito interessante na formação, através da aposta nos escalões sub-15, sub-17 e sub-19, onde existe um processo de recrutamento semelhante ao da equipa principal: "A lógica é formar a ganhar. Queremos ser bons e queremos ganhar títulos".

Formação do Racing Power começa a dar frutos
Formação do Racing Power começa a dar frutosRacing Power FC

Mariana Duarte destaca ainda a "evolução bastante positiva" do futebol feminino português, mas lembra que há ainda um longo caminho a percorrer e aponta para um fator determinante: "profissionalização". No entender da diretora desportiva do Racing, "a FPF já começou a tomar algumas medidas e a profissionalização deveria ser o próximo passo", de forma a aumentar a competitividade interna e externa.

O Racing Power tem o desígnio de ser o exemplo do que deve ser esse tal caminho da profissionalização e tem os seus valores muito bem identificados, que passam pelos funcionários da limpeza e motorista ao presidente: "honestidade", "lealdade", "compromisso" e "profissionalismo". São estes os pilares que permitem tornar este sonho bem real.

Mariana Campino "surpreendida" com o Racing Power

Mariana Campino começou a jogar futebol aos seis anos. Andava no basquetebol, mas a influência do irmão mais velho levou-a até a um desporto que assim que experimentou não mais deixou. Tornou-se profissional aos 19 anos, através do primeiro contrato mais a sério com o Famalicão, e foi apenas nessa altura que começou a fazer contas à vida.

"Eu jogava porque adorava e adoro a modalidade, mas nunca pensei fazer disto vida. Estou muito grata (ao Famalicão) por terem apostado em mim e sinto-me uma privilegiada", confessa a lateral, em conversa com o Flashscore, pouco antes de juntar-se ao grupo de João Marques para mais um treino no campo número 3 do Jamor.

Foi, aliás, o mister João Marques, com quem se tinha cruzado em Vila Nova de Famalicão, que teve um papel preponderante na hora de deixar a zona de conforto para rumar até sul e vestir as cores do Racing Power. A última época tinha ficado marcada por uma lesão grave que a deixou afastada da competição e a porta abriu quando menos esperava.

Mariana Campino abraçou novo desafio no arranque da temporada 2023/24
Mariana Campino abraçou novo desafio no arranque da temporada 2023/24Racing Power FC/Opta by Stats Perform

"É preciso muita confiança para apostar numa jogadora que esteve desaparecida durante um ano. Estou muito agradecida ao mister e ao Racing Power", introduz a camisola 23.

"Apesar de o Racing ter poucos anos de existência, eu percebi rapidamente que todos aqui tinham uma paixão muito grande pelo futebol feminino. O mister também só abraça grandes projetos e não estaria aqui em vão. Depois a aposta que existe na formação também despertou em mim boas sensações. Posso dizer que superou as minhas expectativas e estou muito contente com a decisão que tomei", sustenta.

Apesar de reconhecer que o facto de o clube andar com a "casa às costas" tem as suas desvantagens, Mariana Campino prefere olhar para o lado positivo: "Somos umas privilegiadas. O estádio do Jamor é mítico e é ótimo poder fazer dele a nossa casa. Claro que esta condição exige algumas mudanças naturais, mas não olho para isto como algo negativo".

Mariana Campino em representação do Racing Power
Mariana Campino em representação do Racing PowerArnaldo Amador/Racing Power FC

"O grupo uniu-se e está mais forte do que nunca"

Aos 22 anos, a lateral vive dias felizes. Recuperou a alegria de jogar e encontrou no Racing um clube de ambição ilimitada. Mas, afinal, o que explica o sucesso?

"Tal como a direção, nós também somos apaixonadas por este desporto. Em termos de técnica e de qualidade, podemos não ser a melhor equipa, mas tenho a certeza que somos em termos de grupo de trabalho. Tivemos um início difícil, mas o grupo uniu-se e está mais forte do que nunca", defende.

"O Racing está a fazer uma aposta enorme no futebol feminino e acho isso ótimo. Agora é preciso mais clubes seguirem o exemplo. Tem sido feito um esforço enorme por parte da direção e dos investidores e, se continuar assim, o futuro vai continuar a sorrir", remata.

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Reportagem de Rodrigo Coimbra
Reportagem de Rodrigo CoimbraFlashscore